Opinião

Sidnei Nehme: Mercado de derivativos forte, reservas cambiais volumosas e real à deriva

26 set 2019, 7:39 - atualizado em 26 set 2019, 7:39
Real moedas dólar dinheiro
Colunista analisa cenário brasileiro que finalmente conquista um CDS excelente (Imagem: Reuters/Bruno Domingos)

Por Sidnei Nehme, Economista e Diretor-Executivo da NGO Associados Corretora de Câmbio

O Brasil sempre acalentou o alcance de um cenário de juro baixo e inflação baixa, e finalmente o conquistou, e mais com um CDS excelente, mesmo ainda estando distante do “investiment grade”, mas isto tudo para complementar o justo anseio deveria encontrar uma atividade econômica forte em sua dinâmica, para que então fosse completa a conquista.

Este contexto, que na sua parte positiva vem sendo amplamente comemorada, tem na realidade uma atipicidade contraditória aos “costumes” do país, suprimindo a atratividade ao capital estrangeiro que sempre despertou pelas oportunidades de rentabilidade que sempre proporcionou, seja aos recursos tradicionais, seja aos recursos especulativos oriundos de arbitragens com operações de “carry trade” que sempre encontraram por aqui um oásis de oportunidades.

O estreitamento do juro interno com o externo retirou a atratividade do país, provocando o desinteresse pela pequena margem de ganho que não motiva a troca de risco e por inviabilizar a montagem das operações de “carry trade” que ficaram absolutamente sem margem.

Isto vem alterando de forma substantiva os fluxos cambiais para o país, que claramente sente esta retração, que no momento impõe ao BC prover a liquidez do mercado à vista para suprir a carência.

Por outro lado, a inércia da atividade econômica fragiliza também as perspectivas para a Bovespa, que também perde atratividade.

A atratividade poderá ser retomada num contexto novo, porém lento, com o governo definindo privatizações e oportunidades de investimentos na infraestrutura, de vez que não é mais possível no modelo antigo mantido o atual “status quo”, enquanto isto, esporadicamente, em certos momentos, os leilões relativos ao petróleo poderão ir dando certo alento ao fluxo cambial.

Os números mais recentes do BC sancionam a percepção do recrudescimento dos fluxos e confirmam o desinteresse dos investidores estrangeiros por aplicações no nosso mercado financeiro.

Contudo, em princípio, para sanar esta retração no fluxo cambial, em tese, bastaria a ação do BC intervindo e ofertando liquidez ao mercado de câmbio à vista, suprindo a deficiência e ponto, reequilibrando o fluxo e dando desta forma comportamento da taxa cambial equilibrado e sinérgico com o momento Brasil.

Afinal, o Brasil não tem riscos de crise cambial, tem déficit em transações corrente satisfatório em torno de 1,84% do PIB, e poderia conter volatilidade neste momento de crise no mercado global, já que não vulnerável na questão do setor externo.

Porém, o fato de ter um mercado de derivativos sofisticado e bem estruturado e também e principalmente por ter reservas cambiais que o deixam imune à crise cambial.

Brasil que não tem os requisitos atuais para atrair recursos estrangeiros como investimento acaba por atrair investidores estrangeiros especuladores para os derivativos, que não precisam trazer recursos substantivos, e que com seus movimentos especulativos distorcem a formação do preço da moeda americana no nosso mercado.

E, o problema ocorre não somente no nosso mercado de derivativos local especulando sobre o real, mas também no exterior, e então o Brasil fica à mercê destes movimentos que só acontecem pelo fato da moeda ter lastro de relevante montante de reservas detidas pelo país, que eliminam o risco e relegam ao plano secundário a crise fiscal e a inércia da sua atividade econômica.

No Brasil, diferentemente de grande parte dos demais países, o preço da moeda americana frente ao real é formado no mercado futuro que é o centro do mercado de derivativos e de onde contamina a taxa do mercado à vista.

No mercado futuro o que movimenta são as expectativas e então os especuladores se fartam em utilizar todos os eventos internos e externos como impactantes, até mesmo aqueles que teriam menor importância, e com isto fomentam os movimentos de especulação.

O Brasil carente de fluxos cambiais positivos pelas razões já apontadas, e até mesmo também pela queda de fluxo comercial positivo, tem limitações para o enfrentamento e então o mercado de câmbio opera taxas elevadas entre R$ 4,15/4,20, um tanto quanto díspares com a realidade brasileira, mesmo em momento de carência de fluxo.

O BC tem mantido sua intervenção, mas temos críticas à estratégia, pois entendemos que devesse manter a sua atuação contumaz de rolagens das posições de contratos de swaps cambiais tradicionais e linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra, e só atuasse de forma não programática, como recomenda a boa prática no câmbio, suprindo com oferta à carência do mercado de câmbio à vista e evitando a disfuncionalidade.

Nada de ofertar swaps cambiais reversos, pois com esta ação provoca a contração do efeito da oferta no mercado à vista e fortalece a formação do preço no mercado futuro, que, como dissemos, é onde é formada a taxa cambial efetiva que contamina a taxa do mercado à vista, que desta forma não repercute sensibilização da intervenção do BC no mercado à vista.

Este é um quadro que não sugere solução rápida, mas pode ser impeditivo de que o BC/Copom efetive nova redução na taxa Selic.

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