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Sidnei Nehme: Mercado assume precaução em relação a 2018, atenuando eufórico otimismo

10 jan 2018, 12:16 - atualizado em 10 jan 2018, 12:16

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

Já é perceptível que ocorre uma mudança do humor absolutamente eufórico em relação às perspectivas para este ano de 2018, com o mercado e seus agentes assumindo uma postura mais sensata e com melhor avaliação dos riscos na trajetória.

Aumentaram as vozes com sinais de alerta a respeito das dúvidas, incertezas e possíveis turbulências ao longo deste ano, e também a percepção com maior acuidade de que o cenário externo não terá as mesmas dimensões de liquidez que apresentou em 2017.

Temos expressado desde o inicio de dezembro nosso ponto de vista de que é fundamental postura de precaução e sensatez, com otimismo mais contido, visto que os discretos avanços obtidos pelo país ao longo de 2017 não asseguram perspectivas sustentáveis para 2018, um ano com desafios relevantes.

A caótica situação fiscal do país que suscitou já ao inicio avaliações desgastantes ao governo em torno da quebra da “regra de ouro” constitucional, que deixou clara a fragilidade e vulnerabilidade do país; eleições para presidente, governadores e congresso, ainda cercada de muitas dúvidas sobre candidatos à Presidência; julgamento do ex-Presidente Lula, pretenso candidato, e suas repercussões e perturbações que não estavam sensibilizando os humores; disputas intestinas conflitantes no âmbito do governo entre pretensos candidatos à Presidência; necessidade de aprovação de reformas, em especial a previdenciária, num ano eleitoral; dificuldades presumíveis para elaboração da peça orçamentária para 2019, que exigirá a retomada da discussão a respeito da ”regra de ouro”, etc…

O próprio governo se surpreendeu com a arrecadação de dezembro, o que deixa evidente que pode ter superado as expectativas com o REFIS (PERT), e assim o déficit primário do governo central poderá ficar no entorno de R$ 130,0 Bi, mas parece meramente oportunista a atribuição do sucesso ao crescimento da economia, que foi ainda muito discreto.

A inflação pelo IPCA em 2017, divulgada em 2,95%, foi possível pela metodologia adotada pelo IBGE face à expressiva queda nos preços dos alimentos, que mitigaram os expressivos aumentos nos combustíveis (gasolina, diesel, etanol, gás), nos medicamentos, nos planos de saúde, na energia elétrica, na educação, etc…

A safra agrícola de 2018 está projetada com uma queda de 9,5% e não se espera que após o recuo de preços havido em 2017 mantenha a tendência de queda, muito pelo contrário.

A percepção quanto a recuperação do emprego no país já vem recebendo considerações menos entusiásticas, admitindo discreta queda do desemprego ou até mesmo estagnação. Ocorre que o crescimento projetado para o PIB está ancorado no aumento de consumo das famílias, o que poderá ser frustrado pela questão da recuperação morosa do emprego que impacta diretamente na renda.

O cenário externo sinaliza que haverá menor liquidez global e isto impacta diretamente nos países emergentes.

A retomada forte da economia americana combinada com a reforma tributária pode provocar retorno expressivo de capitais americanos no exterior beneficiados por uma tributação mais amena e atrativa, e isto atinge os emergentes.

O jornal Valor destaca de forma bastante oportuna o impacto que poderá ocorrer no Brasil, alertando que multinacionais poderão deixar o Brasil motivadas pela nova tributação americana. Anteriormente a tributação do lucro das companhias era de 35% nos Estados Unidos enquanto que no Brasil é 34% e com a reforma americana ocorrida nos Estados Unidos recuou para 21% abrindo um relevante percentual que passa a tornar atrativo o retorno aos Estados Unidos.

Este é mais um fator contrário presente, pois ao invés de termos ingressos poderemos ter saídas de investimentos.

Com as economias americanas e europeia com maior dinamismo, os juros deverão ser elevados porque haverá maior pressão inflacionária, e este é outro detalhe contrário aos interesses dos emergentes.

O Brasil projeta uma queda da SELIC, mas deverá ter um IPCA maior, e os juros americanos e europeus subindo, o país poderá perder atratividade para os investidores que buscam rentabilidade, sem perder de vista os riscos.

Enfim, ganha corpo a percepção de que 2018 será um ano de grandes desafios, sendo efetivamente necessárias posturas de cautela e sensatez.

Muito provavelmente será necessária uma gradual revisão nas projeções para este ano.

O dólar tende a ser apreciado, mesmo com a interferência do BC, podendo haver um cenário menos favorável para redução da SELIC, e as perspectivas para o crescimento do PIB sejam mais sensatas e compatíveis com a realidade.

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