Opinião

Sidnei Nehme: Eventos relevantes impõe cautela e reduzem ímpeto e ofuscam o otimismo!

26 jun 2019, 10:14 - atualizado em 26 jun 2019, 10:14
Colunista faz breve relato sobre mercado financeiro e dólar (Imagem: Pixabay)

Sidnei Nehme é Economista e Diretor-Executivo da NGO Associados Corretora de Câmbio

Esta semana está repleta de eventos pontuais relevantes interna e externamente, com calibre para gerar impactos no mercado financeiro local e global, por isso é absolutamente compreensível a postura de cautela e sensatez, diríamos mais defensiva, sem que, contudo, se possa afirmar que retira o otimismo presente no mercado brasileiro, mas evidentemente o ofusca.

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E além dos eventos “agendados” e merecedores de atenção, no Brasil ainda surge o imponderável absolutamente imprevisto fomentado pelo retorno das picuinhas políticas e inquietações jurídicas em torno do mesmo.

O cenário prospectivo em torno do Brasil tem melhorado de forma consistente com a percepção de que a Reforma da Previdência, ainda que com alguns retardos e ruídos de última hora por parte dos políticos contrários aos interesses do país, será aprovada, possibilitando que o governo obtenha algum alívio na crise fiscal, o que incrementa o retorno do otimismo, mesmo com a Ata do COPOM colocando a perspectiva de estagnação da atividade econômica no 2º semestre.

Melhor ter colocado esta severa visão e ficar com o “risco” de ter um contexto melhor, do que fazer projeções que possam gerar decepção no momento seguinte, afinal não deixa de ser uma boa estratégia.

Afinal, não ter dado ênfase à redução da taxa de juro SELIC como fator de estímulo à retomada da atividade econômica, dando maior importância ao investimento privado e destacando a fragilidade da possibilidade do investimento público, também revela postura estratégica, mas naturalmente, com os níveis inflacionários atuais, o COPOM deverá reduzir a taxa SELIC visando o estímulo ao investimento.

Mas mesmo com este raio “x” posto, o fato é que o Brasil estava armazenado um ambiente econômico tão deletério que não há “risco de piorar” muito mais e assim o novo cenário que vem surgindo é fomentador de otimismo e tende a dar impulso a atividade econômica e suas consequências diretas, muito provavelmente até “desapontando” a perspectiva de estagnação projetada pelo COPOM/BC para o 2º semestre.

Eliminado o “risco de piorar” ficam mitigadas, em termos, as possibilidades de movimentos especulativos que apostam no caos, e, naturalmente, deve surgir o soerguimento gradual, cauteloso, porém promissor.

Desta forma, tudo vai ficando mais real e avaliável e permite que se construam perspectivas efetivas de melhora, sendo que o mercado financeiro tende a antecipar esta percepção e repercuti-la nos seus desempenhos, quais sejam redução do juro, alta da Bovespa e queda do preço da moeda americana, eliminando artificialidades especulativas, e então o Brasil poderá passar a conviver e repercutir seu ambiente interno, que deverá ser estimulado, mas estando tudo mais alinhado passa a ter maior sinergia com os fatores externos que passam a impactar no comportamento do nosso mercado financeiro e formação de preços dos ativos.

Ontem foi um dia em que a conjunção de fatores imponderáveis internos e a gama de preocupações externas impactaram levando a Bovespa a um movimento reversivo orquestrado por realização interrompendo o ímpeto de valorização e afetando de forma reversiva a tendência de apreciação do real frente ao dólar.

Evidentemente que os factoides político-jurídicos internos já contumazes passarão e as tensões externas mais agudas costumam ter mais ruído do que causa efetiva, ainda mais quando impulsionadas pelo destempero do Presidente Trump, e a Reforma da Previdência brasileira acabará sendo aprovada, dando oportunidade para restabelecimento do otimismo. Perde-se tempo, mas não necessariamente se perderá a direção.

O G-20 parece subjugar a importância da manifestação do FED esta semana, embora pontualmente para o Brasil sinalizações da autoridade americana na direção da redução da taxa de juro seriam muitíssimo interessantes, mas os sinais foram desapontadores.

Powell, Presidente do FED, enfatizou, quase que respondendo ao Presidente Trump, como destacado o texto pelo br.investing.com:

“O Fed está isolado das pressões políticas de curto prazo – o que muitas vezes se referem à nossa ‘independência'”, disse Powell em comentários preparados para o Conselho de Relações Exteriores.

“O Congresso optou por isolar o Fed dessa maneira porque viu os danos que frequentemente acontecem quando a política monetária é modificada por interesses políticos de curto prazo. Os bancos centrais das principais democracias do mundo têm uma independência semelhante”.

Houvesse sido enfático deixando transparecer propensão a reduzir a taxa de juro americana, haveria reflexos imediatos no Brasil, de vez que induzem os investidores estrangeiros à aceitação de maior risco e perspectivas de maiores lucros, e isto seria alvissareiro para a Bovespa, mas como não ocorreu houve o recrudescimento alterando a percepção a respeito da postura do FED nos últimos dias, e, naturalmente ofusca as perspectivas de curto prazo.

A questão USA-Irã causa estresse tendo em vista que ambas as partes são destemperadas e envolvem reflexos comerciais, com destaque à produção de petróleo.

E, a menos que ocorra uma grata surpresa, não se esperam avanços mais significativos no embate China-USA ao longo o G20.

A queda acentuada da taxa cambial da moeda americana no Brasil aproximando-a de R$ 3,80 promoveu a intensificação de transações no mercado à vista de câmbio, em especial pagamento de importações e outras saídas, que vinham sendo represadas em decorrência do alto preço do dólar decorrente da especulação no mercado futuro.

Desta forma houve aumento de demanda no mercado à vista, onde os bancos vem de longa data mantendo posições “vendidas” (descobertas) em torno de US$ 20,0 Bi lastreadas parcialmente com linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra concedidas pelo BC.

Com esta intensificação pontual, o BC de forma vigilante e assertiva realizou uma oferta nova de US$ 1,0 Bi de linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra, irrigando a liquidez, cumprindo o seu papel, sem alardes e de forma correta, respondendo à disfuncionalidade observada no mercado, consequente ainda do baixo fluxo de ingressos de recursos no país.

A semana sugere a continuidade de cautela e sensatez, principalmente agora, que após os ajustes recentes na Bovespa, juros e no câmbio, quando passamos a repercutir sinergicamente movimentos externos pontuais na formação de preços destes segmentos.

Agora sim é necessário observar-se aqui e acolá.

A fala do Presidente do FED tirou força na dinâmica da apreciação do real frente ao dólar e das perspectivas mais imediatas de fluxos para a Bovespa, mas não tendem a alterar o direcionamento da recuperação do ânimo dos investidores, somente o ímpeto momentâneo e pontual, e a tendência de valorização da Bovespa e apreciação do real frente ao dólar retornará.

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