Dólar

Sidnei Nehme: Anseio afeta projeção e preço do dólar pode demorar até acentuar a depreciação

16 jan 2019, 13:38 - atualizado em 16 jan 2019, 13:38

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

Há sinais consistentes de que a projetada e esperada depreciação forte do dólar frente ao real pode demorar um pouco mais do que as projeções imediatas atuais, visto que a relação causa-consequência no caso não decorre diretamente da mudança do governo em si, mas das mudanças que se espera sejam impulsionadas pelo novo governo.

O Brasil não tem problemas no que tange as suas contas externas, déficit em transações correntes e detém substantivas reservas cambiais, mas, em contraposição, tem problemas severos como a crise fiscal relevante carente de medidas que sugiram correção do viés, e isto, necessariamente, para por reformas dentre as quais a mais esperada é a da Previdência, afora uma série de outras decisões imperativas para a retomada da atividade econômica.

Há sinalizações efetivas do novo governo no sentido de submeter a proposta da reforma da Previdência, da qual se tem “flashs” mas não se conhece os termos concretos, ao Congresso Nacional, que a partir de março terá uma nova composição parcialmente renovada, e, não se espera decisões imediatas mas, sim, a forte convicção de que ensejará debates e embates que poderão protelar o alcance de consenso com dispêndio de tempo muito maior.

Sem a definição de soluções concretas para o problema fiscal, que liberará o governo para foco nas demais reformas e uma série de medidas focando a retomada da atividade econômica, concitando investidores nacionais e estrangeiros a realização de investimentos, com geração de emprego, renda e consumo.

O que tem se observado é uma postura dos investidores, em especial os estrangeiros, de muita sensatez e aguardando a materialização das medidas efetivas consolidando a retórica de intenções.

Por enquanto, a economia real continua na mesma dinâmica letárgica do governo Temer, havendo, contudo prevalência de otimismo com as perspectivas, mas incertezas quanto ao tempo que será demandado para que surja efetivo novo momento, e isto provoca um hiato na tomada de decisões quer do setor público quer do setor privado.

O preço da moeda americana retornou ao parâmetro em torno de R$ 3,70, por longo período considerado o ponto de equilíbrio para encerramento do ano de 2018, e assim continua sendo considerado para o início deste ano.

O fluxo cambial não está favorável neste início de ano, a Bovespa insinua valorização antecipando-se aos fatos, mas não está com o seu movimento de valorização ancorado em fluxos de investidores estrangeiros.

No câmbio há projeções precipitadas e apostas dantescas na apreciação do real frente ao dólar, mas neste quesito é necessário mais razões mais fundamentadas em sinais concretos para que tenham sustentabilidade.

Embora sempre se admita como verdadeiro o fundamento de que é no mercado futuro de dólar que se forma o preço, há movimentos neste momento que sinalizam incertezas.

Os “players” que vinham mantendo posições vendidas no mercado futuro, portanto com a convicção de que o real sofrerá apreciação, revelaram sutil mudança de atitude por parte dos bancos reduzindo seus posicionamentos, enquanto os institucionais em especial fundos de investimentos até elevaram suas apostas com posições vendidas para algo em torno de US$ 34,5 Bi (US$ 12,5 Bi dólar futuro e US$ 22,0 Bi cupom cambial), segundo o site “Seu Dinheiro”.

O movimento dos bancos é sugestivo de indicação de retração da convicção de queda mais acentuada imediata do preço do dólar e assim realizaram o lucro.

Por outro lado, o bancos estão com US$ 26,0 Bi de posição vendida no mercado à vista, aquele que requer moeda efetiva e que é alcançada a partir do fluxo cambial, que, contudo não tem um viés animador ao início deste ano, como já ocorrera em dezembro. Embora certamente tendo esta posição protegida adequadamente, aos bancos, em tese, não interessa nem a alta e nem a baixa do preço, mas sim que o fluxo melhore de vez que não se acredita que o BC, até por inoportuno dados os ruídos consequentes, realize uma oferta efetiva de moeda.

Esta posição vendida dos bancos está ancorada em linhas de financiamentos em moeda estrangeira com recompra no montante de US$ 12,250 Bi, com a diferença provavelmente sendo ancorada por linhas externas dos correspondentes estrangeiros, mas o momento é sugestivo para que o BC eleve a oferta de linhas para manter o mercado líquido enquanto o fluxo cambial não der sinais efetivos de melhora consistente.

O cenário externo vem perdendo um pouco as expectativas mais favoráveis, com inúmeras projeções de recrudescimento de crescimento, e há muita preocupação com a dinâmica da economia americana, também nos posicionamentos do FED, e mais em torno do embate comercial USA-China para o qual não se nutre expectativa de soluções imediatas, conturbações em torno do Brexit, etc….

Num cenário “confuso e incerto” pode ocorrer maior rigor seletivo por parte dos investidores externos e isto pode postergar e até reduzir os fluxos de recursos para os emergentes.

Este contexto sugere que haja maior sensatez, admitindo-se que os fluxos cambiais intensos mais imediatos não sejam tão imediatos e até mesmo não tão intensos, contrariando as mais otimistas projeções.

Continuamos com a convicção de que o preço da moeda americana permaneça no entorno de R$ 3,70 com discreta volatilidade apreciando-o ou depreciando-o sem afastar efetivamente do eixo.

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