Opinião

Sidnei Nehme: Mercado brasileiro indica ter suporte à tendência de melhora efetiva e otimismo!

27 jun 2019, 8:19 - atualizado em 27 jun 2019, 8:21
Veja a análise de Nehme sobre os mercados financeiros e o câmbio

Sidnei Nehme é Economista e Diretor-Executivo da NGO Associados Corretora de Câmbio

O mercado financeiro e seus ativos vinham evidenciando consistente movimento recuperatório em seus segmentos mais expressivos, com a Bovespa em recuperação e ultrapassando a barreira dos 100 mil pontos, juros em queda e o preço do dólar sofrendo expressiva depreciação frente ao real, na medida em que se acentuava o desmonte das posições especulativas estruturadas no mercado futuro de dólar, tendo em vista a absoluta insustentabilidade e ausência de fundamentos face à soberba situação cambial do país.

Tudo isto consequente da consistente melhora de ambiente pró aprovação da Reforma da Previdência, que tende a atenuar o agravamento da severa crise fiscal com que se defronta o país, ou seja contendo os dispêndios crescentes, que macula a atratividade dos investimentos internos e externos no setor produtivo do país e provoca também contração no ingresso de recursos direcionados à renda fixa e Bovespa.

O mês de junho tem sido o demarcador da mudança de ânimos e retomada do otimismo que estimula os investimentos privados produtivos focados perspectiva da dinamização da atividade econômica, fomentando expectativas de melhora do emprego, renda e consumo, enfim permitindo que a situação econômica do país “pare de piorar” e quiçá passe a revelar firme tendência de recuperação.

O desempenho da Bovespa atingindo 102 mil pontos e o preço do dólar retomando o preço no entorno de R$ 3,80, sinalizaram de forma incontestável a ocorrência de uma “virada” efetiva e que as tendências de concreta melhora ganham corpo e fundamentos.

A expectativa prevalecente tem sido de incremento contínuo da valorização da Bovespa e ainda de apreciação do real frente ao dólar, com notório movimento de desmonte das posições especulativas “compradas” no mercado futuro de dólar pelos estrangeiros e que “orquestraram” a alta artificializada do preço, de vez que inexistia demanda efetiva por “hedge”, tanto é que o BC limitou-se a acompanhar, rolar os contratos de swaps antigos e não realizar ofertas de novos contratos, dada a absoluta falta de necessidade.

Com a redução abrupta do preço do dólar no mercado à vista, reflexo da redução no mercado futuro, houve naturalmente aumento efetivo da demanda neste segmento à vista com transações de pagamentos e remessas ao exterior que ficaram represadas durante a alta inconsequente do preço da moeda americana, e isto criou uma momentânea disfuncionalidade no mercado, razão pela qual o BC, pontualmente, agiu fazendo duas ofertas de linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra de US$ 1,0 Bi cada, uma na terça-feira e outra na quarta, irrigando, assim, a liquidez.

O fluxo cambial até o dia 21 evidenciava saldo positivo de tão somente US$ 343,0 Mi no mês de junho, e na semana de 17 a 21 registrou incremento nas saídas com registros negativos de US$ 308,0 Mi no segmento comercial e negativos US$ 2,110 Bi no financeiro, evidenciando incremento nas saídas em concomitância com a queda do preço do dólar.

Com o retorno a parâmetros efetivos e reais do comportamento da Bovespa e do preço do dólar, infalivelmente ocorreu a retomada da sinergia do comportamento de ambos não somente com os fatores internos, mas também com os fatores externos.

Então, na terça feira houve um hiato na dinâmica de recuperação tanto da Bovespa quanto do preço da moeda americana, já que a conjunção de fatores e expectativas preocupantes internas e externas, mais eventos nefastos imponderáveis, provocou postura defensiva imediata dos players do mercado, que deprimiu o comportamento da Bovespa e alavancou o preço do dólar.

Já na quarta-feira, abrandado os ruídos e atenuadas as preocupações maiores ainda sem eliminá-las, o mercado brasileiro retomou a dinâmica otimista e buscou o realinhamento com os parâmetros prevalecentes anteriormente na trajetória , ainda que gradualmente.

É verdade que a manifestação do Presidente do FED americano desapontou um pouco as expectativas mais imediatas de corte no juro americano, algo que se sinalizado teria impacto forte nas expectativas para a Bovespa, em especial, e estimularia o desmonte mais rápido das posições especulativas “compradas” no mercado futuro de dólar, provocando a queda do preço ao nível de R$ 3,75 ou menos.

Ainda há resistência dos “comprados” no mercado futuro à derrocada do preço da moeda americana, tanto é que ontem as moedas emergentes se valorizaram frente ao dólar, enquanto o real ficou estável, mas o desmonte destas posições “não hedges” será inevitável na medida em que os sinais de contenção da piora da atividade econômica brasileira forem ficando evidentes.

Os ruídos em torno do embate comercial China-USA, do G-20, da questão Irã-USA devem continuar, mas estes têm repercussões marginais no momento de recuperação da atividade econômica brasileira, tendo tido peso maior o fato do FED não ter sido incisivo em postura pró redução do juro americano, que provocaria rápida recuperação da Bovespa e intensificaria o fluxo cambial favorável ao Brasil.

Porém, a despeito de todos os fatos nos parece concreto o redirecionamento das perspectivas para o Brasil, havendo forte impulsão à recuperação da atividade econômica e suas consequências, com a contenção de gastos por parte do governo a partir da Reforma da Previdência e com a retomada dos investimentos privados nacionais e externos imprescindíveis para o crescimento sustentável.

Bolsa em alta e dólar em baixa é uma tendência, a despeito de eventuais percalços, firme e consistente doravante.

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