Opinião

Sidnei Nehme: Euforia dos mercados local e externo têm convicção da vitória de Bolsonaro

08 out 2018, 11:07 - atualizado em 08 out 2018, 11:07

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

A vitória do candidato do PSL não foi consumada no 1º turno, mas tamanha foi a expressividade da sua votação frente ao concorrente do PT, que ficou numa espécie de “second by far”, que o mercado financeiro nacional e até no exterior reage como se a questão estivesse resolvida, sendo tão somente uma questão de tempo.

O percentual residual faltante parece ser facilmente alcançável pela adesão de partidários de outros candidatos que ficaram à margem da disputa, contudo, embora toda a sinalização seja consistente é imperativo que não aconteçam prognósticos com distorções expressivas que tornem imperceptíveis os indicadores incompatíveis com o cenário prospectivo do país, que está eivado de relevantes e desafiadores desajustes, a partir da inércia da atividade econômica, expressivo déficit fiscal que praticamente “engessa” as atividades de governo pró reativação e desenvolvimento, e dos quais dependem diretamente a recuperação do emprego, renda e consumo.

A B3 pode ter um movimento corretivo, mas é relevante que não exceda o que é possível agora, o valor de seu índice em dólar é equivalente a 10 anos atrás, enquanto o DJ foi multiplicado por 3 e o Nasdaq por 6 ao longo deste período.

O dólar que foi recentemente submetido a forte movimento especulativo desprovido de fundamentos e que veio perdendo consistência tende a retornar ao seu preço de equilíbrio, que consideramos R$ 3,80 e num primeiro momento de euforia até R$ 3,70, mas é importante considerar que a este nível de preços precifica os demais problemas expressivos e negativos que afligem o país.

Então, em meio a euforia é relevante que se tenha sensatez para evitar exacerbações além do razoável, até porque, a rigor, não se conhecem os planos econômicos nem do candidato provável vencedor e nem do outro candidato.

Idealmente, para ser proveitoso o interregno entre o 1º e 2º turno, os debates deveriam focar as definições programáticas de ambos, para que se possa avaliar melhor e criar expectativas, ainda que não acreditemos que tenham poder de alterar um quadro bastante presumível de resultado eleitoral.

Infelizmente, a tendência é de que se assista um forte acirramento de discussões ancoradas em ideologias e sectarismos, postas de todas as formas, visto que alguns vivenciaram o passado, outros leram a história e esta tem sempre 3 versões e os demais ouviram falar, e assim devem prevalecer as abordagens conhecidas e pouco se colocando prospectivamente, que é o que interessa, se falando muito de passado para ancorar posturas filosóficas.

Assim, à margem da nova formação do preço do dólar naturalmente deverá ocorrer o enfrentamento de “comprados”, predominantemente estrangeiros, e “vendidos” predominantes fundos e bancos. Este embate deverá promover volatilidade, embora consideremos que o viés seja de confirmar o preço entre R$ 3,70 a R$ 3,80.

Como já havíamos posto desde o início do mês passado, os especuladores, “comprados não hedge”, estavam em posição de elevado risco de perdas.

O Boletim FOCUS reajusta na edição de 5 divulgada hoje a projeção para o IPCA para 4,40%, naturalmente refletindo as pressões do curto período de exacerbação do preço do dólar, mas com a forte correção conduzindo-o ao preço de equilíbrio os efeitos deverão ser contraídos e poderão reverter um pouco esta projeção, se bem que no Brasil a propensão a elevar preços seja sempre mais consistente do que a de reduzi-los.

A projeção do preço do dólar contido no FOCUS em R$ 3,89 tende a ser revista na próxima tomada de indicadores junto às instituições financeiras do mercado, sendo bastante provável que retorne a R$ 3,80 ou até ligeiramente abaixo.

O novo contexto que se configura deve promover a manutenção da taxa SELIC pelo BC/COPOM em sua próxima reunião, portanto 6,50%.

Contudo, nossa expectativa face à inércia da atividade econômica e até mesmo pelo momento sugerir mais observação e menos ação por parte do setor produtivo, contendo investimentos até que sejam mais perceptíveis os programas econômicos, continua sendo de PIB de 1% distante do 1,34% do FOCUS.

Hoje poderão ocorrer exacerbações oportunas para depois, com a visão de que as perspectivas negativas para o país ainda perduram sem direcionamentos mais concretos, sem perder o otimismo poderão se tornar mais comedidas.

O dólar como salientamos inúmeras vezes, tem um contexto de tranquilidade no entorno de seu ponto de equilíbrio, a nosso juízo, que é de R$ 3,80 onde está precificado todo o conjunto de desafios internos e externos no momento.

O Brasil tem um quadro de absoluta robustez nas suas contas externas e reservas cambiais e o BC tem mecanismos operacionais efetivos para manter o mercado atendido por demandas de proteção cambial e liquidez no mercado à vista, e, doravante o cenário poderá ser mais tranquilo ainda.

Como salientamos, por mais contraditório que possa parecer, este é um segmento que não corre riscos seja qual for o presidente eleito.

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