Sidnei Nehme: Dólar, juros e inflação podem contrariar expectativas em 2018!
Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO
Para quem observa as projeções expressas pelo mercado financeiro no Boletim FOCUS do BC, o Brasil terá o ano de 2018 sem atropelos e imune a todo o contexto nervoso interno que se prenuncia e ao externo que sugere não será tão benigno quanto em 2017.
O otimismo contaminado pelo forte anseio para que tudo melhore parece estimular uma insensibilidade quanto aos riscos bastante presumíveis que rondam o próximo ano, com impacto severo sobre as perspectivas para o Brasil no todo.
Naturalmente que é desejável que o Brasil avance efetivamente conquistando melhores fundamentos que possam dar sustentação à melhora da atividade econômica, com mais emprego, mais renda e maior consumo, mas este anseio não pode provocar o menosprezo à realidade que envolve o país não o deixando imune aos cenários adversos que tem alta probabilidade de ocorrência.
2017 poderá ser um ano inacabado tamanho as incertezas presentes que migram para 2018. A questão fiscal expressivamente séria em seu montante deficitário é e continuará sendo um fator desestabilizador, podendo inclusive conduzir o país a um “downgrade” por parte das agências de risco.
Houve uma mudança de humor com o novo governo Temer, mas efetivamente pouco mudou de forma relevante em questão de fatos concretos de gestão em relação ao governo passado. A reforma trabalhista foi um avanço, mas há muitas contestações no STF e podem sofrer reversões dada a postura fragilizada do STF nas suas decisões mais recentes, evidenciando muitas divisões opinativas nos pareceres.
A questão fiscal em seu elevado montante continua a mesma, o desemprego teve uma discreta reversão que não pode ser considerada sustentável, a inflação real do país supera em muito a inflação oficial, o câmbio vem sendo administrado com mão forte intervencionista do BC, e o pior, os personagens políticos no entorno são os mesmos do governo passado que foi afastado.
Há um dito popular que diz: “não há feio nem bonito, depende dos olhos que o vejam”, e isto parece aplicar-se a este momento do Brasil, com uma grande massa formadora de opinião querendo consagrar o bonito, fechando os olhos para o lado feio que tem evidências concretas.
Há muitos “se” nas perspectivas para 2018.
E se a reforma da previdência não for aprovada em fevereiro, prejudicada pelo ambiente político que é um fator constrangedor para os políticos e pela irritação de lançamento de candidaturas prematuras de membros do governo.
E se o STF desfigurar a reforma trabalhista com decisões contrárias aos avanços.
E se o governo não conseguir retardar com recurso o aumento do funcionalismo e aprovar o aumento das contribuições.
E se o ex-Presidente Lula for condenado e resolver persistir no intuito de ser candidato valendo-se de todo tipo de recurso, e, causando forte tensão popular que desestabiliza o país e cria incertezas, que acabam por inibir os investimentos nacionais e estrangeiros na nossa economia.
E se ocorrer o esperado retorno de capitais americanos no exterior para os Estados Unidos, impactando fortemente nos mercados emergentes e principalmente no preço de suas moedas.
E se os Estados Unidos forem mais agressivos na elevação da taxa de juro.
E se o país sofrer um “downgrade” e inviabilizar que fundos estrangeiros possam aplicar no Brasil e mesmo os investidores nacionais e estrangeiros passe a ter postura de precaução e adiarem suas decisões.
Enfim, o tripé câmbio, juros e inflação poderá se afastar muito das projeções otimistas predominantes no momento em relação a 2018.
Enfim, teremos uma safra menor, muito estresse eleitoral interno dado as incertezas, muitos entraves para a dinamização da atividade econômica, pois pode ocorrer postura de maior precaução por parte do setor produtivo, dólar mais alto, maior dificuldade para mascarar a inflação real predominante no país e necessidade de elevação do juro SELIC.
Idealmente seria melhor acreditar que nada disto ocorrerá, e que tudo será diferente e a favor do Brasil, mas ignorar a realidade e riscos factíveis pode ter um custo elevado.