Opinião

Sidnei Nehme: Atípico movimento do real frente ao dólar, ontem, sugeriu algo além do BC

12 set 2019, 7:44 - atualizado em 12 set 2019, 7:45
Colunista analisa cenário cambial entre moeda brasileira e norte-americana, que além das intervenções do BC, conta com fatores externos (Imagem: Raphael Ribeiro/ BCB)

Por Sidnei Nehme, Economista e Diretor-Executivo da NGO Associados Corretora de Câmbio

O mercado de câmbio à vista no Brasil está sob relativa intervenção do BC, que previdentemente supre a liquidez à vista face à carência de fluxos cambiais positivos e consistentes para o país, e, adicionalmente age no mercado futuro de dólar ancorando a formação da taxa dando-lhe sustentação, comportamento que temos destacado de forma contumaz nos nossos comentários diários.

Contudo, ontem, a despeito dos “ecos maiores do que o fato em si” decorrentes da China ter desonerado 16 produtos americanos, de seu inteiro e pontual interesse, de tarifas e das expectativas em torno do pronunciamento do Presidente do BCE que ocorrerá hoje e pode anunciar programas de incentivo focando a atividade econômica dos países da comunidade.

Além dos destemperos do conflito do Presidente Trump com o Presidente do FED americano exigindo redução da taxa de juro americana para “zero”, ocorreu no Brasil movimento atípico no comportamento do real frente ao dólar.

A rigor somente o real e a lira turca se valorizaram frente ao dólar, sendo que todas demais moedas de países desenvolvidos ou emergentes sofreram desvalorização frente a moeda americana.

Os efeitos imediatos consubstanciados nas expectativas sobre as decisões do BCE a serem anunciadas hoje e da atitude da China retirando tarifas sobre um número muito restrito de produtos americanos e de seu interesse, não foram capazes de impactar a favor do dólar que se fortaleceu inclusive frente ao iene e o franco suíço, deixando evidente que a moeda americana ainda perdura como refúgio principal em momentos de insegurança.

Ontem, destacamos a nossa percepção de que o mercado global está sinalizando movimento de afastamento da euforia decorrente da sinalização de reunião entre China e Estados Unidos trafegando para uma postura de cautela, maior sensatez, e isto a despeito dos ruídos iniciais de ontem pela “gentileza” da China de desonerar 16 produtos americanos de seu interesse, que não se sustentaram.

Então o que aconteceu no mercado de câmbio brasileiro, onde o real tem, por vezes, se apreciado mais do que as demais moedas e se depreciado menos em outras ocasiões, mas que ontem, destacadamente, quase ficou isolada na apreciação frente ao dólar.

O que teria acontecido?

Fluxo intenso de recursos externos imprevistos e que agregados a oferta do BC no mercado à vista pressionaram a taxa “para baixo”? Não se sabe o BC não torna este dado disponível!, ou

Venda intensa no mercado de dólar futuro adicionalmente ao volume de swaps cambiais reversos ofertados e colocados pelo BC?

Seja um ou outro evento, somente hoje saberemos, quem sabe, com maiores detalhes, mas o fato concreto é que houve uma atipicidade no comportamento do preço do dólar no nosso mercado.

Mas, a impressão que fica é que a apreciação ocorrida do real é insustentável, e só ocorreu por razão ou razões pontuais.

Queremos acreditar que a apreciação do real frente ao dólar não seja objetivo do BC neste momento, pois abriria um “gap” para ser estimado de variação cambial que poderia afetar em demasia a formação do preço do cupom cambial, podendo criar embaraços para que o Copom reduza a Selic como é esperado por todo o mercado.

Além de considerarmos como uma necessidade para incentivar as exportações de commodities e focar a melhora do fluxo cambial.

O nosso mercado como um todo convive com um cenário incomum, pois têm juro baixo, inflação baixa, CDS excelente, fluxo cambial ruim (US$ 1,591 Bi negativo líquido em setembro e US$ 8,117 Bi negativo no ano) e baixa atratividade ao capital estrangeiro dado a inércia da atividade econômica.

Até mesmo o especulativo pela inviabilização das operações de “carry trade”, e perspectivas de retomada da atividade econômica somente no médio/longo prazo.

Para o Brasil é tempo de ter paciência e tolerância com o baixo crescimento e desemprego elevado. O país dá evidências de que está na rota certa, mas na velocidade mínima.

No nosso entender para o Copom ter ambiente tranquilo para realizar o corte da taxa Selic, independente do que o Fed possa reduzir na taxa de juro americana, o preço do dólar deverá estar no intervalo de R$ 4,10 a R$ 4,15, por isto o movimento atípico de ontem causa surpresa.

A leitura do movimento global de ontem em torno das moedas deixa o entendimento que o dólar continua sendo o refúgio principal nos momentos de insegurança, e como destacamos no nosso post de ontem, há a percepção de que após a euforia os mercados globais tendem a retomar a cautela, a sensatez.

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