Dólar

Sidnei Nehme: Nada de estranho no fato do BC não estar intervindo no câmbio há uma semana!

05 jul 2018, 7:32 - atualizado em 05 jul 2018, 7:26

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

Causa estranheza que alguns setores do mercado financeiro venham manifestando surpresa com a ausência de intervenções do Banco Central do Brasil no mercado de câmbio há uma semana.

É preciso entender que a intervenção deve ocorrer quando há motivos para tanto e que sejam alcançáveis com resultados pela intervenção da autoridade monetária e suas formas, caso contrário em nada resultará de efetivo, sendo mesmo desgastante, pois ocorrerá, sem dúvida, uma insensibilidade da tendência presente imune às ações da autoridade monetária com oferta de swaps cambiais e/ou oferta de linhas.

Nem tudo se resolve com oferta de proteção ou oferta de liquidez, o câmbio é sensível a muitos fatores.

Após um grande equívoco com uma intensa oferta de swaps cambiais ditos discricionários, mas sinalizados previamente em montantes, e que, certamente foi muito além da demanda efetiva para proteção, transformando-se em operações de renda variável porque contratadas pelo mercado nem sempre vinculadas a passivos em moedas estrangeiras, a autoridade monetária procedeu a devida mudança na sua estratégia, fazendo-a efetiva ao incluir a oferta de linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra.

A operação com linhas tem a virtude de estabelecer as taxas cambiais das duas pontas de imediato e o intervalo é juro, sendo mais eficaz para balizamento do mercado, enquanto os swaps cambiais fixam a taxa cambial da operação e deixam como variável a taxa cambial a ser fixada na oportunidade da liquidação da operação, que tem em contrapartida juro, e assim suscita oportunidade para movimento especulativo ao ensejo de suas liquidações sobre a taxa cambial.

Mudou de estratégia o BC, fez-se mais prudente e articulado na estratégia de intervenção, e adicionalmente também neutralizou a sua sinalização preditiva sobre as atitudes futuras em torno da taxa SELIC.

Então passou de protagonista para observador e se reservou ao direito de agir sempre e como entender necessário com base nos sinais emitidos pelo mercado.

Por isto temos afirmado que o momento é do BC “assistir e não intervir” visto que os eventuais fatores de pressão sobre a formação da taxa cambial não são de demanda por proteção e nem no mercado a vista, sendo, portanto imponderáveis decorrentes de fatores internos e externos que estão fora do alcance das ações da autoridade monetária nacional.

Evidência desta realidade é que o fluxo cambial fechado de junho apresenta saldo positivo de US$ 3,710 Bi dos quais US$ 890,0 Mi de fluxo financeiro. Sabidamente tem havido saídas substantivas de investidores estrangeiros da Bovespa, mas estes devidamente protegidos por hedge, têm permanecido no mercado de renda fixa.

Os bancos fecharam o mês de junho com posição vendida de US$ 1,368 Bi e passivos em empréstimos de linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra em US$. 2,246 Bi.

É inquestionável que em perspectiva, muito provavelmente a partir deste mês acentuando-se em agosto, ocorra a esperada saída mais intensa dos recursos estrangeiros lotados no Brasil e devem se acentuar os impactos na Bovespa, que está deixando evidente que há um grande esforço para não permitir que entre em rota de ultrapassagem para baixo dos 70.000 pontos.

E o que são os fatores imponderáveis? São aqueles intrínsecos no mau momento da economia brasileira, a substantiva crise fiscal que assola o país, a insegurança jurídica crescente que acentua dúvidas e incertezas no entorno do processo sucessório presidencial que já é por si só um grande imbróglio que conspira contra as perspectivas não mais de 2018 mas também de 2019.

Inegavelmente, a pressão inflacionária está de volta e que não se atribua unicamente à greve dos caminhoneiros, já estava em erupção a tendência que, contudo vinha sendo mitigada com a não abordagem mais enfática, e que aflorou em consequência daquele evento que teve grande relevância e ainda permanece mal resolvido, mas que fez emergir o caos da nossa economia e a crise fiscal que imobiliza o país.

Mas, há inúmeros vetores de pressão inflacionária presentes, envolvendo até preços administrados, e que seguramente colocam em risco a manutenção do IPCA no seu limite, sugerindo que possa haver extrema necessidade de elevar-se a taxa SELIC além da melhor expectativa.

Hoje o mundo financeiro global volta a sua efetiva atividade, pós feriados em Wall Street, e então vários indicadores serão reposicionados até porque nos dois últimos dias foram fruto da ausência do mercado maior em atividade e também do baixo volume.

Então, novos fatos em torno da guerra comercial que ganha acirramento entre Estados Unidos e China, tendo à margem a Europa, problemas em torno da desvalorização do yuan e ações por parte do governo chinês em relação à sua moeda e também a respeito do seu potencial de demanda de treasuries americanos, etc…

Haverá novos dados econômicos que devem ser observados, internos e externos, e para desconforto do Brasil, sexta é meio feriado por aqui devido a Copa do Mundo e segunda é feriado em São Paulo, que é o mercado financeiro brasileiro.

Ainda temos a percepção da presença de viés de alta no preço da moeda americana, mas absolutamente insensível a qualquer intervenção operacional por parte do BC, a menos que se acentuem as demandas por proteção e/ou liquidez, portanto pontuais e não aleatórias.

Então, postura defensiva deverá prevalecer, pois sensatez é necessário.

sidnei.nehme@moneytimes.com.br
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