Dólar

Sidnei Nehme: Fed enaltece otimismo com sua economia! Brasil não está em momento favorável

18 jul 2018, 8:00 - atualizado em 18 jul 2018, 7:09

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

A percepção exposta pelo Presidente do FED americano é de que tudo vai bem com a economia dos Estados Unidos, e assim, o ritmo de ações/medidas em torno da política monetária deve seguir como previsto sem atropelos e cumprindo o já definido em termos de ajustes na taxa de juro com gradualidade.

O clima em torno das expectativas é impactante e foram colocadas pelo Presidente do FED de forma bastante contundente, com somente ressalvas quanto à guerra comercial, mas sem potencializá-la no contexto.

Naturalmente que este quadro é indutor ao deslocamento de recursos financeiros do mundo todo para os Estados Unidos, valorizando o dólar, mas deixa também excelente oportunidade para alguns emergentes em condições de menor risco receber ou permanecerem por mais tempo com recursos estrangeiros em bom volume nos seus mercados financeiros, desde que proporcionem oportunidades para rentabilidade concorrencial com as remunerações do mercado americano compatíveis com os seus riscos.

Em tempos idos, o Brasil estaria na linha de frente dos emergentes para continuar se beneficiando destes fluxos financeiros, mas agora, convenhamos, há por aqui tantas dúvidas e incertezas, além de um “status quo” preocupante a partir de sua expressiva crise fiscal sem atenuantes em perspectiva segura, além de revelar perda excessiva de dinamismo na atividade econômica que mantém um grau irreversível de desemprego, com reflexos diretos na renda e no consumo, e sinais preocupantes de reaquecimento inflacionário que pode evidenciar que o nível da taxa de juro SELIC está baixo e convivendo com expectativas conturbadas no entorno de um processo sucessório presidencial absolutamente indefinido e preocupante, quer quanto às tendências de um novo governo ou quanto ao clima forte de insegurança jurídica presente.

Lamentavelmente não é um bom momento para o Brasil, habitualmente sempre a “estrela da cia” dos emergentes, pois há fatores que tiram a atratividade pelo país neste momento.

As reações da Bovespa e do preço do dólar ontem podem ser consideradas atípicas e fora do contexto, ou seja, pontuais por interesses presentes, quais sejam preços de ações melhores para ancorar movimento de venda por estrangeiros que prevemos para o final deste mês e primeira quinzena de agosto e apreciação do real frente ao dólar descolada do fundamento, já que a moeda americana se valorizava no mercado internacional em torno de 0,50% frente as 6 mais importantes moedas.

A perspectiva para o Brasil é muito sugestiva de perda de foco na performance de sua economia e nas oportunidades de rendimentos de oportunidade por parte dos estrangeiros, pois as perspectivas afastam o Brasil como opção no radar dos mesmos, o que tende a reduzir o apetite externo por ações de empresas brasileiras, até que ocorra a eleição e se tenha definido o novo governo e suas diretrizes, e neste hiato entre o agora e aquele ponto futuro tende a ocorrer movimento de retração e observação em relação ao país.

Não se espera postura diferente do empresariado brasileiro quanto a novos investimentos, o que não cria expectativas de recuperação do emprego, renda e consumo, o que não sanciona qualquer tendência à retomada de dinamismo da atividade econômica.

O interregno deve prevalecer, minimamente, por um semestre. O “depois” vai depender do que resultar das eleições presidenciais.

Cada vez mais a eleição será o ponto central das atenções e preocupações, esperando-se acirramentos jurídicos e políticos, e este cenário deve provocar um ambiente de inquietação e retração.

Mesmo os mais ousados especuladores externos não devem estar dispostos a conviver com o ambiente de incerteza que deve prevalecer nos próximos meses.

No câmbio, parece inevitável que tenhamos acentuado o movimento de saída de capitais estrangeiros do mercado financeiro, embora estejam protegidos por “hedge”, mas o grau de incertezas em torno do país, com reflexos no conceito risco, deverá impor a postura de precaução.

Por isso consideramos temerário e enganoso o aparente entusiasmo em torno da alta na Bovespa, pois pode ocorrer movimento de realização em sequência. É necessário ficar atento.

Não vemos nenhum risco de crise cambial, como temos destacado o Brasil tem instrumentos operacionais para atender demanda por proteção cambial, embora o volume de swaps cambiais no mercado em torno de US$ 67,0 Bi sugira que a demanda esteja plenamente atendida, e no mercado de câmbio a vista, através das linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra, ancoradas no substantivo volume de reserva cambial possuído pelo país.

O BC, após uma intervenção inicial um tanto atabalhoada com intenso volume de oferta de swaps cambiais, que acreditamos tenha fomentado movimento especulativo e até a distorção de ter tornado operação típica de proteção de risco cambial em aplicação de renda variável, assumiu postura tecnicamente correta.

Atualmente, só promove intervenção quando detecta demanda por proteção cambial efetiva, agora quase que limitada a rolagem de posições vincendas de swaps cambiais, ou demanda no mercado à vista, com a oferta de linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra.

Estes são os fatores alcançáveis por suas intervenções e que tem capacidade para influenciar, no mais poderão ocorrer outros fatores de impactos na formação da taxa cambial que serão imponderáveis, insensíveis a qualquer ação de parte do BC, e que poderão impactar elevando ou até diminuindo o preço da moeda americana.

O preço atual entre R$ 3,80 até R$ 3,95 parece adequado aos fundamentos no entorno da formação do preço da moeda americana no nosso mercado, que já precificou alguns presumíveis impactos que estão no radar.

O dólar tem neste momento viés de alta contido e eventual depreciação será evidentemente uma anomalia e poderá vir a repercutir no seu preço alguns fatores imponderáveis como as perturbações no entorno das eleições, ou ainda alguns impactos de fatos externos de grande repercussão efetivamente, e então o preço da moeda americana poderá sofrer pressão de alta, mas nestas circunstâncias as intervenções do BC serão absolutamente ineficazes.

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