Opinião

Sidnei Nehme: Otimismo no Brasil tem travas

01 fev 2019, 19:39 - atualizado em 01 fev 2019, 19:39

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

A nova postura do FED americano seguramente será comemorada pelo Presidente Trump como uma vitória do seu embate direto com Jerome Powell, mas, mais do que isto dá uma forte injeção de ânimo ao mercado acionário americano no curto prazo, deprime o interesse pelos T-Bonds e dá alento quanto a liquidez quando se reporta ao balanço de títulos do FED mencionando ajuste no ritmo de redução.

No contraponto no médio prazo deixa um alerta de preocupação quanto ao comportamento da economia americana, que precisará ser observado para que não haja reversão de expectativas, pois a perspectiva atual é de crescimento mais modesto.

Inegavelmente ficou a percepção de que o viés de alta da taxa de juro americano está contido, surgindo agora, ainda que discretamente, até a possibilidade que venha a ser reduzida face ao próprio “status quo” da economia americana e do quadro de relativa intranquilidade no contexto global.

A decisão do FED, a priori, intensifica as perspectivas favoráveis para os países emergentes, porém, na questão do Brasil em que há perspectivas intensamente otimistas pode não ser bem assim, pois existem travas oriundas das incertezas que cercam as necessidades imediatas de reformas por parte do novo governo para equacionar a questão da crise fiscal, para as quais não se vislumbra, de imediato, quanto tempo demandará para que avanços se consolidem e se tornem efetivos.

O contexto Brasil é de otimismo, mas o que se tem visto de parte dos investidores estrangeiros é que estão reticentes em direcionar seus investimentos para o nosso país, num sinal claro que desejam ver a materialização das imprescindíveis reformas, passo inicial e mais contundente para equacionamento da crise fiscal. Afinal, a economia real permanece frágil.

Há então um “prêmio de risco” Brasil que pesa em tudo que se avalia sobre fluxos de investimentos e preços de ativos, com ênfase ao preço do dólar, pois não se tem a menor convicção de como serão propostas as reformas e quanto tempo demandarão os embates e debates em torno das mesmas e a viabilidade de suas aprovações dentro dos padrões desejados pelo governo ou não.

Este assunto é a linha de corte para a viabilização ou não dos planos do novo governo, e, portanto, é um aspecto da mais alta relevância.

É preciso considerar aspectos relevantes que podem postergar arrastando as aprovações e suas abrangências. Naturalmente, o corporativismo terá participação intensa se opondo às mudanças, não se descartando oposições puramente ideológicas de forte intensidade, e se desconhece o grau de resistência dos integrantes do novo Congresso Nacional, parcialmente renovado.

Não é algo pequeno e inexpressivo, diríamos mesmo que é fundamental para que todas as tendências que surjam possam se consolidar ou não.

Então, numa visão mais cética, nem tudo que é bom para o mercado americano e para alguns emergentes pode ser rigorosamente acreditado que terá repercussão em linha para o Brasil.

Movimentos exacerbados neste momento podem levar a negligenciar a avaliação dos entraves que possam surgir para que o país avance, podendo ocasionar desapontamentos futuros.

Será extremamente relevante se observar o comportamento do investidor estrangeiro em relação ao Brasil neste momento, que será o melhor sensor para a percepção se estão dispostos a assumir os riscos aqui presentes ou não.

É preciso considerar que o Brasil já não é mais a “estrela da companhia”, sendo Peru, Colômbia, Chile e alguns outros emergentes concorrentes fortes no direcionamento dos investidores estrangeiros. Sem perder de vista que o próprio mercado acionário americano pode absorver grande soma de recursos, visto que muitos analistas consideram que os preços lá estão baixos.

Se não ocorrer fluxo de investidores estrangeiros, o que será um sinal de precaução em relação ao risco Brasil, a Bovespa não sustentará alta e o preço do dólar, que na faixa atual já é insustentável, retornará rápido para o patamar de R$ 3,75/R$3,77.

Este contexto de incertezas sobre assuntos fundamentais para o país “quebrar as amarras” não permite que se ignore o prêmio de risco Brasil presente, que repercute as incertezas sobre o futuro imediato.

Como temos salientado, o Brasil tem uma situação cambial absolutamente tranquila, com suas contas externas organizadas e o déficit em transações correntes confortável, mas neste início do ano sofre uma retração no fluxo cambial que podemos considerar inesperada e assim os bancos autorizados a operar em câmbio estão com posições vendidas no mercado a vista em torno de US$ 26,0 Bi e o fluxo está negativo neste mês de janeiro até o último dia 25.

A apreciação forte do real que se presencia frente ao dólar nos parece fora da curva, ainda não é o momento, não se pode desconsiderar a existência de prêmio de risco presente, o que nos parece incompatível com o grau de incertezas presentes.

Continuamos considerando que o nível de equilíbrio esteja entre R$ 3,75 a R$ 3,77, até que se reduzam as incertezas presentes, e depois, caso os resultados em torno das reformas e da crise fiscal sejam positivos, então poderá retroceder a parâmetro entre R$ 3,45 a R$ 3,55.

Os fundamentos do Brasil ainda não permitem movimentos consolidados como tendência, portanto podem ser reversivos. É importante se observar a consistência dos movimentos e seus volumes que estão formando os preços, pois podem estar “ocorrendo no vazio”, ou seja, só com giro e não com posicionamentos consistentes, ou seja, um pouco de especulação.

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