Opinião

Sidnei Nehme: Fluxo cambial negativo, juro interno e externo estreito, aversão ao risco,…

06 ago 2019, 13:47 - atualizado em 06 ago 2019, 13:47
Colunista faz análise sobre possível “guerra cambial” entre EUA-China

Podem afetar o custo do mercado de cupom cambial e pressionar formação de taxa de câmbio do mercado a vista, exigindo vigilância e intervenção do BC irrigando liquidez com oferta de linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra, ou, quem sabe, indo um pouco além!

Um pouco devido as nossas próprias causas e outro tanto da inusitada deflagração de um movimento, que pode ser chamado de “guerra cambial”, por parte da China em retaliação ao novo tarifaço dos Estados Unidos aos seus produtos, “sacando” uma estratégia que tem forte impacto no comércio internacional e na concorrência entre os países, visto que tem o potencial rápido de criar “artificialmente” competitividade vantajosa para uns em detrimento de outros, e a China tem grande poderio de gestão sobre a paridade de sua moeda, o yuan.

A ação chinesa denota ter pego de surpresa os Estados Unidos e, como consequência, os demais mercados globais que sentiram o “golpe” e passaram a uma postura defensiva e impondo relevante aversão ao risco, atingindo com ênfase os mercados emergentes.

O “estrago” foi geral, suscitando críticas do Presidente Trump ao FED americano, mas este é um problema de difícil contenção com palavras e reclamos.

O dólar se valorizou globalmente e a aversão ao risco eleva a demanda pela moeda americana como defesa natural, provocando posturas defensivas em todos os segmentos do mercado financeiro em todos os países.

A guerra cambial se tornada efetiva pode se tornar um movimento preocupante para o ordenamento comercial global, sendo muito perturbadora.

Então, mais do que nunca, voltamos ao “Random walk”, o preço será o de ontem mais os fatos novos, e a desordem passa a predominar.

Como reação todos procuram o “porto seguro”, o dólar, que se fortalece e acentuam a aversão ao risco que fragiliza as demais moedas, em especial as emergentes.

E o Brasil fica vulnerável neste contexto à forte apreciação do dólar frente ao real, com o agravamento maior do fluxo cambial que já vem negativo e pode se intensificar a aversão ao risco motivando intensificação de saída de recursos para o exterior, que combinado com os efeitos do estreitamento maior havido entre o juro externo e interno pode impactar forte no custo do cupom cambial, aviltando o preço da moeda americana no nosso mercado a vista, o que tornará imperativa a intervenção do BC, primeiramente com a oferta de linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra, e em caso extremo, com a oferta efetiva de moeda estrangeira das nossas reservas cambiais.

Como já havíamos ressaltado em textos anteriores, as reformas em andamento e as sinalizadas como novas proposituras não têm a capacidade de determinar a retomada da atividade econômica brasileira visto que a conjuntura presente exige muito mais do que ordenamentos, que são importantes, mas não suficientes, visto que o país carece de potencial de consumo e isto, em termos efetivos, depende de geração de empregos, renda e consumo, que encontra o Governo sem potencial de investimentos e o setor produtivo sem motivação para investimentos face à substantiva capacidade ociosa presente e estoques.

E agora para complicar ocorre este desarranjo maior na cena global, que conspira diretamente contra os países emergentes, e, tende a tornar mais árdua a ambicionada trajetória para o desenvolvimento.

Momento poderá se tornar extremamente perturbador, e, em nada contribuir para o Brasil, que já estava às voltas com as suas inviabilidades presentes de difícil superação.

Este “corner” em que está o Brasil, sugere que somente ele (Brasil) poderá fazer algo em seu próprio benefício para buscar sair desta enrascada, por isso mencionamos ontem a possibilidade de avaliar com toda acuidade possível a utilização de parte das reservas cambiais, algo como 10%, para repor capacidade de investimentos fundamentais ao Governo e, desta forma, alavancar a retomada do emprego, renda e consumo e desenvolver em conjunto programa de privatizações na busca de capitais estrangeiros na conta capital, longo prazo, e desta forma, criar condições para que o setor produtivo ganhe motivação ao investimento.

O dólar tende a manter o viés de alta em razão da situação conjuntural, a despeito do país não ter risco de crise cambial e estar muito bem defendido pela exuberância de suas reservas cambiais e déficit em transações corrente equilibrado.

Como conforto não empolgante, a retomada da atividade econômica pode ficar mais distante, mas aumenta muito a nossa capacidade exportadora.

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