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Sidnei Nehme: Dólar – tendência em maio poderá ser de ajuste

02 maio 2019, 17:25 - atualizado em 02 maio 2019, 17:25

Sidnei Nehme é Economista e Diretor-Executivo da NGO Associados Corretora de Câmbio

O preço do dólar no mercado de câmbio brasileiro, a despeito de todas as teorias costumeiramente que se coloquem, está acentuadamente “fora da curva” para um país que tem situação de absoluta tranquilidade na questão cambial.

Escudado por consistente estoque de reservas cambiais, algo em torno de US$ 382,0 Bi, e um déficit em transações correntes perto de 0,75%, que permitem ao Banco Central do Brasil executar operações estruturadas que suprem todos os tipos de demandas no mercado à vista e ou no mercado futuro de dólar evitando, no primeiro momento, a venda efetiva de dólares das reservas cambiais, o Brasil, neste segmento específico se faz radicalmente diferente dos demais países emergentes, habitualmente detentores de baixos estoques de reservas cambiais.

Com este suporte, não é sensato que ocorra especulação, consubstanciada nas incertezas da economia brasileira e toda sua gama de problemáticas, que o foco da pressão das incertezas fomente movimento especulativo sobre o preço da moeda americana no nosso mercado.

Do tripé básico, o juro deveria ser o foco de pressão face às presumíveis dificuldades de liquidez do Tesouro Nacional caso o governo não equacione o seu desequilíbrio fiscal; posteriormente a Bovespa ante perspectivas inseguras quanto a retomada da atividade econômica, que revitalizaria o país para a geração de emprego, renda, consumo e capacidade arrecadatória de tributos.

O câmbio, “patinho feio” das economias em desenvolvimento, sendo o principal sensor das tensões internas destes países, no caso brasileiro não é este fator referencial pelas razões já postas, mas, mesmo assim, acaba sendo motivo de especulação mais por razões emocionais e de tradição do que por razões racionais ancoradas em fundamentos sustentáveis.

Então, mesmo em um ambiente em que o movimento efetivo do fluxo cambial não revela volume condizente para qualquer intranquilidade cambial, convivendo com ingressos e saídas discretas consequentes da inércia paralisante causada pelas expectativas em torno da tramitação da Reforma da Previdência, que é fundamental para amenizar o desequilíbrio fiscal e permitir o planejamento efetivo de governo para o desenvolvimento econômico, há movimento especulativo focando o preço do dólar, em especial pelos estrangeiros, a partir do mercado futuro do dólar.

As “bolas da vez” poderão ser muitas neste momento, mas fundamentalmente tem chances irrisórias de ser o câmbio, por isso temos a convicção de que preço em torno de R$ 3,95, com “forte torcida” dos especuladores, com ecos nos comentários de mercado, de que alcance e supere R$ 4,00, está absolutamente num contexto em que qualquer aposta em sua manutenção ou no viés de alta acarretará elevado risco de perdas aos apostadores.

Este preço não tem ancoragem em nenhum fundamento, por isso é frágil e não se sustentará tão logo a tramitação da Reforma da Previdência emita os primeiros sinais positivo, deixando evidente a vulnerabilidade do preço nos parâmetros atuais.

Para o dólar, “vis-à-vis” os fundamentos e considerando as contas externas brasileiras e sua situação de absoluto conforto, o preço da moeda deveria estar em R$ 3,75, não havendo razões para que não esteja a não ser o movimento especulativo presente.

O risco é o desmonte muito rápido do preço atual face às evidências de insustentabilidade, que imporia perdas magnânimas aos “comprados” no mercado futuro de dólar, mas o mais razoável é admitir-se que a desidratação do preço ocorra gradualmente na razão direta do sucesso perceptível e gradual da Reforma da Previdência.

Seja rápido ou gradual, o fato é que racionalmente não há como o preço da moeda americana ter suporte aos preços que vem registrando atualmente, e o ajuste ocorrerá, mesmo com alguma volatilidade decorrente do esforço dos perdedores em resistir as inevitáveis perdas.

O Banco Central do Brasil tem se mantido, corretamente, como observador e não intervindo face a ausência total de necessidade, quando se manifesta tem somente o intuito de lembrar alguns fundamentos e recursos que o mercado parece ter esquecido.

Temos a convicção de que há inúmeros problemas do Brasil, mas o câmbio não é e nem será um deles.

Maio poderá ser marcante na apreciação do real frente ao dólar, tem tudo para ser.

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