Shoppings no 4T22: Hora de ver se Black Friday e Natal resistiram ao cenário econômico
Na próxima semana, a Multiplan (MULT3) abre a temporada de balanços de resultados financeiros do quarto trimestre de 2022 do setor de shoppings, passando a régua no ano anterior.
Apesar de MULT3 e Iguatemi (IGTI11) já terem divulgados números operacionais em janeiro, o mercado quer saber no detalhe as perdas e os ganhos das empresas, após números prévios mostrarem que o setor continua “impressionando”.
Para o BTG Pactual, os dados de shoppings estão “indo muito bem” e devem ter bom desempenho, com vendas fortes garantindo bom retorno e ajudando a receita com aluguéis.
Os analistas do banco destacam que Multiplan e Iguatemi mostraram vendas mesmas lojas (SSS, na sigla em inglês) robustas no quarto trimestre graças a uma boa exibição em dezembro.
“Os shoppings devem mostrar novamente crescimento impressionante da receita, já que eles repassaram a inflação para os aluguéis”, diz a equipe de real estate do banco. Porém, para o BTG, Iguatemi deve “roubar a cena” novamente, com seu portfólio de shoppings de primeira linha e entregando números operacionais consistentes.
Aliansce Sonae volta ao radar
As expectativas para Aliansce Sonae (ALSO3) e Syn (SYNE3) não são das mais animadoras. Entretanto, os números ainda devem ser bons.
O BTG retomou a cobertura de ALSO3 com recomendação de compra e preço-alvo de R$ 26, o que representa uma valorização de 45% em relação à cotação atual, perto de R$ 17,90.
O retorno se deve à fusão da empresa com a BR Malls, criando uma nova companhia que será a maior operadora de shoppings da América Latina. Os analistas destacam que a Aliansce Sonae prevê potencial sinergia de R$ 210 milhões por ano com a nova empresa, o que inclui também R$ 161 milhões de Ebitda, com sinergias de receita, economia de custos e despesas, além de R$ 49 milhões em despesas com juros.
“Embora esse número tenha sido validado por consultorias, acreditamos que o aumento da receita parece limitado e o refinanciamento da dívida da BR Malls já estava em andamento”, comentam.
Os analistas do BTG dizem esperar sinergias menores do que a empresa estima, “principalmente, em termos de custos e despesas, levando cerca de três anos para capturá-los”. Eles destacam que ALSO3 está sendo negociada com descontos para Multiplan e Iguatemi, o que é um “pouco merecido”, considerando que as vendas e aluguéis de seus locatários foram ligeiramente mais fracas.
Shoppings com bons números, mas com corte de preço-alvo
Apesar dos números de Multiplan e Iguatemi serem vistos com bons olhos por analistas, recentemente, o Credit Suisse anunciou o corte de preço-alvo das duas companhias. Da MULT3, passou de R$ 29 para R$ 27, enquanto IGTI11 caiu R$ 29 para R$ 23. A recomendação é de compra para ambas.
Os motivos, segundo o banco, é um valuation descontado, já que as ações das duas administradoras de shoppings estão cerca de 30% abaixo da média histórica nos últimos cinco anos. Os papéis caíram cerca de 10% desde novembro.
“Acreditamos que a reação do mercado após as eleições foi exagerada, pois vemos as duas empresas protegidas de uma potencial desaceleração do consumo, dada a exposição a consumidores de alto padrão”, comentam. Os analistas do banco estrangeiro destacam que MULT3 e IGTI11 reduziram o nível de endividamento antes de virar o ano, com a Multiplan atingindo o menor nível em 10 anos.
“Para 2023 e 2024, esperamos que a Multiplan registre fluxo de caixa operacional de R$ 1 bilhão e R$ 1,1 bilhão, e de R$ 616 milhões a R$ 662 milhões, respectivamente, deixando-nos confortáveis com a alavancagem atual”, diz o Credit Suisse.
A equipe do banco suíço reforça que a inflação persistente e taxas de juros mais altas são condições negativas para o consumo em geral. Mas vê o público-alvo dessas empresas como consumidores resilientes ao longo desses tempos.
Resultado positivo no geral
Ainda assim, o head de real estate da XP, Ygor Altero, observa que a Multiplan pode ser destaque com desempenho recorde de vendas, ajudando na continuidade do repasse de aluguéis e na receita de locação.
“Além disso, ela deve apresentar ganhos de eficiência, levando ao crescimento da margem Ebtida”, diz. Por outro lado, a Iguatemi deve seguir tendência positiva com inadimplência líquida e custos de ocupação saudáveis, ajudando o crescimento do aluguel mesmas lojas (SSR).
Enquanto isso, a BR Malls deve reportar no quarto trimestre impactos negativos nas vendas em meio ao desempenho abaixo do esperado na Black Friday. Porém, a XP espera um resultado consistente, com receita líquida alcançando R$ 488 milhões e melhora na margem Ebitda de 3 pontos percentuais (p.p.) na comparação trimestral.