Sidnei Nehme: Exacerbações momentâneas não deverão afastar patamar do dólar de R$ 4
Por Sidnei Nehme, Economista e Diretor-Executivo da NGO Associados Corretora de Câmbio
Os movimentos intensamente voláteis no preço da moeda americana no nosso mercado, pós leilões envolvendo petróleo realizados pelo governo quarta-feira e ontem, atribuídos em sua intensidade ao insucesso dos mesmos, tem fundamento, mas incontestavelmente muita especulação, muito comum neste mercado dada a suscetibilidade do câmbio a fatos marcantes.
Mudou de patamar a perspectiva do preço?
A rigor não, mas deu maior sustentabilidade à projeção do mesmo no em torno de R$ 4,00, já que o “aguardado” fluxo de ingressos de capitais estrangeiros da ordem de US$ 8,5 Bi foi frustrado. Isto poderia provocar a depreciação do preço até próximo de R$ 3,80, pois os volumes de recursos estrangeiros financeiros que saíram do país no último trimestre (ago-out) no montante de US$ 23,3 bi.
Os volumes sugerem um deslocamento de saídas que tradicionalmente se acentuariam em novembro e dezembro como resultados de empresas acrescidos de grande montante de capitais especulativos que perderam viabilidade no nosso mercado, face à forte tendência de maior queda do juro interno no Brasil, descaracterizando-o como o oásis da especulação.
Um impacto forte de ingresso certamente poderia apreciar o real frente ao dólar, como não aconteceu o preço da moeda deve ganhar consistência ao redor de R$ 4,00, afastando o viés de queda para o 1º trimestre quando se espera melhora dos fluxos de recursos estrangeiros, agora de melhor qualidade, para o nosso mercado financeiro, com ênfase à Bovespa, na medida em que haja melhor consistência na projeção do PIB 2020 em 2,5%, para investimentos na infraestrutura.
Há o claro entendimento de que o modelo do leilão era ruim e envolvia preço elevado e isto foi determinante para o insucesso que nada teve a ver com questões políticas.
É uma questão temporal, a rigor deverão ser reativadas as colocações de papéis brasileiros no exterior aproveitando o CDS baixo, o que também agregará para a melhora do fluxo cambial.
Além disto, deve ser incrementado o programa de privatizações e o país tem enormes oportunidades de investimentos na infraestrutura.
A formação do preço do câmbio se ancora em perspectivas e estas, afora movimentos pontuais sem sustentabilidade como ocorre no momento, mais emocional do que racional, indica que o quadro prospectivo para a economia brasileira é bastante favorável, já estando o país na direção certa e o impulso agora será na intensidade/velocidade que deverá fomentar a criação de emprego, renda e consumo.
Não há razões para exacerbação no preço do dólar, o BC vendeu a mercado, reduzindo as reservas cambiais, montante ao redor de US$ 23,0 Bi ante um fluxo cambial negativo da ordem de US$ 22,0 Bi, e vem agindo para não interferir na formação do preço ao conjugar seus leilões de moeda efetiva com a retirada de derivativos que não é moeda, mas tem efeito inverso no mercado futuro ao da oferta de moeda no mercado à vista, em montante equivalente com os swaps cambiais reversos.
Se houver alguma atipicidade, o BC pode conter anomalias simplesmente mantendo a oferta no mercado à vista e retirando a oferta de swaps cambiais reversos no mercado futuro.
Nada que inspire preocupações no câmbio, o Brasil está bem defendido e o BC tem refinamento operacional para agir pontualmente.