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Sidnei Nehme: Especular contra o real poderá ser aposta de risco alto em maio

30 abr 2019, 12:33 - atualizado em 30 abr 2019, 12:33

Sidnei Nehme é Economista e Diretor-Executivo da NGO Associados Corretora de Câmbio

O mercado cambial tem convivido com um movimento especulativo, que tenta ser discreto, mas contínuo, evidenciando na volatilidade mutante e constante a presença de um certo receio em especular com o dólar contra o real no mercado brasileiro, dada a confortável situação na questão cambial que desfruta o Brasil.

As atitudes têm se ancorado com maior evidência no emocional e bem distante do racional, portanto com ausência de fundamentos concretos, por isso chegam próximo e não se sustentam no preço especulativo de R$ 4,00.

Este movimento se alimenta da “riqueza” de pequenos conflitos desgastantes em torno das tratativas com foco na Reforma da Previdência, que agregam confusões nas confusões num ambiente que já, por si, é bastante complexo.

Naturalmente esta irradiação vem do mercado futuro de dólar para o mercado à vista de dólar, que repercute sem que haja neste segmento específico volume determinante de impacto na formação do preço, mas que se comporta como um verdadeiro “balcão de apostas” no futuro e desta forma promove e convive com a projeção de suas imaginárias e algumas até reais convicções.

O fato concreto é que no mercado real por onde transita a moeda estrangeira não há fluxo de investimentos estrangeiros para o mercado financeiro brasileiro envolvendo direcionamento à Bovespa e ao câmbio, havendo sinais de discretíssima melhora no fluxo direcionado para papéis da dívida pública prefixados, cuja participação atual ronda 12,2% quando em 2014/2015 atingia 20%.

Mas também, não há fluxo de saídas de investimentos estrangeiros do país, que possa ser considerado atípico, registrando saídas no ano até o último dia 18, líquidos US$ 4,650 Bi.

Na realidade há um grande desapontamento do país com o comportamento dos investidores estrangeiros, contrariando as homéricas projeções formuladas na virada do ano e no início do ano.

A reforma da Previdência é o fator fundamental da estagnação geral dos investimentos estruturais do país, que criariam expectativas de melhora do emprego, renda e consumo, e naturalmente, da arrecadação tributária do governo, e provoca um distanciamento notório do investidor estrangeiro em relação ao país, certamente aguardando o desenvolvimento das tratativas em torno da mesma, ponto considerado vital para o restabelecimento da capacidade do país em focar política de desenvolvimento econômico sustentável.

É perceptível que a Reforma, ainda que com certa desidratação bastante provável, será validada, porém há muito burburinho absolutamente desnecessário entre todas as partes envolvidas, e agora, até certas precipitações contraditórias em torno de uma eventual Reforma Tributária que estaria em elaboração e que em nada contribui para ordenamento em torno da Reforma da Previdência, e já desloca a concentração do foco e impacta nos apoios políticos.

E, em sendo validada a Reforma deverá mudar o clima pró-caos que é propagado ardilosamente por alguns setores radicais, e naturalmente deverá arrefecer as pressões especulativas sobre o preço da moeda americana, fazendo-a retornar aos parâmetros fundamentados que sugerem preço em torno de R$ 3,75 para o final do ano.

Da mesma forma, acredita-se que haverá efetivo fluxo de investidores estrangeiros para o mercado financeiro brasileiro, em especial Bovespa, porém em volumes moderados, bastante distantes das elevadas cifras propagadas anteriormente.

O prejuízo de toda a demora na definição da Reforma da Previdência deixará um ônus expressivo ao país, que seguramente registrará um PIB bem distante das projeções iniciais.

Então, quando ocorre o retorno à realidade torna-se amplamente perceptível que é um elevado risco especular contra o real frente ao dólar, pois o Brasil tem reservas cambiais da ordem de US$ 382,0 Bi, o que não é pouco, déficit em transações correntes em torno de 0,75% e um conjunto de operações tecnicamente perfeitas para irrigar liquidez seja no mercado a vista ou futuro do dólar.

O país está muito bem defendido e deixa patente que não tem risco de crise cambial.

Quando o Diretor do Banco Central do Brasil ratifica esta pujança de defesa da moeda nacional ante as estrangeiras, bastante atípica nos países em desenvolvimento, está simplesmente “lembrando o óbvio” ao mercado financeiro que temos a confortável situação do país neste segmento, e, não sinalizando eventual intervenção decorrente da elevação do preço da moeda americana, que seria absolutamente “no sense”, num ambiente em que os fluxos efetivos da moeda não sugerem demandas concretas, mas que são simplesmente movimentos especulativos que no fundo tem frágil sustentação, amplamente percebidos pela autoridade monetária.

É tudo uma questão de tempo, com os primeiros sinais positivos em torno do andamento da Reforma da Previdência o preço da moeda americana recrudescerá fortemente.

O mês de maio poderá conviver com o fortalecimento do viés de apreciação do real frente ao dólar, de forma consistente.

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