Sidnei Nehme: A “fatura” dos desmandos globais com o embate China-EUA surgem e atemorizam
Por Sidnei Nehme, Economista e Diretor-Executivo da NGO Associados Corretora de Câmbio
Havia uma consciência muito evidente de que o embate entre China e Estados Unidos, orquestrado por iniciativa do Presidente americano Donald Trump, não estava fadado a consagrar vencedores, mas sim que a certeza é de que todos perderiam.
A despeito disto, a dinâmica do embate com retaliações de parte a parte foi mantida e afetando toda a economia global, causando receios e temores de recessão e estagnação de economias até então pujantes, e este é o quadro deletério que se presencia neste momento.
A economia americana, maior do mundo, passa a ser dominada por preocupações sobre o crescimento depois que dados fracos da sua indústria passam a fomentar o receio de desaceleração, e o fato é atribuído ao enfrentamento com a China e ao juro ainda elevado mantido pelo Fed que mantém o dólar forte, segundo opinião do Presidente Trump, que a este fato atribui a derrocada da atividade industrial.
O índice de atividade industrial do ISM mostrou uma leitura de 47,8 em setembro, contraindo pelo segundo mês consecutivo e ficando abaixo das expectativas dos economistas de 50,1. A leitura é de contração.
Este é um ponto questionável, pois o enfrentamento fomentado pelo Presidente Trump colocou o mundo global em postura defensiva, e este fato tem grande parcela de responsabilidade pelo dólar forte pois a moeda americana representa o “porto seguro” em momentos de incertezas e, a rigor, é difícil antever se a queda do juro seria capaz de tirar-lhe esta característica defensiva em épocas de crise.
A China já havia sinalizado efeitos impactantes na sua economia, efeito também do embate com os Estados Unidos, e foi quem deu o passo inicial para utilizar a moeda – que administra na sua relação paritária – como instrumento de aumento de competitividade nas disputas comerciais.
A zona do euro que já tem sinalizações fortes de retração a partir de sua economia maior, a Alemanha, teve suas bolsas fechando em queda na terça-feira, após 3 dias consecutivos de altas, temerosas com os sinais de desaceleração na maior economia do mundo.
Enfim, não há bonança para ninguém, e os países emergentes neste quadro de forte desajuste podem ter acentuada a aversão ao risco, e sofrerem consequências de situações que sequer contribuíram para que fossem instaladas.
Há o risco dos ânimos se acirrarem e o protecionismo se agravar e tudo piorar.
O Brasil atravessa um momento bastante desfavorável em relação à cena global, convive com crise fiscal e frágil atividade econômica, mas do jeito que seguem as coisas já se pode considerar que o crescimento do PIB entre 0,80% e 1,00% neste estado de coisas global será um grande sucesso.
Avança nas reformas o que positivo para o seu ordenamento, mas o fato é que as mesmas não representam avanços na sua capacidade de investimentos, mas tão somente a contenção de gastos insuportáveis, e a sua economia evidencia grande capacidade ociosa que causa desemprego e queda de renda.
O Brasil precisa que o setor produtivo demonstre sua garra neste momento e assuma investimentos fundamentais, mas as reações até o momento não sugerem que haja motivação para tanto, então há frustração.
O país tem um contexto “sui generis” e absolutamente atípico para o seu perfil histórico, com inflação baixa, juro baixo, inflação baixa, até mesmo um CDS de referência, mas não desperta atratividade ao capital estrangeiro, nem tradicional e nem especulativo.
Já que o estreitamento do juro interno com o externo tirou-lhe a característica de bom país rentista, e praticamente baniu o capital especulativo pela inviabilidade das operações de “carry trade”.
Convive neste momento com um problema que pode ser nefasto e duradouro, qual seja por não despertar atratividade externa como dantes sofre de carência de fluxo cambial positivo, embora disponha de soberbas reservas cambiais e não suscite risco de crise cambial, o que obriga o BC a fomentar, diariamente, a liquidez do mercado de câmbio à vista.
E este é um cenário que não permite que se anteveja o término, por isso inquietante.
O preço da moeda americana vem se mantendo em níveis elevados, incompatíveis como “status quo” do país que não tem risco de crise cambial, mas a estratégia de intervenção do BC oferecendo moeda à vista no mercado à vista, que nos parece correta, combinada com oferta de swaps cambiais reversos, no mercado futuro, que não nos parece correta se a intenção não é sustentar o preço em patamar elevado, pode evitar qualquer contração no preço atual.
O Brasil neste contexto interno onde é baixa a tendência de incremento de investimentos públicos ou privados, e de queda de fluxo cambial pela perda de atratividade face à inércia da atividade economia e queda da oportunidade de rentabilidade no mercado financeiro, precisará “reinventar-se” para sair do marasmo e as privatizações denotam ser o caminho correto, num momento em que a tendência das remunerações no mundo tendem a “zero”.