Sidnei Nehme: Especuladores e comprados ganharam 10,13% em agosto
Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO
No confronto entre as taxas Ptax de fechamento de julho e agosto verifica-se um apreciação do preço da moeda americana de 10,13% (R$ 4.1353 vs R$ 3,7549), este foi o ganho teórico dos especuladores /comprados em dólares no mercado de câmbio brasileiro, que inflaram a taxa cambial sem que existisse fundamento crível para esta valorização.
Falsa impressão de que a ação do BC com oferta de 30.000 contratos de swaps cambiais, absolutamente inoportuna por sancionar percepção de demanda reprimida que não existe na realidade, tenha tido efeito, sendo bastante sintomática que a pressão atribuída a postura defensiva e proteção de players do mercado, decorre de movimentos fictícios puramente especulativos, outrora denominados no mercado à vista como operações “zé com zé” cujo objetivo é só incrementar o giro e alavancar a alta, que assim ancoram o movimento simulando-o como intenso.
Na última 6ª feira, após estabelecer o Ptax de R$ 4,1353, os especuladores promoveram a distensão do movimento e permitiram que a taxa cambial recuasse no seu fechamento a R$ 4,0721 ou menos, deixando o BC ficar com os louros de que a sua interferência tenha impactado no mercado, ledo engano.
Mas como dizemos a intervenção do BC estimulará a volatilidade, e a taxa cambial do dólar voltará a ser apreciada e os especuladores ficarão a espera do BC, pois na volatilidade se implanta o “daytrade” que viabiliza ganhos rápidos.
O fato é que em sã consciência não se pode admitir racionalmente que haja interessados em assumir posição defensiva para proteção adquirindo dólar ao preço de R$ 4,20 ou mais, pois o contexto Brasil não ratifica os temores em torno da exacerbação do preço da moeda americana no país.
Como temos dito e ratificamos qualquer aposta acima de R$ 3,80 até um excesso de R$ 4,00, é posicionamento de altíssimo risco.
E desta vez, até o Boletim Focus está em linha com a nossa projeção de mais de 3 meses.
O fato concreto é que, como temos insistido fortemente, o contexto cambial do país em 2018 é absolutamente diferente de 2002.
As nossas reservas cambiais, até arrogantemente enaltecidas em momentos antecedentes por alguns governantes e sem que se entre na discussão de como foram constituídas e o custo de seu carregamento na contraposição da dívida pública ao longo dos anos, desta vez devem ser pontificadas como um diferencial de altíssima relevância, e mais, permitem que o Banco Central do Brasil opere instrumentos adequados para suprir demanda por proteção, como o fez à exaustão colocando US$ 70,0 Bi no mercado, ou demanda no mercado à vista, como o fez na sexta feira rolando a posição de US$ 2,150 Bi vincenda no próximo dia 5 de setembro.
O país com US$ 380,0 Bi de reservas cambiais e déficit em transações correntes em torno de 0,7% do PIB é muito diferente da situação de 2002 quando tinha somente US$ 37,0 Bi de reservas cambiais e um déficit em torno de 1,70% do PIB. Simples assim para entender.
O desempenho da economia é outra coisa que, contudo não recomenda que se faça no Brasil do dólar o escudo (posição defensiva) adequada.
Não há no país quaisquer sinais de fuga de capitais, o ambiente cambial é absolutamente tranquilo, buscar proteção ancorando-se em posições exacerbadas de dólares é na atualidade uma ação de altíssimo risco.
No quesito cambial o Brasil é um emergente com soberba diferença em relação aos demais emergentes, pois além das reservas cambiais de US$ 380,0 Bi, absolutamente suficiente com sobra para cobrir o passivo externo, tem um déficit em transações correntes um pouco acima de 0,7% o que é muito baixa, balança comercial positiva, e o BC atendeu toda a demanda que ocorreu por proteção cambial e o mercado à vista tem um bom “colchão de liquidez” para atender a demanda nos seus volumes atuais, e, desde que haja efetiva sinalização de necessidade a autoridade monetária está apta a atender.
O que o BC não deve fazer é atender o “clamor dos menos informados” de que precisa fazer algo quando não existem razões fundamentadas para que o faça, pois interferindo no movimento especulativo, diferentemente do que se pode imaginar, viabilizará a ocorrência de volatilidade intensa onde ela está discreta, já que o viés que vem sendo impulsionado é de alta.
Desprovido de fundamentos o movimento especulativo por mais que se ancore nas questões eleitorais não tem sustentabilidade, pois seja quem for o eleito a situação cambial do país é de tranquilidade, as preocupações sérias, relevantes e imediatas do país estão na área econômica, na preocupante crise fiscal, e isto poderia estar impactando no comportamento da BOVESPA e não no câmbio, mas o mercado acionário ainda tem se mantido sem acentuada preocupação, embora seja esperado movimento de realização na medida em que as pesquisas eleitorais possam agravar as perspectivas, que afetaria as projeções para preços das ações, já que na questão cambial os recursos aportados estão, supostamente, totalmente protegidos.
O BC deve manter rigorosa postura de “observar sem intervir”, mas necessariamente deve realizar esclarecimentos pontuais e objetivos (entrevistas do Presidente do BC) esclarecendo a sólida situação do país na questão cambial, o silêncio não é boa postura.
E no mais, o BC deve manter a sensatez e observar o comportamento da inflação e da drástica redução de perspectiva de crescimento do PIB este ano, que após a revisão de 0,4% para 0,1% no 1º trimestre e 0,2% no 2º trimestre poderá não ultrapassar 1,0% no ano. Mas, agir somente se necessário só após a definição das eleições.
A questão eleitoral deve entrar agora na intensificação dos debates e elucubrações as mais diversas, mas ao preço de R$ 3,80 todas as mazelas internas e externas estão precificadas, podendo haver algum estresse e refletir na formação do preço conduzindo-o à proximidade de R$ 4,00 sem sustentabilidade.