Dólar

Sidnei Nehme: Copom deve manter Selic, mas BC deve alterar estratégia de intervenções no câmbio

20 jun 2018, 11:30 - atualizado em 20 jun 2018, 11:23

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

A duras penas, seja pela intervenção direta do BC com suas maiúsculas ofertas de swaps cambiais, seja pela ação direta dos especuladores dominando a formação do preço deprimindo-o estrategicamente para ganhar “gap” para realização de lucro na liquidação, como defendemos a partir do entendimento de que a demanda por estes instrumentos deixaram de ser para proteção e passaram a ser puramente especulativo, o fato concreto é que o preço da moeda estrangeira ficou num patamar contido que permite o COPOM a manter a taxa SELIC.

Este parece ter sido o objetivo maior do BC para que não seja coibido a elevar a taxa SELIC nesta reunião que se finda hoje, e até justificar a afirmativa, que no nosso entender é um sofisma, de que não existe uma relação mecânica entre juro e câmbio, contrariando a teoria a respeito da matéria.

Adicionalmente salientamos que este argumento de que não elevará o juro em decorrência da alta do dólar não pode ignorar os efeitos desta alta nos preços da economia, que assim impulsionam a inflação.

Com isto, ainda que o risco de ter que suportar um expressivo custo nestas operações, visto que a variação cambial que pagará tende a superar de forma ostensiva a contrapartida do juro que receberá, a autoridade parece imbuída da vontade de resgatar o abalo de credibilidade que teve do mercado em decorrência de sua decisão anterior em que manteve a taxa SELIC, quando todo o mercado acreditava que seria reduzida, mantendo-a neste momento, quando poderia surpreender a elevando face ao expressivo viés de alta do preço da moeda americana, já repercutindo nos IGP´s e IPC´s, exceto no IPCA.

Tudo leva a crer que o BC deverá mudar a sua estratégia de intervenções no câmbio, tendo em vista que o que ocorre na atualidade é uma roda viva alimentada pela especulação e são irrisórias as possibilidades de estabilização do preço no patamar de R$ 3,70/R$ 3,75, havendo razões e motivos que podem impulsionar o preço acima de R$ 4,00.

O enfrentamento do BC à tendência de alta do preço do dólar, além de propenso a se tornar altamente oneroso para o país que já tem uma situação fiscal extremamente delicada, poderá se tornar inócuo e desgastante se os tomadores especuladores resolverem estancar a demanda e com isto criar movimento que conduza o preço da moeda a parâmetros acima de R$ 4,00.

Importante lembrar que no próximo dia 2 de julho ocorrerá vencimento substantivo de volume de contratos de hedge cambial e é um momento que poderá determinar pressão de alta no preço do dólar, pois tudo leva a crer que há no montante vincendo grande parcela de swaps cambiais especulativos não vinculados a proteção de passivos.

Nossa percepção a respeito do cenário atual sugere que o BC após esta reunião do COPOM altere sua estratégia e reduza bruscamente a sua oferta de swaps cambiais e inicie os leilões de linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra, focando proporcionar liquidez ao mercado de câmbio a vista, que deverá passar a ser mais demandado.

Entendemos que ainda esteja remanescente no mercado a ideia única de que as pressões sobre o preço da moeda estrangeira decorrem do cenário externo adverso aos emergentes, que no nosso ponto de vista já está a muito precificado, sendo que as convicções presentes e o viés de alta são alimentados por fatores internos, tais como a baixa atividade econômica, crise fiscal que se agrava, incapacidade de geração de empregos, renda e consumo e, excessivas dúvidas e incertezas no entorno da sucessão presidencial.

É absolutamente relevante que se tenha a convicção efetiva que as questões “intestinas” do país têm na atualidade um peso maior no agravamento da tendência de desvalorização do real frente ao dólar.

Já estamos na fase em que as intervenções como as que vêm sendo realizadas se tornam cada vez mais ineficazes, pois a tendência de alta do dólar está instalada ancorada nos frágeis fundamentos da atividade econômica e perspectivas políticas desconfortantes ao mercado, e só se prestam a estimular intensificação de posicionamentos especulativos, sem vínculo com passivos em moeda estrangeira.

Por isso, o bom senso sugere que o BC pós-COPOM altere sua estratégia reduzindo a oferta de swaps cambiais e passando a ofertar linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra.

A partir de julho deverá se intensificar o volume de saída de recursos estrangeiros locados no nosso mercado financeiro.

O preço do dólar tende a assumir viés contundente de alta, mas esta é a realidade insuperável pela autoridade monetária, porém o BC terá tempo até a próxima reunião do COPOM daqui a 45 dias para verificar o que ocorrerá efetivamente, e o mercado terá então melhor percepção sobre a tendência em relação à SELIC.

Leia mais sobre:
Giro da Semana

Receba as principais notícias e recomendações de investimento diretamente no seu e-mail. Tudo 100% gratuito. Inscreva-se no botão abaixo:

*Ao clicar no botão você autoriza o Money Times a utilizar os dados fornecidos para encaminhar conteúdos informativos e publicitários.