Sidnei Nehme: onda otimista no mercado brasileiro é adiada por novas incertezas
Estaria o mercado financeiro brasileiro aguardando uma sinalização mais consistente do capital estrangeiro em relação ao Brasil, após ter convivido com otimismo gerado em sua quase totalidade pela atuação quase solitária dos investidores nacionais,
Ao mesmo tempo em que o país convivia com a saída marcante dos investidores estrangeiros, que repercutiu sinalizando um fluxo cambial negativo financeiro da ordem de US$ 62,244 bilhões.
Enquanto o país convivia com a fuga dos capitais especulativos face à expressiva queda do juro, fato que retirou a atratividade do país como “oásis do capital especulativo internacional” forjado a partir de operações de “carry trade”,.
Ao mesmo tempo reagia positivamente com a mutação do perfil do investidor nacional que migrava da renda fixa para a renda variável fomentando movimentos antecipatórios a fluxos que ainda não haviam se materializados, mas sim na convicção de que as perspectivas favoráveis para o país eram sólidas e que a atratividade ao capital estrangeiro seria retomada logo ao início de 2020.
Com isto a Bovespa repercutiu de forma considerável com valorização e o dólar que fora objeto de especulação face à queda do fluxo cambial, ofuscando a realidade de que o país tem situação cambial absolutamente tranquila, por fim ao término do ano de 2019 recuava após altas exuberantes ao em torno de R$ 4,01 com um perceptível viés de baixa.
O que tinha sido marginalmente considerado fato perturbador para o país e toda economia mundial que era o embate China-Estados Unidos, dava sinais ao final do ano de abrandamento e sinalizava avanços iniciais de acordo.
A atividade econômica e perspectivas de um crescimento sustentável do PIB em 2020 da ordem de 2,5%, e havia a percepção de sensível melhora da gestão da questão fiscal do país.
Ocorre que, o “affair” altamente estressante entre Irã e Estados Unidos colocou o mundo em alerta, e isto conduz investidores a postura defensiva, e isto pode estar criando incertezas quanto às perspectivas extremamente positivas para o Brasil.
Além disto, ”players” do mercado ainda posicionados no mercado de derivativos envolvendo câmbio futuro se valem deste momento e “requentam” como fatos novos fatos que haviam sido percebidos.
A queda da produção industrial de 1,2% na relação novembro/outubro ou mesmo quando resulta mais negativo quando confrontado com 2018 não deveria ser recebido como um fato “novo” negativo, visto que a nossa balança comercial já havia apontado a significativa queda das exportações de veículos automotivos, que puxa a fila do recuo, dado o problema argentino e ao fato do mercado externo para este importante item ser muito limitado.
Acreditamos que estes posicionamentos defensivos dos investidores estrangeiros tendam a ser amenizados no curto/médio prazo e, portanto, o otimismo em perspectiva sobre o Brasil seja retomado.
O comportamento da Bovespa e do próprio preço do dólar com discreta volatilidade deixa evidente que não há tendência sustentável, mas tão somente postura defensiva momentânea, que pode ser revertida no curto prazo.
As perspectivas para o Brasil neste ano de 2020 continuam alvissareiras, a despeito do surgimento de incertezas momentâneas que devem ter peso bem menor do que está sendo dado.
Por Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO Associados Corretora de Câmbio