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Sidnei Nehme: Momento retira ímpeto de alta da Bovespa. Ambiente interno ganha foco maior

21 mar 2018, 12:00 - atualizado em 21 mar 2018, 11:52

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

O contexto Brasil está sendo melhor observado e avaliado com maior acuidade, visto que, ao longo de 2017 e do início deste ano, houve uma contaminação extraordinária do “sentimento de melhora” emanado pela excepcional liquidez internacional promovida pelos países com economias desenvolvidas focando suas dinamizações.

Embora não protagonista da ação conjunta, os países emergentes como o Brasil foram altamente beneficiados e acabaram até por conviver a euforia do momento, deixando seus quadros econômicos mal resolvidos sem a percepção mais rigorosa.

O G-20 no seu encerramento ratificou os sucesso dos planos de incentivos financeiros daqueles países focando a dinamização das suas atividades econômicas, que resultou num excepcional resultado impulsionando o crescimento.

Contudo, sinalizou que ocorre um retrocesso destas economias desenvolvidas no quesito protecionismo, que acaba por impactar nas economias emergentes ou em desenvolvimento.

O Brasil, caso os Estados Unidos não revejam a decisão, será penalizado pela tributação sobre suas exportações de aço e alumínio, e, a Europa continua severamente protegendo seu agronegócio. Desta forma a tendência é que tenhamos impactos na nossa balança comercial.

O Brasil tem uma política externa extremamente incipiente, não logrando, a despeito de sua dimensão territorial, acordos comerciais e nem catalisando consideração em questões pontuais. Como simples exemplo tem o caso da Venezuela, onde Trump discute o assunto com a Colômbia e a Argentina.

Cada dia mais se torna evidente e preocupante que o Brasil possa estar com risco de estar convivendo com “o voo da galinha” na sua economia, visto que tem um expressivo problema de natureza fiscal que atinge o governo central, estados e municípios e que não alcançar uma solução pode ter um quadro reversivo da discreta recuperação que tem demonstrado, ainda sem sustentabilidade, logo ao final de 2019 início de 2020.

Urge que se façam as reformas tributária, com enfrentamento efetivo, destruindo este imbróglio atual para um avanço com implementação do IVA ou TVA, reforma previdenciária contundente e, também e absolutamente necessária, reforma do Estado, buscando o reordenamento da convivência dos 3 poderes, desfazendo este cenário conturbado atual que faz prosperar a insegurança jurídica.

A economia neste momento, a despeito das melhores projeções existentes, demonstra vacilo já captado pelo IBC-Br do BC, mas com a inflação oficial bastante abatida sugere que o COPOM hoje determine nova queda da taxa SELIC, agora a colocando em 6,50%. É de se lamentar que não repercuta diretamente no custo do crédito e não motive crescimento substantivo do investimento, o que deixa evidente que o ritmo da economia não é empolgante.

A queda da taxa SELIC para 6,50% pelo COPOM deve coincidir com a elevação do juro americano para o FED para 1,50% e 1,75%, o que impulsionará os rendimentos do T-Bonds, e poderá impactar no apetite do capital estrangeiro, em grande parte especulativo, por ser forjado em operações de “carry trade” cuja base é o diferencial de taxas de juros entre moedas.

Há preocupação em torno do FED já que ocorrerá a primeira conferência de imprensa do Presidente do Fed, Powell. A expectativa é que se vislumbre qual será a dinâmica de elevação do juro pelo FED neste ano.

As questões políticas tendem a ganhar largo espaço prematuramente ensejando debates acalorados e ainda há muitas dúvidas e incertezas, sendo certo que quanto mais candidatos de centro surgirem mais os extremos vão se fortalecendo, e isto deve passar a preocupar mais acentuadamente o mercado financeiro e o comportamento dos ativos, além de sugestionar aos investidores estrangeiros a saída do país, cautelarmente.

O dia hoje é de muita observação, com foco centrado nas decisões do FED americano e a expectativa de confirmação pelo COPOM de redução da taxa SELIC.

sidnei.nehme@moneytimes.com.br