Opinião

Sidnei Nehme: Dólar em R$ 4,00 é cabalístico e viés de baixa volátil está consolidado

28 set 2018, 8:00 - atualizado em 28 set 2018, 8:00

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

Os investidores/especuladores posicionados “comprados” no mercado de câmbio, não atrelados a transações de proteção cambial (hedge), portanto operacionalizando o dólar como uma aplicação de renda variável e contando com o histórico precedente de que nos momentos de tensões e incertezas a moeda americana é o indicador mais sensível e, portanto, que tem o seu preço apreciado proporcionando excelente ganho, desta vez tem com o que se preocupar.

Certamente há uma frustração, pois o preço não ficou nem perto das fulgurantes expectativas que sugeriam a perspectiva dos R$ 5,00 ou mais, e pior, às vésperas do pleito eleitoral revela fragilidade na manutenção da alta ocorrida e sofre o impacto de crescimento acentuado do viés de baixa, visto que, desta vez, a situação cambial do país está irrepreensivelmente sólida, não permitindo sustentabilidade consistente a despeito de todos os medos propagados.

Motivos os mais diversos procuraram ancorar uma forjada tendência de apreciação do preço da moeda americana, mas embora haja ainda enorme desinformação generalizada sobre a excelente situação das contas externas brasileiras e sua reserva cambial substantiva, amplamente divulgada pelo BC, mesmo tardiamente ocorre a percepção da precariedade do movimento instalado pelos investidores/especuladores, agora também estimulada pela coincidente nova postura do mercado financeiro em relação às pesquisas eleitorais, relegando-as ao descrédito e formando seu próprio juízo.

Já a algumas semanas temos destacado que quem tinha posição comprada em dólar estava numa posição de risco. Fundamentamos todas as vezes, nunca colocamos como “achismo”, por isso vemos a deterioração do preço do dólar com extrema naturalidade.

Desde março indicávamos que o preço em torno de R$ 3,80 era o preço da moeda americana pontual e que deveria prevalecer no entorno na proximidade das eleições presidenciais, visto que precificava todos os fatores relevantes no radar e que impuseram forte depreciação do real desde o preço de R$ 3,30 por dólar.

Neste preço de R$ 3,80 tivemos, inclusive, oportunidade de ressaltar que envolvia até o cenário de eventual confronto entre o candidato do PT, que não Lula, e outro candidato, ao início não mencionamos Bolsonaro.

Internamente forte acirramento na proximidade da data eleitoral estava no radar, enquanto que, também, do exterior as duas altas de juro pelo FED este ano estavam precificadas, uma das quais já foi sancionada e a próxima provavelmente em dezembro.

A combustão das relações comerciais entre Estados Unidos e China, a despeito do intenso ruído, terá presumivelmente suas consequências no médio prazo, e efetivamente deve ter impactos favoráveis aos emergentes produtores agrícolas, mas também desfavoráveis, mas somente na prática é que se saberão as dimensões.

Neste período do ano, o foco Brasil está, como previsto, centrado na questão sucessória presidencial.

Temores em torno da questão cambial são absolutamente infundados no Brasil atualmente, porém há severas preocupações quanto às ações programáticas dos candidatos focando a reabilitação da atividade econômica, equacionamento da problemática em torno da dívida fiscal, geração de emprego, renda e consumo, e isto sim gera inquietação, mas não tem porque impactar no preço do dólar, mas sim no mercado de juro, ações, etc…

Rompido o piso de R$ 4,00 no preço, doravante é bastante promissora a perspectiva de forte apreciação do real ante a moeda americana, que pode ocorrer de forma abrupta, até antes da nossa previsão, pela precipitação temerosa dos “comprados” para saírem de suas posições, estimulados pelo impulsionamento oportuno da queda por parte dos “vendidos” ávidos para cobrir suas posições, se possível com lucro.

Os investidores na B3 estão se segurando para certamente observar com maior acuidade a perspectiva que advirá do novo Presidente, e assumem esta postura de forma sensata, com os estrangeiros tendo os seus recursos totalmente protegidos com “hedge”, e “até” sinalizam algum otimismo.

No mês de agosto houve substancial saída de recursos estrangeiros aplicados em carteira, algo em torno de US$ 10,0 Bi, certamente motivado pela certeza de que o FED promoveria a elevação do juro americano em setembro.

O quadro atual sinaliza estar consolidado o viés de depreciação do preço do dólar no mercado brasileiro, restando acompanhar para ver se o ajuste ao preço de equilíbrio dar-se-á de forma gradual ou abrupta.

Naturalmente haverá volatilidade, pois estará em confronto o receio do comprado em perder mais ou deixar de ganhar e a ansiedade do vendido por cobrir sua posição saindo do prejuízo e quem sabe até realizar um discreto lucro.

Momentos como este se houver algum destempero por parte do comprado poderá determinar uma rápida escalada de queda do preço, ou seja, como comumente denominado, um “efeito manada”.

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