Shell vê oportunidades em mercado de captura de carbono
Capturar emissões de gases do efeito estufa e enterrá-las no subsolo seria um caminho para desacelerar o aquecimento global. Também pode ser lucrativo para empresas de petróleo e gás que desenvolvem a tecnologia.
A indústria tem usado o chamado sequestro de carbono há décadas como forma de bombear mais hidrocarbonetos do solo.
Hoje, empresas de energia – com a ajuda de subsídios dos governos – buscam aprimorar a tecnologia de captura e armazenamento de carbono, não apenas para enterrar suas próprias emissões, mas também aquelas produzidas por outras indústrias, como aço e cimento.
O setor criará “muito rapidamente” o uso de “CCS (sigla em inglês para captura e armazenamento de carbono) como um serviço”, disse o responsável por soluções integradas de gás, energias renováveis e novas energias da Royal Dutch Shell, Maarten Wetselaar, em entrevista recente.
A gigante de energia atualmente participa de uma série de grandes projetos de CCS, como na Noruega e nos Países Baixos.
Na terça-feira, a Shell anunciou uma proposta para construir uma instalação de grande escala com capacidade de armazenamento de 300 milhões de toneladas em seu Complexo Scotford em Alberta, Canadá.
No entanto, até agora apenas dois estão operacionais, o Quest no Canadá e o projeto Gorgon, operado pela Chevron, na Austrália.
Esses projetos são “unidimensionais”, no sentido de que estão “muito focados em nossas emissões para nossos próprios ativos”, disse Syrie Crouch, que comanda a unidade de CCS da Shell.
A questão agora é focada no que o CCS pode oferecer além de capturar as próprias emissões da Shell, diz Crouch. Seja ajudando a indústria do hidrogênio azul – que exige a captura de emissões – ou oferecendo serviços de carbono para emissores pesados em centros industriais.
Muitos grandes emissores provavelmente verão o CCS como algo além de sua competência central e, portanto, procurarão terceirizar o processo, disse Tarek Soliman, analista do HSBC, em relatório de 30 de junho. Podem ser capazes de “se conectar” a uma rede de movimentação de carbono como forma de capturar suas emissões. “O uso mais amplo de CO2 em indústrias de processo como insumo também pode facilitar um mercado onde a captura e distribuição de dióxido de carbono se torne um negócio lucrativo”, disse Soliman.
Embora o CCS deva desempenhar um papel fundamental no caminho para zerar as emissões, críticos dizem que a viabilidade da tecnologia em escala ainda não foi comprovada.
O cenário da própria Shell para manter o aquecimento global na faixa de 2 graus Celsius em relação aos níveis pré-industriais até 2070 diz que 10 mil grandes instalações precisam ser construídas nas próximas cinco décadas, em relação a menos de 50 em operação no ano passado.