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Sidnei Nehme: Cenário global e turbulências no cenário latino determinam posturas defensivas

13 nov 2019, 11:34 - atualizado em 13 nov 2019, 11:34
Para colunista, mudanças recentes havidas no país no contexto político e jurídico, embora assimiladas pela maturidade do mercado (Imagem: David Moir/Bloomberg)

Por Sidnei Nehme, Economista e Diretor-Executivo da NGO Associados Corretora de Câmbio

O ambiente latino americano está ficando conturbado e os riscos de que a contaminação possa estar mais estreita do que se possa imaginar, a despeito de “a priori” se perceber baixa sinergia, conduziu o mercado brasileiro a postura mais defensiva e cautelosa.

Afinal, as mudanças recentes havidas no país no contexto político e jurídico, embora assimiladas pela maturidade do mercado, merecem postura de resguardo para evitar surpresas, e isto, provoca ajustes de posições operacionais reduzindo exposição a riscos que podem ter aquecimento também a partir dos países vizinhos.

A Bolívia está em ebulição com a queda do governo e o processo sucessório, enquanto o Chile por mais que o governo busque equacionar as razões dos movimentos sociais há continuidade das perturbações.

E o peso chileno foi desvalorizado mais de 4%!

Quem sabe no mundo dos “hedges” não estejam sendo demandados dólares versus real no mercado futuro local conjugado com operações externas de pesos chilenos contra real, etc… Enfim, o mundo dos derivativos não tem pátria e nem lugar e é altamente criativo. Esta é só uma especulação não há evidências de materialização, pelo menos por enquanto.

O dólar teve o preço apreciado frente ao real e não se percebeu aumento de demanda da divisa norte americana no mercado à vista, a ponto de nem o Banco Central ter colocado dólares à vista de sua oferta diária e nem consumado operações de swap cambial reverso.

Por outro lado, na Bovespa também ocorreu movimento defensivo determinando realização de lucros.

Não se pode perder de vista que no Brasil sexta-feira (dia 15) será feriado e logo após quarta-feira (dia 20) novamente, o que intensifica a cautela e precaução.

Como “pano de fundo” ainda se justificava o ambiente também às expectativas em torno da fala do Presidente Trump, sempre uma incógnita e que provoca estresse no comportamento dos mercados.

Um pouco de cada coisa e se altera o comportamento dos inúmeros segmentos do mercado financeiro, câmbio, bolsa e juros.

O Brasil está temente de desgastes maiores do que a já prejudicial insegurança jurídica emanada da recente decisão do STF, visto que precisará manter incólume a credibilidade e confiança no país para lograr êxito na implementação de programa ambicioso de privatizações.

Brasil está temente de desgastes maiores do que a já prejudicial insegurança jurídica emanada da recente decisão do STF (Imagem: Reuters/Rodolfo Buhrer)

Então, os agentes do mercado, dando mostras da maturidade que ressaltamos ontem, procuraram mitigar riscos presentes no momento e neutralizá-los acomodando-se com sensatez na defensiva.

No Brasil, a “criatividade” na cena política acaba prejudicando a cena mais importante que é a econômica focada na dinamização da atividade econômica e que vai bem, e então o Presidente da República anuncia um novo partido “todo seu” na véspera de um ano eleitoral e o Presidente do Senado Federal anuncia a possibilidade de uma nova Constituinte para superar os desencontros de interpretações jurídicas.

Os mais recentes acontecimentos podem ter impacto negativo para o país, que vinha ganhando destaque e retomando preferência entre os latinos e que precisa melhorar os fluxos de investimentos com as privatizações, para atenuar os riscos de rombo nas contas externas pois o saldo de transações correntes do Brasil nos últimos 12 meses saltou de 0,75% do PIB para 2,05%, expressivo.

Trump, como sempre perspicaz, cutucou ressaltando que com a Europa há muitos caminhos para ajustes melhor do que com a China, e que esta manipula dados, etc…. e fica claro que o “enrolation” entre ambas as potências continua sem ter emitido quaisquer sinais concretos a respeito, focando mais a situação da economia americana e retomando suas críticas contumazes ao Federal Reserve.

Enfim, um cenário com perturbações “próximas” e “dentro” do país, e acaba prevalecendo o entendimento que ora se está à esquerda ou ora se está à direita e assim retarda que se vá à frente.

Certo parece que não é tempo para ousadias, há muitas variáveis que podem se tornar impactantes, então a opção pela cautela é uma postura sensata.

Mas não acreditamos que o dólar sustente-se com preço nos níveis atuais e tenda gradualmente para fechar o ano no em torno de R$ 4,00 e a Bolsa, com volatilidade, aos 110 mil pontos.