Opinião

Sidnei Nehme: Liberalismo e monopólio não permitem convergências e ruídos são desconexos!

15 abr 2019, 11:26 - atualizado em 16 abr 2019, 10:53

Sidnei Nehme é Economista e Diretor-Executivo da NGO Associados Corretora de Câmbio

O mercado financeiro convive com o momento de transição da Reforma da Previdência em que o fator político sobrepõe-se ao fator econômico, e, de repente uma ação do Governo, preventiva para alguns, intervencionista para outros, acaba roubando a cena e assumindo e gerando manchetes extravagantes, muito maiores do que o fato em si, deixando transparecer que o ideológico e emocional supera em muito o racional.

Volumes de perdas as mais expressivas como se fossem da própria empresa e não dos seus acionistas, confundindo com um passado nefasto em que esteve mergulhada a empresa, e confrontando com a própria pressão antecedente crítica quando a empresa desenfreadamente aviltava cotidianamente os preços.

O que fica evidente é que não há espaço para num ambiente em que se propaga liberalismo conviver-se com setores monopolizados de grande impacto na economia.

O ocorrido pode promover a excepcional oportunidade de discussão mais efetiva, elevada e madura que a simples critica pela critica, abrindo o debate sobre o monopólio detido pela Petrobras e ensejando que se reconheça que a livre concorrência é que gera o preço justo e, certamente, incontestável.

As reações e críticas seguramente foram mais intensas do que o fato em si, que afinal sempre gera a oportunidade de movimentos exacerbados oportunistas num mercado que é tendente a forjar volatilidades de ocasião e assim alavancar ganhos e, consequentemente, perdas, que por vezes são revertidas a partir do olhar sobre o ocorrido com o grau necessário de sensatez.

Hoje será um novo dia, e, naturalmente o Governo e a Petrobras poderão alinhar os ajustes num ambiente mais sereno, preservando interesses do país e da empresa, não deixando oportunidades para perturbações populares que ao que se comenta vinham sendo habilmente articuladas.

Mas, sem dúvida poderá ser o momento motivador à discussão do fim do monopólio e todo o complexo distributivo, tornando-o adequado à convivência com os propósitos liberais.

O fato em si se prestou a “tirar da primeira página” os debates e embates em torno da Reforma da Previdência, que deverá ter sequência e que é efetivamente o importante e determinante para o futuro do país.

Por outro lado, observa-se que a relevante proposta do Governo de independência do BC, sempre reivindicada pelo mercado financeiro, ganhou pouco destaque, o que frustra as expectativas.

Há uma inversão de valores que vem se tornando contumaz, tendo os fatos mais relevantes sendo subjugados pelos menos importantes em ordem de grandeza.

Neste período de transição da Reforma da Previdência, que o sucesso ou insucesso podem ser divisores de humores num cenário ainda predominantemente binário, a tendência natural seria dos mercados câmbio, Bovespa e juros manterem serenidade e estabilidade, em notório comportamento de observação, sustentando neutralidade quase absoluta quanto aos eventos externos, visto que o país neste momento perdeu seu protagonismo, e tem o seu foco em si próprio.

Então, para não ficar “enfadonho” vale-se de qualquer fato político e/ou econômico para dinamizar-se e buscar movimentos voláteis que permitam alavancar giro de negócios ancorados em ruídos e temores pouco sustentáveis.

Hoje, certamente, haverá novos fatos e novas percepções e é até possível que as conturbadas reações no mercado acionário de sexta se transformem em excelentes oportunidades.

O que é efetivamente relevante vem sendo pontualmente mostrado pela percepção do Boletim FOCUS, ou seja, inflação se aquecendo e perspectiva de crescimento do PIB cadente. O restante, câmbio e juros em perfeita estabilidade em parâmetros considerados compatíveis, deixando evidente o quanto o preço do dólar no mercado brasileiro está fora do ponto.

A queda do PIB parece sustentável, pois o retardamento da tramitação da Reforma da Previdência é uma trava nas ações objetivas do Governo pró-desenvolvimento, enquanto que a inflação poderá reverter a tendência de alta exatamente devido a inércia da atividade econômica, o que afasta qualquer insinuação em torno da SELIC.

Dólar é uma má aposta no Brasil atualmente, vai acabar se esvaziando, visto que é um segmento em que o país está bem defendido e já há muito tempo deixou de ser o termômetro de crise como algumas décadas atrás.

No exterior, segue a expectativa de acordo entre China e Estados Unidos e isto, por emitir sinais favoráveis, está provocando leve alta nos juros dos T-Bonds nesta manhã.

Trump continua critico do FED e de Powell, que é apoiado por Draghi, do BCE.

O preço do dólar no mercado brasileiro, forjado a partir da especulação no mercado futuro, já que não há movimento de demanda acentuada no mercado a vista, e ainda que o país tenha fortes evidências de solidez neste quesito que afastam qualquer possibilidade de crise cambial, tende a gradualmente ajustar-se às proximidades de R$ 3,75, na medida em que forem sendo emitidos sinais positivos em torno da Reforma da Previdência, como se espera.

O fluxo de investidores estrangeiros permanece contido, provavelmente até que haja sinais positivos em torno da Reforma da Previdência, mas atualmente as perspectivas de fluxo são acentuadamente menores que as propagadas e esperadas ao início do ano.

O Brasil na atualidade tem suas projeções em estado de observação, havendo ainda baixa sustentabilidade, por isso os fatores econômicos devem continuar subjugados aos fatores políticos.

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