Dólar

Sidnei Nehme: BC está refém e na roda viva. Ofertas bilionárias de swaps não tiram viés de alta

18 jun 2018, 13:53 - atualizado em 18 jun 2018, 13:53

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

Acreditamos que todo e qualquer volume de swaps cambiais que o BC ofertar será absolutamente inócuo para conter o viés de alta do dólar no nosso mercado.

Em nossa visão, a tendência de alta do preço da moeda é fortemente sustentável e fundamentada com base nas perspectivas amplamente negativas de curto/médio prazos de forma irreversível.

Sintetizando, o que está presente é muito ruim no contexto econômico-político e as perspectivas não oferecerem nenhum risco de melhora, e, agora com peso menor, os fatores externos também conspiram contra o Brasil, mas devemos ter em mente que o peso significativo da carga sobre o preço da moeda americana está nos fatores internos.

Entendemos que o BC está refém do mercado e numa roda viva que não oferece saída a não ser a de deixar subir naturalmente o preço. O enfrentamento deste quadro com acentuada tendência de alta se revela e continuará se revelando amplamente desfavorável para o BC e o governo e poderá provocar expressivo custo para o BC/TN.

No nosso entender, como já colocamos algumas vezes, é absolutamente ilusório a ideia de que é a ação do BC que faz com que o preço da moeda americana recue das proximidades de R$ 4,00 para algo em torno de R$ 3,70. Quem está no comando da formação do preço da moeda é o tomador e que estrategicamente o deprime sempre o BC realiza as ofertas dos swaps cambiais para apropriá-la num patamar seguro para a realização do ganho no momento da liquidação.

Nesta roda viva, tanto quanto o BC ofertar tanto quanto será absorvida pelo mercado, até porque o ganho em perspectiva é extremamente sedutor ante o custo do juro irrisório na contra ponta do swap face à diferença de juro americano e brasileiro.

Esta ação contínua do BC, que salienta sempre que não pretende conter a tendência do preço e sim evitar a volatilidade, na prática determina o inverso, um enfrentamento sem risco de vitória no controle do preço e volatilidade como consequência da intervenção confrontando a tendência.

É um paradoxo.

Por outro lado observa-se que o juro DI permanece elevado e atraente para os investidores estrangeiros, já devidamente protegidos, não saírem de imediato após a retirada de seus investimentos na Bovespa, permanecendo rentabilizando seus recursos num mercado não variável na ponta do capital. Mas certamente, o movimento de saída dos recursos do país está no radar dos mesmos, acreditamos que ocorra a partir de julho.

Todavia, mais uma vez colocamos o nosso entendimento de que o BC, pró-ativamente, deveria estar ofertando linhas de financiamento aos bancos autorizados a operar em câmbio, dando liquidez em alto volume ao mercado de câmbio a vista, buscando com isto influenciar as taxas de câmbio futuro que são a base nas operações de “hedge”.

O BC com seus instrumentos de visibilidade do mercado têm condições de verificação de quem são os protagonistas da demanda de swaps cambiais, se os bancos, se os bancos para atender seus clientes/instituições e que clientes/instituições sejam estes nacionais ou estrangeiros.

Contudo, o que parece sinalizar o BC é que, mesmo a risco de perda estratosférica como custos dos swaps cambiais, não deseja que os impactos inflacionários que adviriam de um preço firme e sustentável acima de R$ 4,00 ocorram de imediato a ponto de obrigá-lo a elevar a taxa SELIC, que seria natural no quadro atual, onde sustenta que não existe relação mecânica entre uma coisa ou outra, o que nos parece mais um sofisma do que uma realidade.

Pode estar pretendendo postergar esta decisão de elevação da SELIC para a próxima reunião do COPOM que não está deste dia 20, quando terá uma visão mais concreta do estado da economia brasileira, que no nosso modo de ver não corre nenhum risco de melhora, e das questões dúvidas e incertezas em torno da cena política.

O setor externo, no momento, já não pesa tanto quanto pesou ao início das crises nos emergentes, que já está precificada e com as perspectivas de movimentos de capitais no radar, sendo mais evidentes as futuras decisões do FED na política americana, restando tão somente os impactos dos conflitos comerciais cultivados pelo Presidente Trump, agora novamente aquecidos com a China.

Qual é então a estratégia que o BC deveria adotar para conter este quadro extremamente nervoso e inseguro?

Cumprir o que tem propagado não interferir na tendência, prover a liquidez e evitar volatilidade.

Isto determinaria deixar o preço buscar seu preço fazendo somente a rolagem dos contratos de swaps vincendos no mês seguinte, visto que o mercado ao que tudo indica não está mais demandando proteção e sim especulando, e acelerando a oferta de linhas de financiamento de moeda estrangeiro com recompra ao mercado à vista.

Esta nos parece a estratégia viável no momento para o BC.

Quem sabe não dê início a esta forma de proceder tão logo ultrapassado o dia 20, data da reunião do COPOM, e com isto não eleve agora a SELIC e procure ganhar tempo para uma decisão mais madura e na intensidade necessária na próxima reunião, com um quadro econômico-político mais definido?

Tecnicamente é o que entendemos provável e como a única forma de romper esta roda viva pela qual foi envolvido.

Há uma dura realidade presente no Brasil que precisa ser admitida pelo BC/Governo sem relutâncias, ainda que não a admita publicamente, e que não sugere mínima possibilidade de reversão no momento atual, com o qual terá que conviver e, há condições de superações já que o país não corre o risco de uma crise cambial, mas tão somente dos impactos nos preços de seus ativos.

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