Sidnei Nehme: Ação do BC é inócua e errática
O Banco Central do Brasil com a sua intervenção intempestiva no mercado de câmbio ofertando, outra vez, “swaps cambiais” acaba sancionando o reconhecimento, espécie de auto vitimização do país pela crise cambial de outros emergentes, de fato para o qual estamos suficientemente defendidos.
A intervenção num ambiente em que não há efetiva e consistente demanda, nem por proteção e nem por liquidez no mercado à vista, é absolutamente inoportuna e dá um atestado irreal de reconhecimento de um problema que na realidade não nos afeta no momento.
Todos os pontos que evidenciavam que o preço do dólar precisava de ajuste foram precificados e assim conduziram o preço do entorno de R$ 3,30 para R$ 3,80.
A partir deste ponto, com algum estresse adicional em torno da questão eleitoral, poderia chegar de forma não sustentável até a proximidade de R$ 4,00, e acima disto somente com a inesperada liberação da candidatura do ex-Presidente Lula, que seria um motivo de forte impacto nas expectativas e tornaria mais incertas as perspectivas, já eivadas de dúvidas e incertezas relevantes.
O Banco Central do Brasil ao invés de atuar e dar margem a interpretação de que “temos problemas” na área cambial, quando efetivamente estamos consolidadamente defendidos, neste momento deveria pontificar com esclarecimentos pontuais ao mercado a confortável situação do país no quesito cambial e contas externas, ressaltando a expressividade das nossas reservas cambiais, nosso baixo déficit em transações correntes, nosso positivo saldo comercial, nossa suficiência sobre o passivo externo do país, o fato de a grande maioria da demanda por proteção cambial estar adequadamente protegida com o estoque de swaps cambiais colocados em montante em torno de US$ 70,0 Bi, que tem mecanismos operacionais efetivos para suprir, se necessário, por demanda efetiva as necessidades adicionais de proteção cambial e toda liquidez que for necessária no mercado à vista, para dar suporte às saídas de capitais estrangeiros.
Ademais, não se observa pela análise do fluxo cambial qualquer intranquilidade dos investidores, o que até surpreende, pois seria pertinente um movimento maior de saída de recursos estrangeiros em busca de posições mais defensivas na medida em que se aproximam as eleições no Brasil, em especial a da sucessão presidencial ainda bastante indefinida.
E destacar que o quadro no segmento cambial em 2018 é absolutamente diferente do de 2002, já que há alguns especialistas ainda insistindo neste equívoco, e assim transmitir serenidade e tranquilidade ao mercado, já que o país por mais contraditório que possa parecer tem uma situação extremamente confortável na atualidade neste quesito, diferentemente de 2002.
O viés de alta do preço do dólar está forjado na especulação e esta “se alimenta” de todo e qualquer fato para fomentar o seu propósito, seja a Turquia, a Argentina, o FED requentando o tema do juro, as disputas comerciais, etc… Estes são fatores imponderáveis e para estes a intervenção do Banco Central do Brasil é absolutamente ineficiente, por isso sinalizamos figurativamente que corresponde a “enxugar gelo”, já que ao ser corrigido para R$ 3,80 precificou o fatores ponderáveis.
Contudo, a intervenção inoportuna fomenta mais a especulação. O viés era de alta com baixa volatilidade, agora com a intervenção da autoridade monetária a volatilidade será intensificada e desafiará a autoridade a torná-la frequente e então haverá o ambiente para as operações de “daytrade”, com ganhos rápidos.
O ambiente, embora com viés de alta alavancada por fatores imponderáveis, não sinalizava volatilidade forte e nem problemas de liquidez nem para proteção cambial e nem no mercado à vista.
Movimento mais acentuado de realização na Bovespa está no radar, investidores devem assumir postura mais defensiva e realizar lucros, até porque as perspectivas na área econômica e fiscal não referendam expectativas alvissareiras para os próximos 2 anos e há muita incerteza quanto a viabilidade de recuperação da atividade econômica de forma contundente. E mais, no quesito câmbio os investidores na Bovespa estão na sua quase totalidade protegidos com “hedge”.
Se o Banco Central do Brasil desejava dar um sinal geral de que estava atento ao contexto, já que uma grande maioria é leiga no assunto câmbio e faz as mais diversas interpretações quando o preço da moeda americana sofre mutações relevantes, seria de toda conveniência que se comunicasse com o mercado e com a nação, sem necessariamente intervir, que pode se revelar um sinal de fraqueza e considerando que num ambiente de influência de fatores imponderáveis sua intervenção é ineficaz.
Agora o Banco Central do Brasil ficou com o ônus de intervir de forma constante e, mesmo que de forma errática, o momento escolhido foi o pior possível, pois se deu na véspera do dia da fixação da taxa Ptax para a virada do mês, que enseja um forte embate entre “comprados” e “vendidos”, e que tem os “comprados” em posição mais favorável e que portanto continuarão fomentando a alta de forma intensa hoje.
Acreditamos que agora sim a volatilidade aumentará muito, com os especuladores aguardando que o BC intervenha e isto causando movimentos sincronizados de oscilações oportunas.
Certamente, ter continuado observando sem intervir parece que teria sido a melhor opção.
Continuamos entendendo que qualquer aposta acima de R$ 3,80 excedendo até R$ 4,00 por estresse e não sustentável, é um risco.