Shein pode engolir varejo brasileiro após medida de Lula? Bradesco elenca 4 pontos de atenção
Desde ontem (19), consumidores da Shein passaram a usufruir da isenção do imposto de importação sobre compras internacionais de até US$ 50, conforme prevê o programa Remessa Conforme, no qual a varejista foi certificada na última semana.
Indo além, a Shein anunciou que irá arcar com o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) no lugar do consumidor que fizer compras de até US$ 50. Em seu site, a empresa promete “entregas mais rápidas e assumindo parte das despesas dos consumidores”.
Na avaliação de analistas do Bradesco BBI, a posição da Shein impacta varejistas nacionais presentes na bolsa, como Lojas Renner (LREN3).
“Em nossa opinião, o movimento do preço de LREN3 ontem (-5,4%) sugere de certa forma que os investidores não esperavam que a Shein absorvesse o impacto fiscal da Remessa Conforme, mantendo assim os preços como estavam antes e não prejudicando a formação de preços no setor de vestuário.”, avaliam.
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O impacto para Lojas Renner
Na avaliação do Bradesco BBI, o cenário atual é negativo para LREN3 e outros nomes do setor, visto que indica continuidade da concorrência acirrada.
“No futuro, a incerteza sobre a evolução destas dinâmicas competitivas continuará a pesar sobre as ações de vestuário, quer positiva, quer negativamente”, dizem. Neste sentido, a casa de análises mantém no radar alguns pontos de atenção:
- por quanto tempo estará a Shein disposta a sustentar a carga fiscal;
- se uma logística potencialmente mais rápida/barata poderia compensar o novo impacto fiscal negativo impacto sobre a Shein;
- se o Governo vai cobrar efetivamente um imposto de importação intermediário para plataformas transfronteiriças.
O BBI declara posição cautelosa com o setor de vestuário, considerando que as ações podem continuar a não responder essencialmente aos fundamentos, mas sim aos acontecimentos, como uma potencial revisão dos incentivos fiscais, um ambiente de consumo errático a curto prazo e a concorrência com nomes estrangeiros.
Neste cenário, não acreditam que Lojas Renner esteja imune a essas manchetes, que já estão, até certo ponto, precificadas, na avaliação da casa. Na sessão de ontem, a queda foi de -5,4% e -32% desde 29 de junho.
“No entanto, o valuation atualmente descontado (10x o múltiplo P/L para 2024) e as manchetes potencialmente negativas mais improváveis a partir de agora levam-nos a pensar que a assimetria agora deveria estar mais inclinado para cima”, pontuam.
Procurada pelo Money Times, a Renner não se manifestou até a publicação desta matéria. O espaço segue aberto para seu posicionamento.
Remessa Conforme
Há alguns meses, o fim da isenção do imposto de importação para remessas com valor de até US$ 50 entre pessoas físicas gerou polêmicas para o governo Lula e confusão entre os consumidores.
A questão é que não existia isenção para remessas enviadas por pessoas jurídicas (empresas como Shein, AliExpress e outros e-commerces estrangeiros). A isenção era apenas entre pessoas físicas, ou seja, voltada para situações em que, por exemplo, uma pessoa fora do país desejasse enviar um presente, de até US$ 50, para um amigo aqui no Brasil.
No entanto, o que o governo identificou foram fraudes relacionadas ao uso deste benefício que era exclusivo para pessoas físicas, com uma quantidade expressiva de remessas enviadas por um mesmo CPF para diversos destinatários. A partir disso que foi inicialmente anunciado o fim da isenção.
Com a repercussão negativa, o governo retrocedeu na decisão e a isenção voltou a ser válida entre pessoas físicas. Além disso, foi estruturado o Remessa Conforme, que entrou em vigor em 1º de agosto e regulamenta a isenção de até US$ 50 entre empresa e consumidor.
O programa prevê a isenção para os participantes no envio de remessas de até US$ 50 vindas de fora do país, com a cobrança de 17% de alíquota do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). Já os envios internacionais feitos por empresas fora do programa são taxados com alíquota de 60%.
Apenas duas companhias estão cadastradas até o momento, dessa forma, apenas a Sinerlog e AliExpress tiveram certificações emitidas e passam a de fato usufruir dos benefícios concedidos pelo programa.
Preços da Shein permanecem os mesmos?
O BBI mapeou as mudanças de preço dos cerca de 600 principais produtos da Shein nas 7 principais categorias de vestuário feminino na página de destino de cada uma desde 26 de julho e até a terça-feira (19), na tentativa de mapear o impacto da entrada efetiva de Shein na Remessa Conforme.
“Chegamos a uma dispersão de ticket médio amplamente estável para 4 categorias (cropped, camiseta , jeans e moletom) e aumento de ticket médio de 17% na semana nas outras três categorias (vestido, blazer, jaqueta)”, explicam
Neste sentido, a primeira vista, os analistas avaliam que Shein está absorvendo apenas parcialmente o efeito da nova carga tributária.