Sidnei Nehme: Dezembro: bom humor, dólar com viés de baixa, Bovespa em alta
Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO
O mercado global demonstra satisfação com o “relaxamento”, que pode até ser temporário no relacionamento comercial China-Estados Unidos, e desta forma as bolsas devem repercutir o fato e o dólar, ainda que existam outros fatores pontuais de impacto no preço local deste ativo, também deve recuar ante a cesta de moedas, apontando na abertura em NY queda de 0,20%.
Mas como dizia Milton Friedman, “não há almoço de graça”, então o Brasil precisa considerar que o fato da melhora entre China e Estados Unidos pode ter repercussões relevantes na sua balança comercial. Neste ano, em consequência do embate entre as duas potências o Brasil exportou 30% a mais de soja, e o fato não deve se repetir em 2019, já que a distensão ocorre exatamente ao início da safra americana que assim potencialmente será vendida para a China, em detrimento da nossa safra que está germinando neste momento e poderá perder espaço no mercado chinês.
Mas o fato impacta forte no humor global e as bolsas devem repercutir com força e este fato pode levar a nossa Bovespa a romper de forma sustentável o teto alto de 90.000 pontos, mas ainda não de forma contundente como se espera para quando o novo governo equacionar a questão fiscal do país.
O dólar terá impacto, mas no Brasil independentemente deste fato o preço da moeda americana tem tendência forte a depreciação, visto que sabidamente não há fundamento para movimentos que exacerbem seu preço fora do parâmetro entre R$ 3,70-R$ 3,75, e o que ocorreu pontualmente na semana passada foi seguramente um ponto fora da curva, criado por uma suposta demanda acentuada ocorrida no dia 26, que teremos oportunidade de confirmar ou não na próxima quarta feira quando o BC divulgar o fluxo cambial, e um movimento bem articulado pelos “comprados” no mercado futuro de dólar buscando otimizar a perspectiva de melhor Ptax ao final do mês para mitigar seus prejuízos com a escalada especulativa desenvolvida entre agosto e setembro.
Os indicadores da economia brasileira chegam ao final do ano de forma bastante positiva, a inflação pelo IPCA, agora entre 3,89% e 3,84% pelo FOCUS, pode fechar o ano no entorno de 3,80%; o PIB embora sendo revisto para baixo pode se situar próximo de 1,30% quando já chegou a ser admitido em 1,0%; o juro SELIC tranquilo e sem nenhuma pressão em 6,50% e o dólar com acentuado viés de baixa para se situar muito próximo de R$ 3,70.
O BC seguramente deverá realizar ofertas adicionais de linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra, há um “gap” atual representado pelas posições vendidas dos bancos que deve estar superando os US$ 5,0 Bi, salvo se os bancos recorrerem ao suporte de linhas de banqueiros estrangeiros e a autoridade têm dados disponíveis para esta percepção, mas precisará estar atento para não se fazer tardio caso ocorra aumento de demanda no mercado a vista, o que é normal nos meses de dezembro.
Como temos repetido inúmeras vezes, o Brasil tem situação de contas externas amplamente confortáveis, reservas cambiais até excessivas e mecanismos operacionais estratégicos que podem ser implementados a qualquer momento pelo Banco Central, e déficit em transações correntes controlado.
A possibilidade do preço da moeda americana recuar abaixo de R$ 3,70 existe, mas no nosso entendimento será fundamental que o “prêmio de risco” representado pela expressiva crise fiscal seja aliviado, e isto, a rigor somente será possível quando o novo governo alinhar e construir perspectivas sustentáveis para o equacionamento e superação deste problema crucial para a retomada do desenvolvimento, atividade econômica, investimentos públicos e privados, geração de emprego e renda.
Há ainda um acentuado grau de incerteza sobre como e qual o tempo que será despendido para viabilizar medidas e reformas focando a crise fiscal e como se darão as conversações com o novo Congresso Nacional.
Mas é inegável que dezembro tende a ter presente ambiente bastante otimista!