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Sidnei Nehme: 2018 ano seccionado por assuntos pontuais. Visão crítica poderá vir tardiamente!

19 fev 2018, 7:57 - atualizado em 19 fev 2018, 7:57

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

O Brasil está vivenciando um ano seccionado em ciclos pontuais e com isto o foco nos aspectos mais relevantes ficam prejudicados e há um otimismo fomentado de forma hábil que inibe a percepção do que seja mais importante.

Iniciamos “festejando” inúmeras conquistas no ano findo de 2017, superlativando a recuperação econômica; a retomada do emprego que por fim não se revelou da forma propagada; a colocação da reforma da previdência como fato altamente relevante para sanar a crise fiscal, o que não é verdadeiro e tem grande chance de não ser aprovada; o ato falho da ideia de quebra da regra de ouro para garantir a gastança incontrolável do governo; a cena política atraindo as atenções; a condenação do ex-Presidente Lula, e, mantendo a absoluta indefinição sobre nomes viáveis e factíveis para candidatura ao posto de Presidente a partir de 2019, e algumas coisas a mais.

Veio então o carnaval e o país esqueceu a crise e festejou e manifestou todo o seu repúdio ao caos brasileiro em tom musical e o fez desde antes da data até o momento pós, transparecendo mesmo que todos vivem no melhor dos mundos.

À margem seguem os dramáticos temas que sancionam a crise da cidade maravilhosa, Rio de Janeiro, falência financeira e falência de gestão que leva a intervenção militar na segurança pública. Destaque-se, contudo, que o clima de insegurança é de abrangência nacional.

E se mantém a negociação em torno da reforma da Previdência, bastante descaracterizada e cada vez mais improvável.

Vivemos este contexto no momento, e sem eventos relevantes para o Brasil real, comemora-se um inflação baixa, que seguramente não anda sobre rodas e nem é tocada a gás, e perspectivas de mais queda na SELIC para, quem sabe, 6,50% num pais que empresta dinheiro até a 500% aa. e saíram de cena avaliações mais precisas sobre o emprego, renda, consumo, etc… assuntos mais relevantes e que são vistos secundariamente.

O mercado financeiro com grande aporte de recursos estrangeiros especulativos, forjados com operações de “carry trade”, vive a euforia da Bovespa em alta e o dólar com preço depreciado, transparecendo que estamos no melhor dos mundos embora na realidade nada seja sustentável, mas nos confundimos com Wall Street e repercutimos tudo que por lá acontece, sem observarmos nossos “pés de barro” e a “areia movediça” sobre a qual estão nossos fundamentos.

Vamos indo, e assim entraremos no ciclo da Copa do Mundo, outro evento festivo para a população, que desta forma permanecerá distraída e sem foco nos problemas maiores do país.

Depois virá agosto, ai então, começarão a ser notados tardiamente os efetivos problemas brasileiros.

Restarão efetivamente 3 meses de governo, considerando-se que atuará como tal até as eleições, e este será um período de forte tensão política. O Brasil precisa de nomes para a postulação da Presidência e não os tem, não conseguiu forjá-los com a qualificação que o país precisa, então deverão ocorrer disputas acirradas dentro dos próprios partidos, tendo à margem as incertezas em torno do ex-Presidente Lula, que deverão aquecer muito as discussões e provocar muitas atitudes reacionárias.

Tempos quentes.

Então poder-se-á verificar que os propagados avanços da economia em nada servirão para alavancar candidaturas à Presidência, pois podemos ter parado de piorar, mas ainda estaremos longe de efetiva e sustentável melhora.

Surgirão então as exposições das questões intestinas do país, relevantes e carentes de soluções, como a questão fiscal, o emprego, a renda, o consumo, etc. e tudo será colocado em destaque no embate entre os candidatos. As redes sociais certamente inibirão as propagandas enganosas dos programas televisivos eleitorais.

Então é bem possível que ocorra a percepção de que há muito o quase tudo a ser feito para que o país retome de forma sustentável a dinâmica da recuperação econômica e, também, ficará claro que a gastança criará problemas para a realização do orçamento de 2019 sem que ocorra a quebra da regra de ouro.

Então descobriremos que o Brasil não está no bloco de países em grande fase de recuperação econômica, relembraremos que somos um país emergente e com imensas vulnerabilidades.

À margem deste contexto interno, há toda uma gama de riscos que poderão advir do cenário externo onde a farta liquidez promove o sentimento de grande prosperidade. Há muitas dúvidas e incertezas sobre as condutas que serão adotadas pelo FED em relação a inflação, taxa de juro, contenção da liquidez abundante, etc, e não somente o FED mas por parte de outros Bancos Centrais dos países desenvolvidos.

Como emergentes, que por vezes esquecemos que somos, corremos o risco das mutações externas que podem ter grande impacto no mercado financeiro principalmente, e, também a ocorrência de uma visão mais crítica a respeito do país e seus problemas e indefinições.

Portanto, o Brasil tem muitas razões para ter uma postura precavida e sensata, assim como seus investidores, que parecem inebriados pela cena externa sem atentar para os nossos problemas efetivos.

Entendemos que é preciso muita atenção em relação ao comportamento da Bovespa e ao preço da moeda americana.

Poderão haver mudanças abruptas e muito rápidas.