Opinião

Sidnei Nehme: Fundos locais e externos continuam “vendendo” dólares, contendo alta no câmbio

17 set 2019, 8:26 - atualizado em 17 set 2019, 8:27

 

Copom Banco Central
Colunista analisa cenário que envolve próxima reunião do Copom, oportunidade em que se espera redução da taxa básica de juros (Imagem: Raphael Ribeiro/ BCB)

Por Sidnei Nehme, Economista e Diretor-Executivo da NGO Associados Corretora de Câmbio

Em nosso entendimento o Copom teria maior conforto para reduzir a taxa Selic num ambiente com o real mais desvalorizado no momento, contudo desde a semana passada fundos hedges nos Estados Unidos e agora, também, os fundos nacionais que operam no mercado futuro de dólares acentuaram seus movimentos de desmonte de posições “compradas” e/ou “aumento de posições “vendidas” e este fato acaba por conter o viés de alta do real”.

Pelas circunstâncias pontuais da ação do Banco Central (BC) e, também, do ambiente externo decorrente dos ataques afetando o mercado de petróleo, o real deveria estar apresentando depreciação maior frente ao dólar, mas ocorre que dentre as moedas latinas é a que menos reflete este quadro e não repercute nem a valorização do dólar frente a cesta de moedas de países desenvolvidos.

Se mesmo assim o Copom vier a promover a redução de 0,50% na taxa Selic o fato poderá alavancar a alta da taxa do dólar no mercado à vista, podendo haver o risco da disfuncionalidade com a taxa do mercado futuro sinalizar preço inferior ao do mercado à vista se isto não ocorrer, pois o mercado de cupom cambial promoverá esta pressão.

Consolidando o Copom a redução da Selic para 5,50% nesta oportunidade, quarta feira próxima, ficará definitivamente afastada a possibilidade de o país angariar/esperar algum fluxo de recursos externos especulativos e forjados a partir de operações de “carry trade”, que ficarão menos viáveis e prováveis com o contexto resultante, já que se espera redução, na mesma data, da taxa de juro americana de 0,25% pelo Federal Reserve.

Como temos salientado o quadro Brasil está envolvido por um cenário em que se identificam inúmeros contraditórios e atipicidades, com fatores positivos marcantes e da mesma forma fatores negativos não menos relevantes.

Até imaginar-se a manutenção da taxa Selic mesmo com o Copom açodado pelas circunstâncias não se pode colocar como absolutamente improvável, seria uma decisão preponderantemente técnica.

Não é fácil mexer numa peça do tabuleiro sem afetar demais de forma inevitável e neste jogo não pode haver erros, e as decisões não serão fáceis e nem com a clareza que se possa ambicionar.

A realidade é que, embora o Boletim Focus projete agora uma taxa mais agressiva do dólar para o final do ano como R$ 3,90, já distante dos R$ 3,75/3,80 de passado recente, não se vê perspectivas do fluxo cambial para o Brasil revelar recuperação na dimensão adequada.

Também não se pode esperar que o BC permaneça por longo período fomentando a liquidez do mercado à vista com sua intervenção de oferta diária de reservas, e nem perdure sua ação de sustentação do preço com a oferta dos swaps cambiais reversos.

Então, há uma incógnita no cenário prospectivo, pelo menos no curto prazo, pois o cenário conturbado global não permite que de forma concreta se possa projetar qual o tamanho do retrocesso da economia global com os entraves, que se alargam, iniciados e estimulados pelo confronto comercial entre Estados Unidos e China.

Sabido é que no contexto atual não haverá vencedores, mas perdedores em maior ou menor escala, com eventuais e transitórios benefícios para aquele ou aqueles países em detrimentos de outros.

Mundo
Cenário externo é avaliado e pesará na decisão do Copom (Imagem: Pixabay)

A China já emite sinais preocupantes em sua atividade econômica, tanto quanto a União Europeia com ênfase à Alemanha, que tem a proximidade com a complexidade do Brexit perturbadora, e os Estados Unidos, ainda firme não pode contestar.

Logo, também, pode entrar na mesma linha recessiva, algo que preocupa o seu Presidente Trump, candidatíssimo à reeleição que, além da China, tem um embate particular com o Fed americano.

O Brasil da Reforma da Previdência que está em linha final para criar perspectivas de solução, ainda que parcial, para a preocupante crise fiscal com a qual convive, perdeu praticamente o primeiro ano do mandato do novo Presidente, para então ir para a fase 2 que envolve a Reforma Tributária que não permite melhor expectativa de tempo.

Sabe muito bem que não será ancorado nestas reformas absolutamente positivas que conseguirá reanimar a débil atividade econômica, passando a motivar investimentos, gerar empregos, renda e consumo.

O setor produtivo está desmotivado ao investimento, visto ter capacidade ociosa expressiva, e sentir a falta de potencial de consumo da população, que está carente de renda e, portanto, sem força de consumo.

Então, a “janela” que se vislumbra é que sendo “celeiro do mundo” nas commodities o BC possa estimular o setor do agronegócio com taxa cambial mais elevada, e na margem aumentando a capacidade competitiva do setor industrial, para buscar pelo comércio externo a retomada da atividade econômica que se mostra inviável a partir do mercado interno.

O mercado externo está confuso, às vezes favorável às vezes desfavorável, mas há inquestionavelmente oportunidades e que o Brasil tem potencial para aproveitar de forma pontual.

Então, a taxa cambial um pouco fora do seu contexto técnico de equilíbrio, visto que o país não tem risco de crise cambial face às suas soberbas reservas cambiais, faria parte do jogo brasileiro neste momento em que cada país tende a fazer uso de todas as estratégias possíveis.

A atividade econômica está tão debilitada que a capacidade de repasse da elevação do dólar para os preços relativos fica mitigada pelas circunstâncias.

Há muito o que se observar!

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