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Sidnei Nehme: O momento de inflexão da economia chegou?

29 maio 2019, 9:43 - atualizado em 29 maio 2019, 9:43
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O único dado projetado crível e perceptível é a inércia continua da atividade econômica que vem sugerindo, semana após semana, projeção menor para o PIB deste ano (Imagem: Marcello Casal Jr/ Agência Brasil)

O mercado financeiro brasileiro convive, desde o início do ano, sem ter consistentes fundamentos críveis para sustentar tendência dos preços e indicadores de seus ativos, já que houve um afastamento severo de um ambiente em que se possa ter visão prospectiva a respeito da retomada da atividade econômica, convivendo com perspectiva binária atrelada às incertezas advindas do embate político, fomentado por ações corporativas e ideológicas e absolutamente neutralizantes às propostas do novo Governo, com destaque para a Reforma da Previdência, cujo foco imediato é amenizar a grave crise fiscal do país.

Cortar a Selic é o que resta agora

O único dado projetado crível e perceptível é a inércia continua da atividade econômica que vem sugerindo, semana após semana, projeção menor para o PIB deste ano, reduzindo-o a metade do previsto ao início do ano.

A rigor, nesta fase de transição da Reforma da Previdência, o mais sensato seria Bovespa, dólar e juro manter preços e indicadores mais equânimes com um ambiente de observação já que as perspectivas eram binárias, mas com certo viés de que, ainda que desidratada, a Reforma será aprovada.

O Brasil perdeu um tempo que não poderia perder, tendo em vista que necessita avanço imediato da atividade econômica, com incremento dos investimentos públicos e privados, geração de emprego, renda e consumo, e, melhoria significativa da arrecadação tributária.

Com a redução sistêmica da projeção do PIB, naturalmente ocorreu a perspectiva de redução de arrecadação agravando a crise fiscal e impondo ao Governo contingenciamentos contínuos em suas verbas orçamentárias, o que ajuda mais a desaceleração.

Passados cinco meses de discussões nefastas, onde ficou destacada a falta de articulação política por parte do governo num ambiente bastante conflituoso com o Congresso Nacional oriundo de embates ideológicos revanchistas e oposições corporativistas, que conduziram a consideração menor e perda de foco no assunto que é o mais relevante para o país buscar reequilibrar-se e assumir um direcionamento mais profícuo de retomada do crescimento.

O embate político dá sinais de certo esgotamento em sua dimensão, o que insinua tender a permitir avanço da tramitação da Reforma da Previdência.

Este fato em si permite que se aliviem as tensões em torno das perspectivas para a economia brasileira e para o país como um todo, e, ainda que com cautela já possibilite a redução da carga tensional até agora prevalecente e comece a se vislumbrar um horizonte melhor para os sete meses restantes do ano, o que até agora não foi possível em razão da prevalência total do embate político sobre perspectivas para a economia.

Temos ao longo destes cinco meses exposto o nosso entendimento de que o nosso país esteja dependente nesta fase de si mesmo, colocando por inúmeras vezes o chavão de que “o problema do Brasil é o próprio Brasil”, minimizando fortemente influências de eventos que vêm ocorrendo marginalmente no contexto global, do qual tivemos afastado o nosso protagonismo dado a nossa fragilização econômica e fiscal, fonte de consistentes incertezas.

Por assim entender, temos a firme percepção de que a partir de junho teremos a inflexão do ambiente de desalento para a retomada gradual, mas consistente, de perspectivas favoráveis e que prognostiquem retomada a atividade econômica, marcando a reversão do “status quo” prevalecente até maio.

Já há sinais, ainda que vistos com relativa cautela, de retomada da recuperação do emprego com os mais recentes números conhecidos, o que sugere concomitante recuperação da renda e do consumo, o que poderá determinar melhora da arrecadação do governo, e até atenuar as projeções de queda do PIB, motivando também os investimentos.

Nesta virada deverá ocorrer o realinhamento gradual do comportamento com tendência firme da Bovespa, que poderá começar a atrair os investidores estrangeiros que se mantiveram retraídos desde o início do ano.

O fluxo cambial deverá melhorar, mas não será o fator relevante para o realinhamento à realidade do preço do dólar no nosso mercado que ocorrerá pelo “desarme” do foco especulativo implantado no mercado futuro de dólar, com predominância dos estrangeiros apostando no caos do país.

Como temos exaustivamente destacado, não houve e não há qualquer fundamento sustentável para ancorar o movimento especulativo que afastou o preço da moeda americana do seu ponto de equilíbrio em torno de R$ 3,75/3,80 para R$ 4,20, já que o segmento cambial é o único setor em que o país não tem nenhum problema, fato que o diferencia dos demais emergentes.

Embora tenha sido propagado que o fator propulsor da taxa cambial pudesse até ter influencias externas do embate comercial sino-americano, Brexit, União Européia, etc… tudo isto claramente se prestou a “pano de fundo” para evitar afirmar que o país estava tendo um movimento especulativo infundado na formação do preço da moeda americana, a partir do mercado futuro de dólar, já que não houve nenhuma percepção de intensificação de demanda no mercado de câmbio à vista.

Bom que o BC mantivesse a serenidade e a percepção do que ocorria efetivamente, razão pela qual manteve postura firma de “observar sem agir”, e manter sua rotina de rolagens de contratos de swaps e linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra vincendas no período, sem agregar qualquer incremento nas ofertas.

Desta forma, por insustentável e sem fundamentos o movimento especulativo tende a ir sendo desmontado e o preço da moeda americana retomar, ainda que não sem alguma resistência dos especuladores, patamares mais próximos das projeções de preço para o final do ano que circundam o R$ 3,80.

Evidentemente houve muito ruído e até crença de alguns setores de que o dólar pudesse atingir R$ 4,50 ou até mesmo, R$ 5,00, mas isto faz parte da baixa percepção ou desconhecimento dos dados das nossas contas externas absolutamente sólidas e conhecimento das estratégias que o BC dispõe operacionalmente para prover a liquidez, tanto do mercado futuro quanto a vista, sem precisar dispor, no primeiro momento, de efetivo dispêndio das reservas cambiais.

Tudo nos leva a crer que é chegado o momento da inflexão e retomada gradual do otimismo!

Então, será possível, doravante, se voltar a abordar com maior intensidade perspectivas econômicas para o Brasil, com comportamento prospectivo de Bovespa, juros e câmbio, o que praticamente ficou fora do contexto ao longo destes cinco meses de forma sustentável e fundamentada.

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