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Sidnei Nehme: Banco Central precisa alterar estratégia e vender moeda à vista

22 nov 2019, 7:03 - atualizado em 22 nov 2019, 7:04
Dólar Câmbio
Colunista analisa cenário de atuação do Banco Central ante a potência do dólar (Imagem: Reuters/Sergio Moraes)

Por Sidnei Nehme, Economista e Diretor-Executivo da NGO Associados Corretora de Câmbio

O Banco Central, até agora, conseguiu vender moeda efetiva à vista, dando liquidez à demanda no mercado à vista, mas conjugando com retirada de swaps cambiais via swaps cambiais reversos que são derivativos e nada de moeda efetiva, mas com isto conseguindo reduzir as reservas cambiais brasileiras de forma sutil e não assumida.

Porém, perceptível pelos próprios números estatísticos do BC, evitando maiores “ruídos” em torno do fato concreto, ao despistá-lo com o conceito novo introduzido de “posição cambial líquida”, mesclando os swaps cambiais como “responsabilidade cambial” da autoridade, quando é meramente responsabilidade liquidável em reais por diferença.

Esta estratégia que evita maiores alardes e entendimentos de que as reservas cambiais estão sendo efetivamente reduzidas, ao ser combinada com a oferta de swaps cambiais reversos, tem o mérito de não interferir na formação do preço da moeda americana por atingir dois polos que tem impacto e que se anulam.

Contudo, há sinais, até reconhecidos pelo BC, de que a demanda no mercado à vista está mais intensa do que no mercado futuro e isto naturalmente inibe o interesse em swaps cambiais reversos e como consequência torna insuficiente, por serem operações casadas, a oferta de dólares no mercado à vista.

No total o BC, até o último dia 14, havia vendido dólares à vista para o mercado num total de US$24,970 bilhões ante um fluxo cambial negativo neste ano de US$ 22,628 bilhões , o que em tese “equilibra o jogo”.

Há sinais, até reconhecidos pelo BC, de que a demanda no mercado à vista está mais intensa do que no mercado futuro (Imagem: Facebook do Banco Central)

Mas ocorre que os bancos vem carregando desde dezembro de 2018 um montante de posição vendida no entorno de próximos US$ 25 bilhões , que permanece sem que o fluxo do mercado que vem se mantendo negativo promova excedentes que permitam redução.

Portanto, necessitam de financiamento para a manutenção deste “status quo” já que o BC só concedeu linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra no montante de US$ 8,250 bilhões .

Então urge a absoluta necessidade que o BC altere sua estratégia de intervenção ou realizando oferta de dólares à vista sem conjugá-la com oferta de swaps cambiais reversos ou e/ou realize oferta com maior intensidade de linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra, mitigando as pressões naturais sobre a formação do preço do dólar a partir unicamente do mercado à vista.

É fundamental esta mudança de atitude visto que o desinteresse nas ofertas de swaps cambiais reversos provoca a insuficiência da oferta de dólares no mercado à vista.

Ontem tivemos oportunidade de discorrer detalhadamente a respeito do nosso entendimento sobre a pressão no preço da moeda americana no nosso mercado (Câmbio: dólar com preço alto, contraditórios e circunstâncias).

O influxo com recursos externos de melhor qualidade que deveria ocorrer nesta fase onde ocorrem sinais de melhora na atividade econômica, inicialmente para a Bovespa (Imagem: Reuters/Paulo Whitaker)

Deixamos claro o “hiato” havido e suas razões que determinam o retardamento da inflexão do comportamento do fluxo cambial e a não razoabilidade e fundamentos para o preço atual, por isso entendemos como fundamental a mudança da estratégia de intervenção por parte do BC.

Pois convivendo com atipicidades momentâneas é natural que o BC adote intervenções atípicas para evitar distorções na formação do preço da moeda americana no nosso mercado.

Até porque, o próprio Presidente do BC destacou ontem que o contraponto de eventual impacto do preço do dólar na inflação será naturalmente com o instrumento taxa de juro e este é um movimento que viria frontalmente contra as expectativas e projeções do mercado e seus posicionamentos.

Acreditamos que o BC não deva ter constrangimento para mudar a estratégia e tornar a intervenção mais aguda e precisa visto que não há fundamentos concretos para o preço do dólar em R$ 4,20, e é seu papel coibir disfuncionalidades na formação do preço, puramente provocadas pelo psicológico de que há dólares saindo do país.

Sem que esteja sendo observada a “qualidade especulativa” dos mesmos pela queda do juro que é o fator motivador, e o que está faltando e deve ser destacado é o influxo com recursos externos de melhor qualidade que deveria ocorrer nesta fase onde ocorrem sinais de melhora na atividade econômica, inicialmente para a Bovespa.

Mas ainda contidos pelos investidores face aos sinais relevantes de insegurança jurídica e incertezas políticas no país, ofuscando o econômico.

Reservas cambiais ostensivas se prestam para ação efetiva e pontual do BC se e quando necessário, e este é um momento que sugere esta necessidade, portanto que a autoridade monetária se faça presente, sem mais delongas.

A alta do preço do dólar não se ancora em fragilidades do país e nem aversão ao risco, o CDS do país está em 128,4 pontos, ainda excelente a despeito de já ter estado em 114 pontos antes do ressurgimento da insegurança jurídica e incertezas políticas e o recorde ter sido 111,0 pontos, e ainda não há fundamentos sustentáveis que possam afastar a projeção do preço ao final do ano no em torno de R$ 4,00.

Este período de “entressafra” que marca a saída intensa de capitais especulativos mal acomodados no nosso mercado face à queda do juro e a retomada de fluxo cambial positivo de melhor qualificação retardado pela percepção do surgimento de insegurança jurídica e política deverá ser marcado pela volatilidade e sem tendências efetivas, mas, acreditamos, o preço do dólar não é sustentável nos preços atuais por ausência de fundamentos concretos.