Opinião

Sidnei Nehme: Ansiedade provoca distorções no comportamento do mercado

30 out 2018, 11:30 - atualizado em 30 out 2018, 11:30

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

A racionalidade é algo absolutamente necessária no comportamento dos “players” do nosso mercado financeiro, sem o que perdas expressivas imediatas podem atingir investidores crédulos de que tudo se resolve de imediato, e causar desapontamentos reversivos do otimismo.

Afinal, o país escolheu o candidato de opção do mercado financeiro, e isto, melhora as perspectivas prevalecentes até então, porém é necessário que se dê tempo ao tempo para que os anseios prognosticados de forma teórica possam ganhar forma e proporcionar correspondência na realidade.

Ninguém pode menosprezar a dimensão do desafio que será imposto ao novo governo brasileiro e isto, naturalmente, impõe mais observação do que ação imediata, pois pode precipitar posicionamentos que representem altíssimo risco.

O que se viu ontem, quando advertimos que o emocional poderia deturpar o racional na formação de preços e ocorreu, foi exatamente o que sugerimos que não seja a atitude, a postura do investidor. É preciso ter serenidade neste momento.

Agir intempestivamente na busca antecipada de posicionamentos que possam conduzir ao lucro fácil e rápido pode provocar perdas relevantes e movimentos e cenários inseguros, binários mesmo, nada contributivos para a formação adequada de preços de ativos, e a percepção do erro certamente produzirá volatilidade, oportuna para especuladores com operações de “day trade” fomentadas pela propagações do “disse isto ou disse aquilo” que serão habilmente exploradas, já que não há um programa governamental prévio e rigoroso e sim, somente estará sendo construído agora a partir de demandas mais imediatas.

O importante neste momento é o otimismo, ou seja, a direção, já que necessariamente precisará haver tolerância com a rapidez visto que surgirão percalços na trajetória e que deverão ser monitorados e ajustados.

Há um novo Congresso Nacional renovado em grande parte, haverá necessidade de alinhamentos, negociações, construção de base política para dar suporte às proposituras do novo governo. Isto implica em tempo.

O realinhamento do Brasil “fora do ponto” é um desafio considerável e implicará em grande esforço e foco, pois certamente haverá esforço de oposição pois o corporativismo de resistência é muito forte e contumaz.

Há absoluta necessidade de o governo rever desonerações concedidas e que não são justificáveis num país com enorme déficit fiscal.

É preciso ter em mente que os desafios internos são enormes e que o cenário externo não sinaliza que teremos tempos benignos no horizonte.

O prêmio de risco ainda não poderá ser expurgado do preço da moeda nacional no nosso mercado, embora tenhamos uma situação cambial tranquila e um confortável déficit de transações correntes, inflação e juro baixo, mas o “restante” dá suporte a manutenção deste conteúdo no preço do dólar.

Não pode ser ignorado que no mercado futuro de dólar há um posicionamento “comprado” bastante especulativo, principalmente detido por estrangeiros, da ordem de US$ 39,0 Bi, que certamente resistirão ao máximo à reversão desta situação com prejuízo significativo se o preço da moeda expurgar o conteúdo risco.

É preciso ter alinhada a viabilização das reformas fundamentais para o alívio da crise fiscal, sem o que a governabilidade ficará refém da falta de recursos, e quem sabe quanto tempo para tanto será demandado?

Investimentos do governo em infraestrutura são dependentes do equilíbrio fiscal, então as expectativas de curto prazo são baixas.

Não pode haver precipitações, pois se houver poderão tumultuar e trazer intranquilidade e insegurança.

Afinal, a Bolsa é dependente da atividade econômica brasileira em sua grande parte e do desempenho das commodities no mercado internacional. A economia brasileira precisa de alinhamento para ganhar ritmo e não se espera, como ocorreu ao início do Governo Lula, que se repita o “boom das commodities”, havendo, isto sim, muitos embates comerciais, principalmente Estados Unidos e todo o mundo, que poderão piorar o cenário prospectivo.

Investimentos externos serão fundamentais para a implementação de programas de privatizações, mas não se pode ignorar que os Estados Unidos agora são grandes concorrentes em consequência da reforma tributária que induz a permanência do investidor americano no próprio país e até o desinvestimento em outros países. De toda forma, o país se desejar ser receptivo aos investimentos externos deverá ser menos burocrático e moroso.

Enfim, mudou o governo e isto é entendido como fato positivo e traz novo ânimo, mas na realidade não há “céu de Brigadeiro” no horizonte, os tempos são desafiadores.

Não cabem precipitações no momento, é absolutamente necessário que tudo se desenvolva gradualmente e de forma segura e bem alinhada.

Continuamos vendo o dólar equilibrado, agora no entorno de R$ 3,70, inflação se atenuando para a proximidade de 4% face à queda do preço do dólar, B3 entre 85.000 à 90.000 pontos e juro em queda e SELIC estável em 6,5%.

Mudanças mais sustentáveis, acreditamos, somente a partir do 1º trimestre de 2019, e mesmo assim de forma gradual ancorada em sinais de evolução segura das perspectivas de médio prazo.

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