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Sidnei Nehme: Mercado financeiro local procura mutação motivos para mutações, mas externos são frágeis

10 maio 2019, 8:16 - atualizado em 15 maio 2019, 6:13

Sidnei Nehme é Economista e Diretor-Executivo da NGO Associados Corretora de Câmbio

É perceptível que há um esforço para “valorizar” em termos Brasil o embate comercial sino-americano, e com isto, promover e estimular volatilidade ancorada em “temores”, não especificados, no momento em que a trajetória da Reforma Previdenciária ganha “fôlego” e crescente apoio generalizado, pelo amadurecimento do entendimento de que “ou aprovamos ou aprovamos”, caso contrário o país ficará sem perspectivas e o futuro será muito desalentador.

Esta ação de valorizar o fato externo parece postar-se como um “antídoto” de conveniência para neutralizar a recuperação do otimismo gradual do ambiente negocial interno, mas nas circunstâncias atuais do Brasil é frágil e inconsistente.

.A quarta feira foi um dia com comportamento e as expectativas alinhadas à melhora do clima político e percepções em torno do andamento da Reforma Previdenciária, repercutindo a melhora de humores em torno da questão que acentua sua generalização por toda a sociedade brasileira, e o mercado financeiro ajustou seus preços e indicadores à realidade presente, sem se deixar influenciar pelo ambiente externo.

Ontem, quinta feira, os maus fluidos externos que já estavam presente na quarta-feira foram “revitalizados” e habilmente utilizados internamente para promover a volatilidade e promover o reaquecimento de temores maiores do que pode sugerir a causa, não sensibilizados na quarta feira a despeito de serem os mesmos, dando maior peso a continuidade das divergências sino-americanas.

Então, dando um peso incompatível para a questão externa no ambiente interno do país, os “players” do mercado financeiro revertem rapidamente os corretos ajustes havidos na quarta-feira, deixando certo rastro de que pode estar havendo muito “day trade” na trajetória visando ganhos rápidos, visto que a perspectiva que aflora agora sugere que o otimismo volte a ganhar tração no sentimento popular e isto acentua o viés corretivo de depreciação do preço do dólar, que está aviltado e absolutamente fora da curva, e reconduza a Bovespa a parâmetros mais equânimes com o momento, mas ainda sem empolgação.

Evidentemente, não há como tornar fato menor o “confronto de interesses comerciais” entre China e Estados Unidos e sua relevância para a economia global, mas o questionável, neste momento, é “até que ponto” este acontecimento afeta os humores no Brasil, que está numa “redoma” que o coloca em linha para registrar recessão econômica com a perspectiva de PIB negativo no 1º trimestre deste ano e entraves políticos que retardam e agregam incertezas à Reforma da Previdência, que é, no momento, a única porta de saída do país para a relevante crise fiscal com a qual convive e que sem ganhar viabilização efetiva o “condenará” a uma perspectiva absolutamente nefasta de futuro próximo. Por isso, consideramos que o impacto deste confronto sino-americano é frágil neste momento em termos Brasil.

O grande problema do Brasil é efetivamente os seus próprios problemas internos, sendo tudo o mais secundário, e esta realidade não nos caracteriza no momento como protagonista do cenário global e nos deixa um tanto quanto à margem até mesmo dos efeitos dos fatos relevantes na cena externa.

Face à este “status quo” o Brasil não é focado no momento por investidores estrangeiros, que não nos verão melhores ou piores em razão do embate sino-americano e nem mesmo com o FED mantendo o juro, embora seguramente o país esteja “sob observação” para ver se, quando e como sairá da difícil crise fiscal.

China e Estados Unidos são nossos parceiros e concorrentes e as resultantes dos desencontros e encontros entre ambos precisam ser avaliados com grande acuidade, já que por vezes há precipitação em considerarmos genericamente que o acordo é fato positivo, porém esta verdade pode não ser absoluta em relação específica ao Brasil.

Acreditamos que com o fortalecimento do viés pró-aprovação da Reforma da Previdência, ainda que com perdas, discreta desidratação, na sua trajetória, ocorra o recrudescimento do espaço ainda existente para estes movimentos “construídos” a partir de inconsistentes fundamentos, e o preço da moeda americana acentue a tendência à correção de seu preço e a Bovespa se estabilize em patamar pouco abaixo dos 100 mil pontos, mas já com melhores perspectivas de gradual retorno dos investidores estrangeiros.

O BC continua cumprindo e bem seu papel no câmbio promovendo a rolagem, sem agregar novos lotes, das posições vincendas de “swaps cambiais”, sem intervir, o que não se espera com oferta de dólar físico no mercado à vista, e, observando e agindo tecnicamente com operações estruturadas, sempre que necessário, pró-liquidez no mercado à vista, estando apto a realizar ofertas de linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra, se esta demanda for sinalizada pelos bancos.

Por outro lado, mantém a sensatez ao estabilizar a taxa SELIC, e sem sinalizar qualquer viés, já que tanto quanto os estrangeiros e nacionais também observa como ocorrem e se desenvolvem as tratativas em torno da Reforma da Previdência.

A realidade absoluta é que o Brasil precisa da Reforma da Previdência e a convicção é que a aprovação da mesma será certamente um marco divisor na trajetória recente do país, que viabilizará o retorno gradual dos investimentos públicos e privados ancorando as perspectivas de desenvolvimento com geração de emprego, renda e consumo e melhora de arrecadação, e, naturalmente, provocando o forte ajuste no preço do dólar no mercado interno, eliminando toda “gordura especulativa” contida no preço atualmente e dando vigor a alta dos preços acionários na Bovespa.

A percepção é de que o país já esteve mais distante das possibilidades de conquistar a reversão do “status quo” e isto tenderá a fragilizar os movimentos especulativos ainda presentes.

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