Sidnei Nehme: Banco Central é o guardião da moeda e sua estabilidade
Por Sidnei Nehme, Economista e Diretor-Executivo da NGO Associados Corretora de Câmbio
Há certo “frisson” no em torno da ação do Banco Central no mercado de câmbio e isto é visto como “atipicidade”, quando na realidade é atributo inerente a atividade da autoridade a manutenção da estabilidade da moeda, inclusive no câmbio, absolutamente natural, sem constrangimentos.
O fluxo cambial registra ingressos e saídas de recursos estrangeiros no país, e, sempre que forem excessivos em uma das pontas cabe a autoridade monetária intervir, adquirindo o excedente ou ofertando o faltante, de forma a evitar a “disfuncionalidade” que é prejudicial a atividade econômica, gera incertezas e afeta, por vezes desnecessariamente, os preços relativos da economia.
Se o país dispõe de reservas cambiais, como é o caso do Brasil, ou agrega volumes no estoque ou as utiliza para prover de liquidez o mercado, não se tratando de intervenção rígida para administrar o preço, mas para manter a normalidade do funcionamento do mercado de câmbio e permitir a formação do preço de forma correta.
No Brasil não há crise cambial, o país é autossuficiente em liquidez própria, portanto, diferente de outras economias emergentes não precisa recorrer a organismos internacionais para obter financiamentos.
Em linha, nem tanto e nem sempre para as moedas emergentes, a relação câmbio/juro é muito estreita e andam lado a lado e são instrumentos poderosos quando desequilibrados e utilizados, por exemplo, numa guerra cambial, que ao que parece é algo que Trump desejaria no embate com a China.
Razão pela qual é crítico voraz do Federal Reserve que não reduz a taxa como desejaria para fragilizar o dólar e potencializar a capacidade exportadora americana ao otimizar preços em detrimento das importações que seriam oneradas.
O Brasil algumas vezes se deixa confundir assumindo postura de com o seu real ter importância equânime as efetivas potências econômicas que ditam as regras do cenário global, e então coloca as “pérolas” de juro baixo dólar alto, sem se atentar onde está o ponto de razoabilidade deste “dólar alto” e até menosprezando seus efeitos colaterais nos preços relativos da economia, então fica na perspectiva o retrocesso dos avanços obtidos.
O país tem a sua potencialidade exportadora nas “commodities” e estas têm preços fixados nas Bolsas e seus “players” atuam na formação dos preços observando o que ocorre nos países produtores.
Então, numa época em que não se convive mais com o “boom” das commodities como houve um tempo atrás, o dólar alto não fomenta estas exportações e, nem mesmo, no setor industrial, pois o comportamento da moeda é volátil e isto não é bom para os negócios, sendo preferível o preço estável.
O Brasil já conviveu décadas atrás o cenário de “construir” competitividade do seu parque produtivo com a manutenção do câmbio elevado, mas hoje com o mundo globalizado isto efetivamente ficou no passado, e a competitividade atual decorre da modernidade do setor produtivo.
O contexto brasileiro sugere o preço da moeda americana num patamar um pouco acima do prognosticado meses atrás como R$ 3,80, sendo plausível agora R$ 4,00, mas acima disto não há fundamentos críveis que dê sustentação, é disfuncionalidade e cabe a autoridade monetária zelar pela moeda nacional.
O Brasil tem reservas cambiais suficientes para honrar todos os seus compromissos e tem folga para que o BC atue fomentando a liquidez do mercado de câmbio e o tem feito de forma eficaz já tendo fornecido mais de US$ 24,0 Bi das reservas cambiais que é volume superior ao saldo negativo do fluxo cambial, portanto neutralizando o impacto do fator oferta/demanda, e mais, promove a oferta de “hedge” através contratos de swaps cambiais tradicionais.
A autoridade, o BC, só demonstra-se “pouco à vontade” para assumir direta e objetivamente que está dispondo das reservas para irrigar a liquidez do mercado de câmbio, e assim, mescla a sua atuação com a oferta de “swaps cambiais reversos”, que é um derivativo e não moeda efetiva.
Mas que tem o efeito de contrapor-se aos efeitos de apreciação do real frente ao dólar pela oferta no mercado à vista, dando assim a sustentação da taxa cambial fora do padrão de normalidade, sustentando a sua atipicidade de preço.
A leitura que fica é que o BC deseja a taxa cambial mais elevada, mas certamente o preço está fugindo à razoabilidade e isto pode provocar riscos de retrocesso na retomada da atividade econômica, como retorno da inflação, elevação do juro (já há ruídos sugerindo corte de somente 0,25% na Selic em dezembro).
Então “efusivamente” entra com leilões de somente moeda efetiva à vista, até agora discretos e insuficientes, e isto que deveria ser rotineiro neste quadro passageiro acaba ganhando manchetes garrafais como se o país estivesse no centro de uma crise cambial.
Enfim, coisas do Brasil! Aparenta uma crise cambial que não existe!!!
Mas, a despeito da deformidade do preço do dólar neste momento no nosso mercado entendemos que isto se ajustará no curto prazo, na medida em que o fluxo de recursos estrangeiros de melhor qualidade retomarem o direcionamento do Brasil.
É preciso considerar que o dólar poderá sofrer fortalecimento no mercado internacional na medida em que o acordo Estados Unidos e China evolua favoravelmente.
Mas é preciso ponderar também que o Brasil que estava “no fundo do poço” em meio a uma crise fiscal acentuada, hoje ressurge gradativamente em recuperação e até ostentando um CDS bastante positivo e isto fortalece o real. Então, há fatores a serem considerados mais detidamente na formação do preço local.
Hoje é feriado em New York e amanhã será meio expediente!
O fluxo cambial na semana 18-22 foi negativo somente US$ 4,0 milhões, totalizando negativo no ano US$ 22,624 Bi e nos últimos 12 meses US$ 37,278 Bi. No ano o BC vendeu reservas cambiais ao mercado no total de US$ 25,820 Bi, acima, portanto, do fluxo negativo. As reservas cambiais estão em US$ 367,915 Bi.