Opinião

Sidnei Nehme: Governo deve valorizar o silêncio e intensificar o poder de articulação

08 abr 2019, 18:47 - atualizado em 08 abr 2019, 18:47

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

Há uma inegável percepção de que a perspectiva binária em torno da tramitação e aprovação da Reforma da Previdência recupera gradualmente o viés de otimismo, e isto ganha consistência à medida que o Governo sinalize atitudes de articulação, porém é absolutamente necessário que mitigue a intensidade de ruídos e intensifique postura de silêncio, evitando picuinhas que geram provocações.

O foco do Governo deve estar centrado na articulação e negociação em torno da Reforma da Previdência, sendo necessário um empenho firme no sentido de evitar “desvios de atenção” e motivar debates e picuinhas perturbadores desnecessários à causa maior.

Estes pontos, articulação e negociação, parecem ter sido, finalmente, adotados pelo Governo, que, contudo deve necessariamente disciplinar sua postura de comunicação e ação.

Estes são sinais que se efetivados como parece ser o caso, causarão excelente efeitos nos segmentos do mercado financeiro, que, acreditamos, tenderia a menor volatilidade e maior tendência da relativa estabilidade, sem exacerbações, ao longo do curso da tramitação da relevante matéria.

Pesquisas recentes a respeito do novo Governo tem pouca representatividade, de vez que o Governo completou um trimestre, seccionado por ausências do Presidente em razão do atentado, e, principalmente, por ter iniciado a sua gestão pela propositura de matéria de cunho fortemente impopular, a Reforma da Previdência, atacada de forma ferrenha pelas alas corporativistas e ideológicas que ganham grande espaço na mídia, mas sem a qual o país não tem condições de, ainda que parcialmente, aliviar a severa crise fiscal presente.

Temos ressaltado que a política subjugou as questões econômicas do país, tirando sustentabilidade nas projeções mesmo as de curto prazo, e isto tem proporcionado a ocorrência de movimentos voláteis com grande conotação especulativa, portanto sem sustentáveis e extremamente frágeis.

Evidentemente que o único reflexo crível neste momento é a queda nas projeções do crescimento do PIB, que estão agora no entorno de 1,95 a 2,00% para este ano, no mais tudo segue dentro de um contexto de estabilidade, como projeção do dólar para o final do ano em R$ 3,70, IPCA abaixo de 4%, SELIC em 6,5%, e o restante como retomada do emprego, renda, consumo está à mercê da aprovação da Reforma da Previdência.

No nosso entendimento consideramos baixos, neste momento de acentuado foco e dependência do país da aprovação da Reforma da Previdência, os eventuais reflexos das ocorrências no mercado global, já que a situação do Brasil o faz recluso da sua própria situação, e os fatores externos, desta forma, ocorre à margem da nossa crise fiscal.

É preciso avaliar com maior acuidade os efeitos do possível acordo comercial entre Estados Unidos e China, nossos parceiros e concorrentes, que em decorrência dos seus interesses mútuos podem impactar negativamente nos interesses comerciais do Brasil. Evidentemente que a evolução do acordo comercial é vista positivamente para a economia global que tem sofrido perspectivas cadentes de seu crescimento, mas especificamente para o Brasil tem pontos que precisam ser mais bem avaliados.

O cenário prospectivo mais razoável seria a estabilidade do preço do dólar no entorno de R$ 3,75 e a Bovespa no entorno de 100 mil pontos, mantidos neste entorno com extrema sensatez até que haja fatos concretos que permitam análise mais consistente sobre as perspectivas em torno da Reforma da Previdência.

Dólar exacerbado não tem sustentabilidade porque o Brasil não tem risco de crise cambial, tendo substantivo volume de reservas cambiais, não havendo sinais de fuga de capitais do país, sendo decorrente de movimento especulativo no mercado futuro de câmbio absolutamente sem fundamentos, e a Bovespa está dependente para evoluir acima dos 100 mil pontos com sustentabilidade da aprovação da Reforma da Previdência e a ocorrência, consequente, de investimentos externos.