Opinião

Sidnei Nehme: Câmbio e B3? Reforma, primeiro passo dado, percurso certamente não será sombrio

21 fev 2019, 7:57 - atualizado em 21 fev 2019, 7:57

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

Muito a observar e acompanhar, por enquanto pouco a comemorar e a agregar nas perspectivas de preços de ativos e em tendências.

A proposta da reforma contém pontos bastante positivos e incisivos corrigindo o “status quo” inviável, mas certamente não passará incólume a “ferozes” oposições corporativistas e ideológicas e a farta propagação de “fake news” que deverão ser fartamente divulgadas visando desgastar seus relevantes e imperiosos objetivos.

A reforma da previdência é fundamental para reconduzir as contas públicas a uma situação em ordem e para garantir a sustentabilidade do teto de gastos, por isso temos afirmado que no contexto atual o cenário é binário, pois se der certo tudo bem o país acelera e retoma alinhamento com o desenvolvimento, caso contrário a tendência é permanecer neste quadro decrépito de atividade econômica e acentuando cada vez mais seus nefastos resultados, a partir do aumento de desemprego e perda de perspectivas mínimas sustentáveis.

O meio termo que pode resultar numa “meia reforma” ajudará, mas não resolverá.

Só há uma alternativa “dar certo ou dar certo” o mais possível, mas naturalmente é da índole do brasileiro que “a coisa é boa quando não me atinge no prejuízo” e desta forma não se pode vislumbrar “vida fácil” para o governo, por que não o país, alcançar a imprescindível modificação no trato da questão previdenciária.

A meta de economia de R$ 1,07 Tri em 10 anos é extremamente ambiciosa, evidenciando que as reformulações das regras propostas tem a pretensão de dar solução completa a problemática da previdência no país, mas não podemos deixar de considerar que os debates e embates poderão provocar desidratação de alguns dos seus pontos mais relevantes e com isto reduzir esta objetivada meta.

Serão meses de intensa tensão envolvendo a discussão em torno da propositura. Estima-se que o teor definitivo só será possível no 3º trimestre, na melhor previsão, tempo demasiado para o país que tem pressa para romper as amarras que o impedem na evolução para a retomada da atividade econômica e suas benéficas consequências.

O governo vai ter que aprimorar e muito a sua articulação política no Congresso e este é um desafio adicional.

Com este substantivo tempo criando um considerável intervalo, a rigor, pela imprevisibilidade não há como realizar-se projeções sustentáveis para o desempenho da economia brasileira, mas é razoável admitir-se um crescimento do PIB menor do que o projetado e até redução da taxa SELIC consequente da inércia da atividade econômica.

Por outro lado, os investidores estrangeiros devem manter a retração na tomada de decisão de investir no mercado financeiro do Brasil, visto que neste momento e nos meses imediatos ainda não haverá convicção suficiente sobre o teor final da reforma proposta. O fluxo cambial financeiro este ano até o dia 15 deste mês atinge US$ 5,036 Bi, mas há neste montante captações externas de empresas sediadas no Brasil, não sendo, portanto, tudo destinado ao mercado financeiro. É pouco, muito pouco, ante as projeções havidas na virada do ano que vislumbravam montantes sobejamente expressivos ingressando no país.

Então, neste momento, o bom senso impõe a absoluta sensatez dentro de um ambiente que busca “alimentar-se” de um otimismo excessivo e exacerbado, visto que no momento não há base fundamentalista para assegurar tendências nem na B3 e nem no câmbio.

A B3 para alavancar seus preços de forma sustentável precisa de fluxo externo, caso contrário ficará neste “vai e vem” que revela insegurança num quadro de economia real inerte e fragilizado, que também está esperando que a situação se altere com o sucesso do novo governo.

O câmbio, setor onde o país tem um quadro de absoluto conforto com reservas cambiais expressivas, contas externas equilibradas e déficit em transações correntes baixo têm o seu ponto de equilíbrio compatível com o “status quo” do país no intervalo entre R$ 3,70 e R$ 3,75, e não sugere, por enquanto, sustentabilidade com fundamentos para apreciações ou depreciações, até porque também inibe movimentos maiores no mercado futuro de dólar por ausência confiável de tendências.

Então, é previsível que ocorram movimentos voláteis e estressantes, por insegurança, mesclando com justificativas à margem deste movimento com comportamentos externos nem sempre válidos, mas que são utilizados com frequência.

Os bancos autorizados a operar em câmbio estão com suas posições no mercado à vista “vendida” em US$ 18,175 Bi, ancoradas em linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra, fornecidas pelo BC no montante de US$ 10,985 Bi.

Evidentemente que esta perspectiva de um período considerável para a aprovação do texto final da Reforma preocupa visto que retarda a retomada de ritmo da economia brasileira, e, neutraliza decisões de investimentos fundamentais públicos e privados, e, retarda o esperado fluxo substantivo de ingresso de investimentos estrangeiros.

Um hiato que neutraliza projeções e tendências sustentáveis.

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