Siderurgia abafa fornos e ações despencam: Usiminas derrete 11%, CSN cai 9% e Gerdau perde 7%
Produtores de aço do Brasil estão aos poucos cortando porções significativas de suas produções de aço bruto, diante de um mercado que evaporou praticamente da noite para o dia após as medidas de restrição à circulação tomadas como forma de conter a epidemia de coronavírus no país.
Dessa forma, as ações do setor siderúrgico terminaram em forte queda nesta sexta-feira. Usiminas (USIM5) despencou 11%, CSN (CSNA3) caiu 9,5% e Gerdau (GGBR4) teve perda de cerca de 7%.
Com o parque automotivo nacional em férias coletivas até pelo menos final deste mês, suspensão de lançamentos imobiliários, ausência de grandes projetos de infraestrutura e um mercado consumidor temendo pelo desemprego em massa, a demanda por aço no Brasil despencou fazendo grandes produtores como Usiminas, ArcelorMittal e Gerdau iniciarem processos de desligamento de alto-fornos.
Projetados para funcionar ininterruptamente, o chamado abafamento de alto-fornos é uma das medidas mais radicais a serem tomadas por empresas do setor siderúrgico para enfrentarem momentos de crise.
A Usiminas anunciou na véspera desligamento de dois alto-fornos, ampliando para quatro o número de equipamentos de produção de aço bruto parados da empresa e ficando apenas com um operacional.
A rival ArcelorMittal iniciou nesta semana abafamento do alto-forno 3 de sua usina no Espírito Santo, que vai se juntar ao 2, parado desde o ano passado.
A Gerdau anunciou nesta sexta-feira que vai desligar este mês o alto-forno 2, de 1,5 milhão de toneladas de capacidade anual, da usina de Ouro Branco (MG), ficando apenas com o equipamento 1, de 3 milhões de toneladas.
A empresa também disse que vai parar aciarias elétricas e laminações de aços longos em abril no país.
Procuradas, Ternium, que tem a Usiminas entre clientes, e a CSP não se pronunciaram.
A CSN segue operando no Rio de Janeiro graças a pedidos da construção civil, mas fonte próxima do assunto afirmou que a empresa está estudando o atual cenário de oferta, demanda e estoques na cadeia.
“Tudo está sendo estudado: demanda, nível de estoque, exportações, capacidade produtiva, férias coletivas… Abafar um alto-forno é delicado, mas pode acabar ocorrendo com todo mundo”, afirmou.
Referindo-se ao desligamento dos fornos da Usiminas, analistas do Credit Suisse afirmaram nesta sexta-feira que a situação “não apenas indica que as condições de demanda serão significativamente mais fracas adiante, mas que os custos provavelmente vão subir”.
“Promover o abafamento de um alto-forno é custoso…e o religamento até o atingimento de nível ótimo de produção pode levar semanas, se não meses”, acrescentaram.
Os dois alto-fornos da Usiminas em Cubatão estão desligados desde 2016, e a empresa havia informado em fevereiro que não via condições de demanda suficiente para religá-los antes de 2024, por causa do já débil crescimento da economia brasileira antes da pandemia de Covid-19.
Com o desligamento de dois dos três altos-fornos em Ipatinga (MG), a capacidade nominal da Usiminas, fica limitada a cerca de 2,35 milhões de toneladas por ano.
No total, a Usiminas poderia produzir até 9,5 milhões de toneladas com todos os fornos em funcionamento. Já a usina da ArcelorMittal em Tubarão, reduzirá sua capacidade de 7,5 milhões de toneladas anuais para cerca de 3,8 milhões de toneladas, com apenas o forno 1 em operação.
“Ainda não há previsão de quanto tempo o equipamento (alto-forno 3) ficará parado. Isso vai depender das condições do mercado”, afirmou a ArcelorMittal Brasil em comunicado. Além do alto forno, a empresa está reduzindo produção de aços longos neste mês. O grupo não informou volumes.