Dólar

Sidnei Nehme: Desencontros sobre a reforma impactam no preço dos ativos e projeções para 2018

14 dez 2017, 12:14 - atualizado em 14 dez 2017, 12:14

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

A postura errática e sem sintonia de porta vozes do governo sobre a votação da reforma da previdência deixa à nu a absoluta falta de coordenação política sobre o tema, transmitindo a convicção de que as incertezas continuam prevalecendo no entorno da matéria.

Inquestionável a necessidade da reforma previdenciária, mas a forma de condução política pelo governo sucumbe frente a lobbies organizados dos vários setores que se opõe ante o risco de perderem privilégios, que acabam desgastando os reais objetivos da proposta.

Ganha ênfase e merece observação, com maior rigor, a frágil sustentabilidade não ancorada em fundamentos críveis dos preços atuais dos ativos, alavancados ou deprimidos em projeções excessivamente otimistas presentes e fomentadas por inúmeros formadores de opinião com espaço na mídia.

Desta forma, dólar rapidamente sofre apreciação e a BOVESPA deprime sua valorização, deixando evidente, como uma prévia, o que pode acontecer em 2018, quando ocorrerá a eleição presidencial mais importante desde a redemocratização do país, e que deve gerar sérias tensões, que poderão se agravar se ocorrer o impedimento do declarado candidato Lula, já tendo a esquerda anunciado que promoverá total baderna no país.

Convivemos então com um cenário que evidencia que temos um governo com baixo apoio e sem base política de sustentação, e em perspectiva, um cenário extremamente imprevisível e que sugere que perturbações serão inevitáveis na disputa presidencial.

E o país tem uma situação fiscal preocupante e que está sendo ratificada no orçamento aprovado para 2018.

Há muitos riscos reais no horizonte atual e de 2018 que não permitem ousar acreditando tão somente no sucesso, pois são impactantes nas decisões empresariais nacionais e estrangeiros acerca de investimentos no país, com reflexos em toda economia e que pode conduzi-la a perda do ainda modesto dinamismo que vem sinalizando gradualmente.

Eventual postergação para votação em fevereiro de 2018 passa um sentimento de derrota do governo e que vai dar um tempo para tentar o desejado sucesso. Porém devemos considerar que poderá ficar mais difícil, pois as campanhas para reeleições de deputados e senadores já estará “nas ruas” e já terá havido a definição em torno do futuro do ex-Presidente Lula da Silva.

O cenário externo que tem sido benigno para os emergentes pode passar a ter maior precaução em relação ao Brasil, o que pode diminuir o ímpeto pelo Brasil, ainda mais quando se projeta mais uma redução de 0,25% na SELIC na próxima reunião num ambiente em que o FED elevou a sua taxa de juro para uma faixa entre 1,25% a 1,50%, com perspectivas de continuidade do crescimento da economia americana e a perspectiva de que podem ocorrer mais elevações de juros, minimamente duas ou três.

O dólar tende a recuperar preço no mercado internacional pela melhoria da economia e os reflexos da reforma tributária americana.

A inflação brasileira que se revelou, pelo índice do governo, muitíssima deprimida, não correspondendo ao sentimento da população na prática, deve ter trajetória diferente em 2018, sancionando os fortes ajustes de preços havidos em itens pontuais e de forte impacto na formação da cesta básica e com grande irradiação em todos os setores da economia.

Acreditamos que por todo este imbróglio que se presencia neste final do ano e a visão prospectiva com maior rigor, com otimismo mais comedido, sem menosprezar cenários negativos factíveis de forte impacto, é absolutamente necessário que sejam revistas projeções para 2018 que vem sendo divulgadas de forma até entusiástica.

Portanto, cautelosamente, podemos considerar um preço de dólar mais elevado, assim como a necessidade de uma SELIC retomando o alinhamento de alta e a inflação mais reconhecida pelos organismos oficiais, que ao que parece precisam rever seus pesos setoriais.

Seria absolutamente ideal se todas as projeções otimistas para 2018 pudessem estar respaldadas em fundamentos econômicos reais, mas isto não ocorre, havendo mais anseio e “torcidas” para que tudo caminhe no rito favorável do que a necessária sustentabilidade efetiva ancorada em fundamentos.

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