Sidnei Nehme: Ansiedade ante perspectivas muito favoráveis provocam movimentos de volatilidade
Por Sidnei Nehme, Economista e Diretor-Executivo da NGO Associados Corretora de Câmbio
O bimestre final de 2019 parece sinalizar contexto muito diferente do que prognosticado meses atrás, e isto, naturalmente causa uma euforia ainda contida, mas se reflete já na ansiedade nas perspectivas favoráveis que tem forte tendência à consolidação.
Reformas avançam a despeito de todos “trompaços” de natureza política, ensejando embates corporativos e ideológicos, e tendem a recolocar o país num novo contexto mais ordenado e definido.
O crescimento do PIB já sinalizando probabilidade de atingir 1% já não é “tão feito” quanto dantes, há exemplos piores sem os crassos problemas brasileiros mundo afora, o juro tende a mínimas históricas, da mesma forma a inflação, etc., construindo um ambiente que o país nunca conviveu e, a bem da verdade, por vezes até denota certa inexperiência com o novo.
Mas as “pedras” vão se ajeitando uma a uma e o sentimento é que há evolução.
O juro e a inflação estão baixos, os financiamentos ficam baratos e a indústria da construção civil e vendas imobiliárias demonstram recuperação e este setor emprega muito.
A propensão aos empréstimos de médio e longo prazo ganha força e o setor creditício procura melhores oportunidades para rentabilizar seus capitais, acostumados à tranquilidade de financiar a dívida pública brasileira.
Há um esforço do governo para aumentar o elenco de concorrentes, facilitando a entrada de bancos estrangeiros e criação de fintechs para quebrar velhas práticas com o acirramento da concorrência.
Atingindo os rentistas força o direcionamento dos recursos para a renda variável, em especial Bovespa, que é o ambiente apropriado para captação de recursos pelos empreendedores a custo baixo.
Os números “já falam”, por isso é importante prestar mais atenção ao “Brasil que interessa” e desprezar os temas nefastos que polarizam embates sobre temas irrelevantes. Há geração de emprego, embora predominantemente informal, mas há e isto gera renda e consumo, com a retomada da atividade econômica e certo alívio dos encargos trabalhistas a normalidade retornará de forma natural.
O otimismo que surgiu inicialmente do mercado financeiro ancorado nas expectativas alvissareiras em torno do médio prazo, já avançam por outros setores, e os investidores estrangeiros já sinalizam que o Brasil retoma atratividade para investimentos, seja na conta capital seja no mercado financeiro, e isto é relevante após a ressaca de fluxos cambiais positivos a que foi submetido o país, algo como menos US$ 40,0 Bi na comparação entre 2019 e 2018.
Então o Tesouro Nacional, hábil e pontualmente, anuncia colocação de títulos no mercado global a prazo de 30 anos, colocando a teste importante o fato de o país ter um CDS 5 anos extremamente positivo de 117 pontos e tendente a romper o recorde de 111 pontos.
Esta colocação será relevante guia para as empresas nacionais retomarem a captação externa, que foi interrompida por troca por dívida nacional face a queda de facilidade de acesso ao mercado internacional e ao encarecimento que tornou os custos internos mais atraentes.
O que se espera é que as taxas externas voltem a ser atraentes e desta forma a alternativa externa passe a ser a prioridade e fomente desta forma o fluxo cambial para o país.
Há muitos eventos para esta semana, como o leilão do pré-sal e a apresentação de novas reformas pelo governo federal, que são fatos relevantes e que fortalecem as perspectivas recuperatórias do país.
Bolsa e dólar podem até ter movimentos voláteis, mas, seguramente, tem perspectivas de alta e de baixa respectivamente, o que deve se acentuar com a intensificação dos fluxos de capitais estrangeiros.
Esta será uma semana para observar, mas a tendência é de ocorrência de fatos positivos impactantes.
Em nossa percepção parece cada vez mais provável a convergência do preço da moeda americana para o entorno de R$ 3,80 no nosso mercado, a despeito da projeção do Focus de R$ 4,00.