Dólar

Sidnei Nehme: Contexto binário causa ‘avaliações’ contraditórias externas em relação ao Brasil

22 jan 2018, 12:30 - atualizado em 22 jan 2018, 12:30

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

Conceitualmente o Brasil atravessa momento que revela estar tendo avaliações externas diferentes, o que revela um ambiente contraditório, porém coerente quando se afirma que é binário.

Os índices EMBI e o CDS praticamente colocam o país em linha compatível a grau de investimento, havendo, contudo, baixa percepção de que os níveis de poupança do país, tanto público quanto privado, são baixíssimos e ainda que o país enfrenta substantivo problema fiscal, de difícil superação e que ainda tende a provocar inúmeros ruídos.

A captação do Tesouro de US$ 1,5 Bi no exterior com juros mais baixo em quatro anos, algo como 271 pontos-base acima dos T-Bills americanos de 30 anos, ficou coerente com os índices EMBI e CDS.

Por outro lado, as agências de rating têm uma visão mais crítica e ao que parece com foco maior nos enormes desafios que enfrenta o país, seguramente com amplas fragilidades na política fiscal que poderá deixá-lo numa situação extremamente vulnerável e, também, a fraqueza da base de apoio político ao governo e as perspectivas que grande tensão no entorno da disputa eleitoral, em especial para o cargo maior de Presidente, onde há inúmeras duvidas sobre quem ou quais serão os candidatos, sendo que no momento o dito líder nas pesquisas será julgado esta semana e poderá tornar-se ao final inelegível.

Ocorre que somente no dia 5 de agosto próximo o Tribunal declarará quem está impedido de disputar o cargo maior, o ex-Presidente poderá sustentar-se como candidato, e a rigor mesmo que declarado inelegível pelo Tribunal, poderá ainda recorrer ao STJ e STF até 17 de setembro, um longo período em que o país poderá registrar forte tensão pela atitude reacionária dos seus pares.

Embora o Presidente Temer esteja fortemente empenhado em conquistar apoios para a aprovação da Reforma Previdenciária em 19 de fevereiro, não há sinais críveis de que tenha avançado na conquista de novos apoiadores, havendo mesmo muitos especialistas em assuntos do Congresso que consideram que as disputas intestinas entre membros do governo visando serem candidatos fragiliza, ainda mais, esta probabilidade de aprovação.

O conjunto das tensões em torno das eleições e a necessidade do governo conseguir avanços nas reformas naturalmente deverá causar muitas dúvidas e incertezas ao longo do ano, pois são pontos importantíssimos.

Há como certo descuido do mercado financeiro ou assim age intencionalmente, procurando não considerar os riscos na trajetória do país este ano, que são tão relevantes a ponto de provocar uma rápida reversão das expectativas.

Contrariando a leitura positiva dos índices EMBI e CDS, as agências de rating, a exemplo da medida já adotada pela S&P, poderão também rebaixar a nota de crédito do Brasil.

Então, a Bovespa mantém a dinâmica de alta, com forte participação de investidores estrangeiros, que detém “recursos espertos” visto que ao primeiro sinal de mudança ou de probabilidade de mudança saem rapidamente, sendo este risco latente que precisa ser considerado.

O câmbio, por enquanto com o preço bem administrado com a intervenção do BC, mantém certa calmaria, mas numa eventual reversão ou maior grau de tensão estimulando duvidas e incertezas, certamente terá o dólar em movimento de apreciação frente ao real.

Observação com maior acuidade do comportamento dos “players” do mercado financeiro já identificam o aumento de investidores constituindo posições em segmentos atrelados à moeda americana, sinal claro de que, sem alarde, tem muitos sendo previdentes.

Como temos destacado, entendemos que as questões em torno do julgamento do ex-Presidente Lula, que não o exclui de imediato da corrida presidencial, o que poderá ocorrer em agosto, e os intensos ruídos em torno da necessidade do governo de aprovação de reformas, num ambiente de baixo apoio da sua base, tendem a impactar no preço da moeda americana, e, também inibir a atratividade pelo Brasil de investidores estrangeiros na conta capital ou mesmo especulativos.

Neste momento prevalecem as dúvidas e incertezas, mas são notórios os obstáculos na trajetória do país neste ano de 2018, o que nos leva a ter a percepção de que com os problemas de curto prazo, o preço da moeda americana possa estar em R$ 3,50 ao final do 1º trimestre.

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