Mercados

Sidnei Nehme: Feriado americano cria volatilidade nos mercados. No Brasil, causas são internas!

22 nov 2018, 13:31 - atualizado em 22 nov 2018, 13:31

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

Há inúmeros fatores externos afetando comportamento das moedas europeias em relação ao dólar, com ênfase a libra esterlina, como reflexo dos acontecimentos em torno do acordo União Europeia e Brexit, mas nos parece um pouco além do razoável buscar-se sinergia entre este fato e o comportamento do preço da moeda americana no Brasil.

Mas, o preço do dólar inicia o dia no Brasil sustentando uma alta iniciada ontem, enquanto o índice do dólar em 96,322 aponta queda de 0,27% ante a cesta de moedas.

Hoje é o dia do mais importante feriado americano, Dia de Ação de Graças, e o mercado americano estará fechado, e isto viabiliza comportamento volátil nos demais mercados globais.

Mas no Brasil, a inquietação decorre de fatores internos pontuais.

O peso da crise fiscal que agrega prêmio de risco no preço da moeda americana no nosso mercado local, com interferência também na postura dos investidores na Bovespa, é muito significativo.

Entendemos que este fato, combinado com os posicionamentos expressivo de “comprados” e “vendidos” no mercado futuro, provoca movimentos mutantes, porém limitados aos parâmetros entre R$ 3,70 a R$ 3,80.

Ocorre que os “comprados” que encetaram forte movimento especulativo entre meados de agosto até o final de setembro ainda detém fortes posicionamentos, e, relutam em contabilizar os eventuais prejuízos com o esvaziamento ocorrido da especulação que retroagiu o preço do dólar de R$ 4,20 aos parâmetros atuais e só não o deprimiu mais intensamente devido o atual preço agregar um prêmio de risco oriundo das incertezas em torno da viabilização da crise cambial.

Não revertendo as posições “compradas” demonstram que ainda estão atentos focando reduzir os prejuízos ou até mesmo revigorarem momentaneamente um discreto movimento especulativo, valendo-se da oportunidade que o retardamento de sinais concretos de alinhamentos para equacionamento da crise fiscal para estressarem excita um pouco os ânimos do mercado de câmbio.

É o que se observa no momento, mas certamente este movimento que se observa é pontual e não sustentável, embora possa haver um esforço por parte dos “comprados” para conduzi-lo até a virada do mês quando ocorre a disputa em torno da fixação da Ptax referencial para ajuste das posições.

O fluxo cambial até 16 passado não sinalizava qualquer pressão de saída de recursos estrangeiros do país, o que também não é observado nesta semana, deixando bastante evidente que a pressão de alta do preço da moeda americana é decorrente de ações entre “comprados”, em especial, e “vendidos” no mercado futuro, ancorados nas expectativas em torno das perspectivas para a crise fiscal.

Os “comprados” estão apostando que o novo governo dispenderá um prazo maior para poder consolidar de forma razoável a Reforma da Previdência, que poderá ensejar embates e discussões com um Congresso parcialmente renovado, e assim, protelar este clima de incerteza por um período mais longo.

O processo de distensão do preço do dólar para uma depreciação adicional consistente até próximo de R$ 3,40/R$3,50 e mesmo a Bovespa registrar um volume mais relevante de investimentos estrangeiros e renovar as altas nos parece muito dependente dos direcionamentos focando de forma crível a superação ou adequação da solução para a crise fiscal.

Ratificamos nossa convicção de que o preço do dólar tende a manter flutuação entre R$ 3,70 e R$ 3,80 e a Bovespa entre 80 e 90 mil pontos, até que o novo cenário surja criando contexto favorável para a crise fiscal.

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