Dólar

Sidnei Nehme: Governo parece ter maior sensibilidade a respeito do momento do que o mercado

30 jan 2018, 12:05 - atualizado em 30 jan 2018, 12:05

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

O governo, inegavelmente, tem realizado um esforço mercadológico dando dimensão maior às conquistas ainda discretas e aos sinais de evolução nem sempre sustentáveis.

À margem disto o Presidente Temer tem encetado enorme esforço e exposição pública, o que lhe proporciona também a melhora de imagem, focando a necessidade da aprovação da reforma da Previdência e de outras reformas imprescindíveis para que o governo atenue a grave crise fiscal presente.

Contudo, denota ter uma visão mais refinada politicamente a respeito do momento, percebendo melhor que o contexto em torno da condenação do ex-Presidente Lula o excluindo da disputa eleitoral tensiona o país. Esta é uma percepção corretíssima, pois a atividade reacionária de seus (de Lula) adeptos criará, certamente, ambiente perverso e altamente perturbador, inclusive da ordem pública, num momento em que o país tem relevantes problemas à margem da questão política eleitoral para suplantar neste ano.

Tanto isto é verdade que, ontem, advogado britânico, Geoffrey Robertson, contratado pelo ex-Presidente Lula levou o “case Lula” às Nações Unidas, buscando denegrir o judiciário brasileiro, mediante representação à Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas.

Este é somente um sinal inicial do quanto poderá ser desgastante para o país este embate que pode até influenciar decisões subsequentes do judiciário brasileiro ao julgamento ocorrido no TRF-4, e, que fomentará os movimentos reacionários dentro do país.

O mercado financeiro nacional parece ainda não ter se apercebido da relevância deste ambiente ainda no nascedouro, mas que poderá atingir níveis extremamente perturbadores e afetando os ânimos dos investidores estrangeiros, que atualmente são os determinadores da empolgação da Bovespa e apreciação da moeda nacional frente a moeda americana.

Este ponto, embora de forma pontual e breve, foi muito bem sinalizado pelo Presidente Temer, sendo possível admitir que os agentes do mercado “ouviram” o recado e podem atuar com os ânimos menos exaltados pela euforia.

Por outro lado, coincidentemente e não se sabe se em sintonia com a manifestação do Presidente Temer, o Presidente do Banco Central do Brasil, Ilan Goldfajn, declarou hoje que o cenário externo é o principal risco para a inflação brasileira, que ainda está positivo, mas que se houver reversão pode levar a aumento do juro e impactar no fluxo de capitais.

E advertiu, “temos que saber escolher os riscos mais prováveis e menos prováveis”, ao ser questionado sobre o que aconteceria com a inflação brasileira com eventual estouro da bolha de crédito na China ou se a inflação de alimentos voltar à tendência dos últimos anos.

Esta também foi uma sinalização pontual realizada pelo Presidente do BC, e que tem uma conotação de advertência habilidosa aos agentes do mercado.

Nem uma e nem outra nos surpreende, mas corroboram com as observações que temos feito a respeito do contexto eufórico predominante na Bovespa e no mercado de câmbio, o que nos tem levado a argumentar que é absolutamente necessária a sensatez, visto que o que foi conquistado até o momento tem baixa sustentabilidade e muito sujeito ao risco de forte reversão.

Além destes aspectos, sobre os quais ambos, Presidente Temer e o Presidente do BC Ilan Goldfajn, poderiam discorrer com muito maior detalhamento e abrangência, há os riscos internos presentes e que podem ser desestabilizadores do país.

O burburinho político deverá continuar intenso, visto que ainda não surgiu o candidato carismático em quem se vislumbre a capacidade de condução segura e reformista do país como seu próximo Presidente, ensejando disputas acirradas entre os pretendentes já postos, e, tendo à margem os ecos e ações reacionárias motivadas pela exclusão do ex-Presidente Lula.

Ainda não parece resolvida a questão em torno da aprovação da necessária reforma da Previdência, mas tudo sugere que o governo fará novas concessões e, por fim, poderá ocorrer a aprovação de uma mini reforma que certamente precisará ser completada pelo novo governo.

Mas há outras em pauta e este é um ano eleitoral o que dificulta os convencimentos, já que muitos têm a necessidade de renovar seus mandatos, até como autoproteção perante o Judiciário e qualquer desgaste popular neste momento poderia ser fatal.

Causa curiosidade a forma de informação de que o déficit do governo central fica em R$ 124,4 Bi, “bem melhor que a meta”, como se isto fosse uma vitória, pois a meta do rombo era R$ 159,0 Bi. Como salientou a secretária do TN “ não há o que festejar”. Afinal 2017 registra o menor nível de investimentos pelo governo em uma década e só foi reduzido pelo fato de ter recebido R$ 50,0 Bi do BNDES. E afinal é déficit!

Para 2018 o TN precisará R$ 208,6 Bi, o que não é pouco.

Enfim, a prevalência de dúvidas, incertezas e tensões sancionam a extrema necessidade de menor entusiasmo e mais serenidade por parte do mercado financeiro, lembrando sempre que a direção é mais importante do que a velocidade.

Há absoluta necessidade de focar os riscos externos presentes para os países emergentes, que no caso brasileiro pode envolver novos “downgrade” e os riscos existentes bastante indefinidos internamente, e isto, pode determinar que as projeções alvissareiras em torno da Bovespa e do preço do dólar se tornem mais equânimes com a realidade e perspectivas, e não ocorram como estão sendo postas.

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