Opinião

Sidnei Nehme: BC, tardio, corrige estratégia imperfeita e agora dará liquidez com swap puro!

28 ago 2019, 13:18 - atualizado em 28 ago 2019, 13:18
Colunista fala sobre política monetária do banco central relacionando-a coma a alta do dólar

Temos sido observadores críticos da estratégia do BC de vender dólares à vista, que consideramos atitude correta face ao declínio dos fluxos cambiais para o país, concomitante com o estreitamento das taxas de juros interna e externa e limitações nos acessos às linhas de financiamentos externas, natural como aversão ao risco, mas temos discordado do fato de buscar colocar como “equivalente” a retirada de swaps cambiais no mercado futuro de dólar, com oferta de swaps cambiais reversos, que são derivativos que se prestam a “hedge” e liquidáveis por diferença em reais, embora saibamos que tecnicamente tenham impactos na formação da taxa cambial, mas ocorre que há demanda no mercado futuro, segundo se propaga, para fazer “hedge” em posição de DI, e isto causa pressão altista.

Então, BC orquestrando demanda no mercado futuro com os swaps cambiais reversos e o próprio mercado também demandando, o efeito de expurgo da taxa cambial das pressões advindas do custo do cupom cambial na formação do preço acaba sendo neutralizado.

Enfim, ontem após o preço da moeda americana atingir R$ 4,20, o BC houve por bem corrigir sua estratégia imperfeita de intervenção e realizou um inesperado leilão de dólares a vista, agindo exatamente como deve ser no câmbio, e buscou colocar “as coisas no devido lugar” com a intervenção perfeita, mitigando a ponta que impulsionava de forma mais intensa a disfuncionalidade. A revigoração da taxa após a queda a R$ 4,12 indica que o montante leiloado foi insuficiente.

Até então, tendo em vista que o mercado havia sido “participado” antecipadamente do “remédio e sua posologia” por parte da autoridade monetária, vinha cotidianamente conduzindo o preço da moeda americana a uma “depreciação de espera” ao início dos negócios diários e depois acelerava a apreciação, não sem alguma volatilidade.

O efeito surpresa do leilão de ontem, não anunciado como deve ser, impactou de imediato. Contudo, o BC precisa ser mais contundente no volume da oferta trazendo-a para a efetiva necessidade, que, grosseiramente, imaginamos esteja no diferencial entre as posições vendidas dos bancos e o montante de linhas concedidas por ele ao mercado em moeda estrangeira com recompra.

O BC efetivamente não precisa intervir com oferta de swaps cambiais reversos, pois se há excessos no estoque de swaps cambiais “em ser” no mercado, nas próprias rolagens isto ficaria evidente e as rolagens ocorreriam por montantes inferiores aos vincendos. De forma natural, normal.

A intervenção “requerida” e necessária pelos indicativos do mercado era a oferta pura e simples de dólares à vista para corrigir a queda acentuada de fluxo cambial positivo, que é uma atipicidade no mercado de câmbio brasileiro, assim como o estreitamento do juro interno e externo, que acaba “desaguando” no aviltamento do custo do cupom cambial, que então pressiona a taxa cambial no mercado a vista.

O BC foi relativamente tardio, mas agiu de forma corretiva ofertando leilão tão somente de dólares a vista, descasado.

Aliviou a pressão natural na formação da taxa cambial a vista pelo custo aviltado do cupom cambial e a pressão na taxa cambial futura pela intervenção do BC com swaps cambiais reversos inapropriados e a demanda de investidores combinando com operações de DI´s.

Enfim, era um imbróglio que não resolvia a questão e criava uma espiral de apreciação do preço do dólar frente ao real, que registrou o maior índice de desvalorização após o peso argentino, embora o país detenha soberbo montante de reservas cambiais.

O mercado de câmbio e suas nuances é um grande tabuleiro de xadrez, e assim, qualquer movimento incerto das pedras pode conduzir a vulnerabilidade de receber o “cheque mate”.

Ainda é tempo do BC reformular sua estratégia para setembro e retirando a escala programática e relegar sua intervenção somente a oferta de dólares a vista no mercado, ausentando-se da oferta de swaps cambiais reversos, como já previamente anunciados, ou ofertando swaps como o que realizará hoje e que mencionamos abaixo.

O BC inova e ao invés de vender pura e simplesmente “spot” se desfazendo efetivamente de divisas, anunciou pelo comunicado 34.082 de ontem, anuncia que realizará operação “de venda conjugado com leilão de compra de moeda estrangeira no mercado interbancário, na modalidade pós fixado SELIC, para fins de rolagem do vencimento de 4/9/2019”, o que nada mais é do que um swap puro, que dá liquidez imediata e espera que o fluxo cambial melhore até novembro, sem reduzir as reservas cambiais pelo conceito de liquidez internacional.

Inteligente, mas a persistir o ambiente ruim no mercado global não há perspectiva de que até novembro o Brasil recupere fluxo cambial positivo, mas de toda forma é pontual para suprir a liquidez que o mercado a vista necessita no momento.

Vamos ver se tão somente US$ 1,8 Bi ameniza o quadro de pressão, nossa impressão é que precisará elevar bem este volume.

A elevação do preço da moeda americana no nosso mercado, a exemplo de quase todo o mundo, mas mais enfática nos países emergentes é normal neste momento de crise que provoca insegurança e determina postura defensiva por parte dos investidores e a opção pela segurança à rentabilidade, mas no Brasil há uma atipicidade que deve ser eliminada pelo BC.

O epicentro da questão é a crise entre China e Estados Unidos, mas já extrapolada para inúmeras economias fortes, como a Alemanha que registrou queda de 0,1% no seu PIB do 2º trimestre e está em vias de entrar em recessão técnica se repetir a performance negativa neste 3º trimestre.

Todo o ambiente global está sob os efeitos negativos deste embate, que certamente perdurará ainda por longo período, sendo difícil acreditar-se numa solução definitiva no médio prazo.

Então, os países emergentes, com ênfase ao Brasil que tem baixa atratividade e atividade econômica estagnada, deverão conviver com este ambiente adverso por um longo período, o que será lamentável, pois o número de desempregados é expressivo, com reflexos na renda e no consumo.

E, a rigor, não se pode atribuir responsabilidade direta a este governo, visto que a situação desgastada se arrasta desde 2014 e o governo tem severa crise fiscal, atenuada em perspectiva pela Reforma da Previdência, e deve seguir com a Reforma Tributária, Planos de privatizações ainda muito indefinidos, etc…., mas nada que sugira a viabilização da retomada da atividade econômica no curto/médio prazos.

Quando se observa Estados Unidos, China e Alemanha na linha de frente da perda de atividade econômica e até perspectivas de recessão na Alemanha e também especulada a respeito dos Estados Unidos com a inversão das taxas de juros, é possível imaginar-se qual o grau de dificuldade que o Brasil encontrará para redirecionar-se ao desenvolvimento sustentável.

Esta visão naturalmente é desalentadora!

Mas o governo tem meios de mitigar impactos maiores que possam deformar além do razoável o preço do dólar no nosso mercado, já que é um referencial que se propaga rápido pelos preços relativos da economia, ainda que neste momento a inércia da atividade econômica seja um “amortecedor” do repasse inflacionário, mas há itens como os combustíveis que repercutem rapidamente e se alastram com grande intensidade ao agregar ônus ao preço dos produtos.

Por isso, entendemos que o BC deva permanecer mais atento no monitoramento das anomalias e corrigir sua estratégia sempre que verificar que não está dando certo, não devendo ser o foco deprimir a taxa cambial prevalecente, mas expurgar da mesma a depreciação por fatores atípicos presentes neste momento no mercado de câmbio brasileiro, que vão muito além dos efeitos de compra e venda no mercado a vista, mas que envolvem uma gama de fatores técnicos e circunstanciais que precisam ser observados e mitigados nos seus efeitos.

Neste momento, após a ação corretiva de ontem, o recomendável é tão somente ofertar liquidez ao mercado à vista e o fará na forma de swap, compensando a queda de fluxo cambial e a eventual redução de acesso a linhas externas por parte dos bancos, já que as operações de “carry trade” estão inviabilizadas pelo estreitamento dos juros e também pela ausência de oportunidades concretas no mercado brasileiro para especulação e, ocorre adicionalmente, a troca de dívida externa por dívida interna por parte de empresas com passivos em moeda estrangeira.

O quadro cambial poderá ser um empecilho para o COPOM quando for decidir, como amplamente reivindicada, a redução da taxa SELIC, que tende a tornar maior a pressão sobre o câmbio.

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