Dólar

Sidnei Nehme: Otimismo retomado após reunião do Fed, mas postura precavida deve se intensificar

01 fev 2018, 12:36 - atualizado em 01 fev 2018, 12:36

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

Sinais do FED, mantendo a taxa de juros, mas sinalizando que agora são altamente suscetíveis de aumentar as taxas de juros em março, dão um fôlego ao mercado global, onde a liquidez ainda é considerável, mas de toda forma acentua mais a necessidade de observar como as pedras se mexerão no tabuleiro dos fluxos de capitais pois podem se tornar mutantes.

Há expectativas novas sobre os Estados Unidos, sua economia que está aquecida e as novas normas tributárias amplamente atrativas ao incremento de investimentos no país, bem como retorno de capitais locados no exterior, e, isto naturalmente impactando, principalmente, sobre os mercados dos países emergentes.

Janeiro, segundo o IIF Instituto de Finanças Internacionais registrou fluxo recorde de capitais para os emergentes, alcançando a máxima em 7 meses, algo em torno de US$ 30,0 Bi, sendo US$ 16,5 Bi em dívida de mercados emergentes e US$ 13,5 Bi em ações emergentes.

Foi observado forte demanda de “carry tradies” em dólares, dando suporte aos fluxos de portfólio de mercados emergentes que continuam a se mostrar atraentes e suportados pela ainda abundante liquidez global.

De toda forma, há muita expectativa sobre um eventual perfil destes fluxos que podem mudar de rota, ainda que não totalmente, mas impactando nos mercados emergentes de países que tenham cenários que recomendem maior cautela face aos riscos e incertezas presentes.

No Brasil o otimismo retornou após a euforia imediata e exacerbada alavancada pela condenação do ex-Presidente Lula, e a subsequente ressaca de dois dias, mas há um enorme conjunto de incertezas quer no campo político, onde se espera acirramento e se tem muita expectativa a respeito dos posicionamentos do STF, e no econômico com ênfase ao fiscal, já que continuam pairando muitas dúvidas e incertezas quanto aos efetivos apoios às reformas, se bem que o próprio governo já “jogou a toalha” para alguns pontos relevantes de impacto nos seus gastos.

O Presidente Temer tem demonstrado enorme empenho pró reforma previdenciária, indo a lugares até inusitados para um Presidente, sendo meritório este empenho, que, contudo, já deixa bastante evidente que no contexto dos movimentos há um objetivo marginal de melhora de imagem e até uma certa campanha, pois cada vez mais fica evidente que tem pretensões de ser candidato à reeleição à Presidência, fato que já é abertamente admitido por seus pares mais próximos.

A crise fiscal é um grande ponto de interrogação que impacta de forma binária nas expectativas, quem acredita que será superada vê um cenário prospectivo para o ano muito bom, contudo quem comunga visão contrária vê o cenário bastante conturbado e com o país sob risco de forte reversão nas expectativas e risco de receber novos “downgrade” das agências de rating.

O contexto político, embora considere remotíssima ou amplamente improvável, eventual candidatura do ex-Presidente Lula, deve sofrer contundentes perturbações que criarão forte tensão no clima político sucessório da Presidência, ainda mais quando se observa expressiva carência de candidatos que possam ser considerados potenciais e que passem convicção de que podem conduzir o país à efetiva rota de recu-peração de forma sustentável.

Então o Brasil continua agravando duvidas, incertezas e riscos que impedem que se consolidem perspectivas seguras quanto ao seu desempenho neste ano de 2018.

A indústria nacional, puxada pelos setores: automobilístico, informática e metalurgia, cresceu 2,5% em 2017, com 2,8% no último trimestre, ainda pouco para recuperar o retrocesso ocorrido entre 2014 a 2016 da ordem de 16,7%. A capacidade ociosa ainda permanece elevada e já sinaliza que inicia 2018 em ritmo menos acentuado, com o PMI do índice Markit evidenciando recuo de 52,4 pontos para 51,6 pontos.

Ainda há muita insustentabilidade sobre as projeções para o ano e afora todo o contexto interno que acarreta desconfortos, não se pode perder de vista os movimentos no mercado internacional que podem afetar os países emergentes, em especial o Brasil.

Nossa visão continua sinalizando a necessidade absoluta de sensatez e precaução, consubstanciada num rigor maior de observação sobre a efetiva trajetória e seus obstáculos e riscos ao longo de 2018.

Entendemos que o otimismo é uma postura motivacional, mas o racional sugere postura mais equânime com a efetiva realidade do país, pois uma reversão de expectativas, absolutamente possível, pode impor correções abruptas no mercado acionário e de moeda estrangeira.

Os estrangeiros que vem alavancando os preços da Bovespa, numa economia que ainda não tem dados consistentes de efetiva recuperação, certamente, por serem especuladores e os recursos oriundos de operações de “carry trade”, não hesitarão em realizar um “selloff” se decidirem mudar de ares, e com isto a Bovespa pode “derreter” e o preço do dólar, a despeito de todo empenho do BC, ser aviltado.

O momento requer sintonia mais apurada com o todo que rodeia o contexto interno brasileiro e as mudanças em curso no cenário internacional.

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