Sidnei Nehme: Dólares esperados não chegam e frustram expectativas mais imediatas sobre preço
Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO
O fluxo cambial continua evidenciando fraqueza no ingresso líquido de recursos estrangeiros no país ao início deste ano.
Este fato frustra as expectativas mais imediatistas evidenciadas nas projeções para este início de ano.
Quem observou o movimento altista persistente da Bovespa no início do mês pode até ter imaginado que o país estava tendo consistente fluxo de recursos externos.
Da mesma forma quem observou a queda do preço do dólar de R$ 3,87 pode ter feito o mesmo juízo ao vê-lo cair a R$ 3,70.
Mas as aparências nem sempre correspondem à realidade dos fatos.
A Bovespa sofreu um forte impulso altista a partir de investidores locais que buscaram antecipar-se à chegada dos investidores estrangeiros, o que ainda não ocorreu e já há mais sensatez quanto a perspectiva deste movimento esperado que pudesse até acontecer, mas em bases mais moderadas e condicionadas a materialização de medidas efetivas do novo governo focando o equacionamento da crise fiscal e os entraves mais relevantes que estão travando a retomada da atividade econômica.
Nesta fase, após quebras sucessivas de recordes, a Bovespa parece entrar numa fase de comportamento mais tênue, sem grande empolgação, mas mantendo o otimismo em perspectiva.
Os investidores estrangeiros estão retraídos e focando a efetivação de medidas concretas por parte do novo governo.
O dólar, para o qual a grande maioria de projeções apontava para R$ 3,70/R$ 3,75 ao final de 2018, acabou desapontando ao ter seu preço elevado pelo mercado para R$ 3,87, que entendemos e expusemos o nosso ponto de vista atribuindo a um movimento estratégico por parte dos bancos para “reduzir” os seus ganhos nas posições vendidas no mercado futuro de dólar, assim entendido dólar futuro e cupom cambial.
A ação foi puramente defensiva, visto que não seria conveniente apurar o todo do lucro com a taxa Ptax ficando no entorno de R$ 3,70/R$ 3,75 e ficar com o risco de uma reversão posterior determinando prejuízo no exercício seguinte. Ficou notório o movimento visto que no início de janeiro a moeda americana teve queda de 4% e retornou ao intervalo de R$ 3,70/R$3,75, seu ponto de equilíbrio.
Os bancos, diferentemente dos fundos de investimentos que mantém aposta elevada na apreciação do real frente ao dólar, reduziram suas posições vendidas no mercado futuro de dólar, e este movimento pode ser entendido como perda de convicção de queda maior no preço da moeda americana no curto prazo.
Os bancos tem também um relativo desconforto no momento, pois detento posições vendidas no mercado à vista da ordem de US$ 24,729 bi, data base dia 11, provavelmente tivessem expectativa de fluxo cambial mais intenso ao início do ano. Até o dia 11 último o fluxo cambial líquido no mês registra somente US$ 136,0 mi positivo.
As posições vendidas dos bancos estão ancoradas em linhas de financiamento concedidas pelo BC em moeda estrangeira com recompra no montante de US$ 12,250 bi.
Certamente o montante de posições vendidas dos bancos está adequadamente protegido, mas o desconforto vem da necessidade de fluxo efetivo para cobri-las não sendo razoável admitir que o BC forneça cobertura efetiva em moeda de forma definitiva para os bancos, o que não seria apropriado para o momento, visto que causaria ruídos e o país tem uma posição bastante tranquila em suas contas externas e volumosas reservas cambiais.
A rigor, os bancos neste momento devem nutrir expectativa também que o fluxo cambial melhore caso contrário a pressão altista ocorrerá e isto não interessa aos mesmos, e por outro lado não há ambiente, em função do quadro no mercado à vista, de queda do preço porque há carência de dólares efetivos no mercado à vista.
Urge então que a materialização das medidas imprescindíveis por parte do governo ocorra, mas haverá sem dúvida um intervalo de tempo que vai além das expectativas e anseios dos players do mercado, podendo determinar o denominado “andar de lado” com discreta volatilidade até que as intenções manifestas do governo se tornem realidade.