Opinião

Sidnei Nehme: ausência de convergências fundamentais desacreditam projeções e perspectivas!

11 maio 2020, 13:22 - atualizado em 11 maio 2020, 13:22
Dólar
Colunista discorre sobre cenário político e econômico do país (Imagem: REUTERS/Thomas White/Illustration)

A questão crucial, central e imperativa no Brasil é: “para onde estamos indo efetivamente e como será o momento seguinte?”, e com o ambiente predominante é praticamente impossível se arriscar qualquer palpite que não seja, simplesmente, um “achismo” ou um “anseio”.

Isto só fortalece o grau de incertezas e desalento!

Há esforços evidentes fortemente em sentidos opostos e em consequência, um quase total descumprimento das orientações emanadas dos gestores governamentais em todos os níveis.

Neste quadro, a “esperança” se apequena e os caminhos para a saída se estreitam!

Meramente a título ilustrativo, lembro-me que no Mercado Municipal de São Paulo, o mercadão da Cantareira, onde há uma forte presença pública e forte ebulição de movimentos em todos os sentidos, comprando, vendendo, fazendo turismo, curiosos, etc…. e uma impressão de certa desorganização, havia à sua entrada uma placa que dizia:

“Aqui tudo funciona e ninguém sabe o por quê?”

Mas a razão clara parecia simples, há convergência nos objetivos dos que lá frequentam e realizam os seus intentos! Daí o sucesso até os dias presentes!

A dicotomia no entorno das “duas asas”, expressão de uso do Ministro Guedes para configurar referência para a economia e a saúde, com forte embate ideológico e político e enormes oportunismos políticos agrava, em muito, o quadro predominante no país e é fortemente estimulante à desobediência coletiva, a desorganização e a descrença, resultando num forte desalento.

Afinal, nem sabemos em que estágio está a pandemia no país! E, pior, não há uma diretriz firme e consistente face à grave problemática.

O governo federal vem adotando inúmeras decisões de suporte à deterioração da renda da população, mas é inimaginável que consiga ancorar este quadro além de poucos meses, após o que ninguém sabe como ficará, visto que os recursos são limitados.

Como o governo federal perdeu a autonomia na gestão da atividade econômica e saúde dos Estados e Municípios, temos então vários países dentro de um só com diretrizes díspares em torno da saúde e economia, mas todos com o “chapéu nas mãos” para o governo federal, e a resultante perceptível é que a derrocada tem característica de irreversibilidade crescente.

O Boletim FOCUS, que reflete a mediana das projeções das principais instituições financeiras no país, persiste em suas projeções e as mais recentes de sexta-feira, dia 8, divulgadas hoje indicam para o final do ano: IPCA 1,76% e nos últimos 5 dias 1,64%; PIB -4,11%; dólar comercial R$ 5,00 e SELIC 2,50%.

Absolutamente empíricas, o grau de incertezas prevalecente não permite que se construam projeções minimamente confiáveis para este ano.

Neste quadro global, o Brasil está descolado do restante do mundo, também muito conturbado, mas aparentemente menos desalinhado nas políticas de saúde e economia, e convive com os fantasmas da mortalidade crescente em razão do coronavírus e o desalento da inatividade econômica, que o Ministro Guedes já apontou com risco de um colapso, e um efervescente embate político e ideológico em evolução.

Então, resta a aposta correta no setor agro, que tem expressividade no PIB, já que o país é dos maiores produtores/fornecedores de commodities ao mundo e a demanda está aquecida e, o “câmbio alto” irreversível neste momento no país favorece os exportadores deste segmento e com os demais segmentos da economia paralisados as importações são cadentes.

Assim, deve sobrar uma performance positiva da balança comercial brasileira, e no fundo, o Brasil ainda é uma boa oportunidade no longo prazo para os investimentos estrangeiros de longo prazo em renda variável, o que pode atenuar também o fluxo cambial financeiro.

O BC, certamente, não terá a ousadia de enfrentamento no mercado de câmbio ao “câmbio alto”, seria um esforço inútil neste momento e considerará as benesses presentes, que ainda não parecem afetar os indicadores inflacionários, se bem que o IPCA denota que os coletores de dados também estão em quarentena e isolados e não tem ido aos supermercados acompanhar os preços do varejo.

Enfim, o país está num “corner” e enfrenta uma dura realidade, se não houver intensificação das convergências as incertezas cada vez mais serão maiores e com elas as desobediências e a desorganização.

Tendências na economia? Qual a tendência do preço do dólar e do índice da Bovespa?

Não há como estabelecer a não ser empiricamente.