Bancos

Sidnei Nehme: Mercado financeiro sustenta o otimismo, mas o momento sugere observação constante

04 jan 2018, 12:19 - atualizado em 04 jan 2018, 12:19

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

A Bovespa continua quebrando recordes e o dólar permanece em discreta linha de depreciação, mas não acreditamos que isto deva ser considerado de forma enfática tendência sustentável.

Ante as perspectivas duvidosas de aprovação da reforma da previdência, os estrangeiros retiraram da Bovespa em outubro e novembro volume em torno de R$ 5,0 Bi e como a matéria foi postergada sem solução para análise em fevereiro, em dezembro retornaram com montante em torno de R$ 3,6 Bi. Esta alternância provavelmente se deu porque há tempo ainda para novos movimentos especulativos e ganho no curtíssimo prazo, mas certamente se o clima em fevereiro não for pró aprovação da reforma muito provavelmente ocorrerá nova revoada dos capitais especulativos externos, e quem sabe nem só os que estão na Bovespa.

Isto requer atenção, poderá ocorrer movimento reversivo da situação atual.

Em nossas abordagens recentes em torno do saldo da balança comercial no ano de 2017, temos feito observação de que pouco sobrou no caixa, porque ocorreram saídas financeiras volumosas.

Ontem com a divulgação dos números finais do ano este fato ficou mais evidente.

A conta movimento de câmbio consolidou um saldo discreto de US$ 625,0 M no ano, havendo uma diferença a ser consolidada com contratação de câmbio de US$ 13,735 Bi (US$ 14,149 Bi menos US$ 414,0 m de 2016) diferença entre exportações de US$ 22,192 Bi e importações de US$ 8,043 Bi. Para fins de avaliação devemos considerar que o saldo efetivo do ano foi de US$ 14,360 Bi. Não devemos perder de vista que as exportações, em especial do agronegócio, revelou performance expressiva impulsionando o aumento verificado no ano, enquanto as importações, embora com crescimento, tiveram aumento bem menor, o que favoreceu esta sobra no caixa.

Os bancos, ancorados pelas ofertas de linhas de financiamento conjugadas por parte do BC, mantiveram posições vendidas de US$ 23,298 Bi quase idêntica ao fechamento em 2016 que foi de US$ 24,541 Bi.

As reservas internacionais do BC foram mantidas quase que estáveis fechando com US$ 381,972 Bi ante US$ 372,221 Bi em 2016. Ao longo do ano de 2017 o BC forneceu linhas de financiamento com recompra aos bancos no montante de US$ 15,205 Bi e ainda assim os mesmos ainda revelam posição vendida consolidada de US$ 23,298 Bi. A rigor, do montante das reservas, numa visão de maior rigor este montante pode ser subtraído, pois é um passivo do mercado por parte dos seus agentes, os bancos.

Isto faz parte de uma estratégia, embora certamente esteja “hedge” desta exposição, para fazer dos bancos parceiros na contenção da taxa cambial dentro de parâmetros contributivos para controle da inflação, principalmente no item alimentos que o Brasil exporta substantivamente e assim não contamina o mercado interno.

Este ano a projeção é de um saldo de balança comercial da ordem de US$ 50,0 Bi, e se assim for com a previsão de crescimento de 3%, certamente sobrará menos do que em 2017.

Mas todas as projeções para 2018 tem pouca sustentabilidade quando se observa com rigor o conjunto de riscos existentes na trajetória do Brasil em 2018, todos relevantes seja na área econômica, seja na área política. Este é um ano de muitas incertezas e possibilidade de muitas tensões com risco da cena política contaminar os interesses econômicos.

Um risco bastante relevante é o da não aprovação da reforma da previdência, que pelo ambiente predominante precisará ser ainda mais desidratada para aumentar a possibilidade de contar com os apoios necessários. Já há percepção de que a solução com a reforma no quesito do descontrole fiscal será menor do que o propagado, permanecendo o risco consequente de o país sofrer um “downgrade” por parte das agências de rating.

Há no mercado ainda um menosprezo a estes riscos, inclusive certa insensibilidade quanto a ocorrência de tensões no campo eleitoral bastante desestabilizadoras e radicalizações, visto ser ano eleitoral, envolvendo presidência, governos, congresso, etc…

Mas já há uma corrente experiente que não está se deixando levar pelo excessivo clima de otimismo, e nem relega a plano secundário as mudanças e comportamentos das economias desenvolvidas que podem atingir de forma bastante negativa os países emergentes, a partir do mercado americano como se pode deparar da leitura da última ata do FED e os propósitos e intenções do Presidente Trump com foco nos interesses americanos.

Ano eleitoral turbulento e crise fiscal podem ser extremamente perturbadores em 2018, um ano com muitas incertezas.

É extremamente necessário que haja muita observação e precaução ao longo dos meses, ainda que haja otimismo, é preciso acreditar que o ano se constitui num grande desafio para o Brasil.

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