Setores Web 3.0 e NFT tiveram um ótimo segundo trimestre; confira panorama geral

No começo do ano, se alguém chegasse até a mim e dissesse que tokens não fungíveis (NFTs, na sigla em inglês) iriam ultrapassar US$ 1 bilhão em vendas, que GaryVee iria lançar um projeto NFT e Axie Infinity estaria entre os cinco principais mercados de NFT, eu teria respondido: “acreditarei em só um desses três”.

Porém, no trimestre passado (2T21), os cinco principais colecionáveis fizeram mais de US$ 750 milhões circularem pelo mercado, o marketplace da Axie gerou US$ 7,7 milhões em taxa e GaryVee já ganhou mas de um milhão em direitos autorais por seu projeto NFT. Vamos analisar melhor.

A bolha da bolha dos NFTs

A narrativa da mídia de que o mercado de NFTs morreu ou que sua bolha estourou é, sem dúvidas, equivocada. A imprensa focou bastante na arte e nos colecionáveis cripto (como NBA Top Shot), mas o amplo ecossistema de NFTs continua crescendo.

Na verdade, junho foi o melhor mês da plataforma OpenSea em termos de volume de vendas de NFTs.

O baixo desempenho da Rarible (em relação à OpeanSea) pode ser atribuído à falta de acesso da plataforma a algumas categorias que bombaram nas última semanas, incluindo avatares NFT, Art Blocks, artigos esportivos digitais e mundos virtuais.

OpenSea é um grande indicador do crescimento dos NFTs. Em junho, a OpenSea facilitou mais de 211 mil vendas de NFTs entre 40 mil investidores ativos.

Ao todo, junho foi o melhor mês da OpenSea em termos de volume de NFTs, de recorde de vendas de NFTs, além de ter sido o seu segundo melhor mês de investidores ativos.

Embora a OpenSea continue sendo a líder de mercado, Axie Infinity disparou durante o trimestre, tornando-se o quarto maior mercado de NFTs. Atomic Market — o principal marketplace para NFTs no blockchain WAX — agora está classificado em oitavo lugar dentre os mercados de NFTs.

O crescimento do Axie Infinity veio após a Fase Dois da migração do Ronin, seu sidechain — “blockchain paralelo” — conectado à Ethereum, que fornece taxas de gás — pagas a mineradores para a transmissão de bloco na Ethereum — menores e uma experiência mais simples para usuários.

Embora Axie possa ser negociado em outras plataformas, 97% de seu volume é movimentado no Axie Marketplace, que direciona as taxas (em AXS e ETH) ao Axie Treasury.

Agora, o Axie Treasury está avaliado em mais de US$ 21 milhões, em que 85% desse valor (ou US$ 18 milhões) foi acumulado no último trimestre por meio de taxas de negociação e da “criação” de Axis. Axie Infinity se destacou entre os jogos cripto e continua ascendendo.

O próximo grande marco será o lançamento de staking — aplicação de fundos para reforçar o comprometimento e a segurança da plataforma — de AXS no terceiro trimestre, bem como a fase alfa de seu mundo virtual, Lunacia, no quarto trimestre.

Avatares não serão os últimos NFTs

Talvez uma das tendências mais significativas ao longo do último trimestre foi a continuação dos projetos de avatares NFT. São colecionáveis especificamente criados para pessoas que desejam ter uma representação sua na internet (CryptoPunks).

Continuaram a crescer em popularidade conforme o crescente setor gerou quase US$ 350 milhões em vendas secundárias ao longo do segundo trimestre e quase US$ 600 milhões no primeiro semestre de 2021.

Na casa dos dez mil (o número mágico)

Assim como, em 2020, houve uma bifurcação (“fork”) com nomes de comida de cada grande protocolo de finanças descentralizadas (DeFi), enormes projetos NFT, como CryptoPunks, estão passando por uma onda de bifurcações parecida.

Grande parte desses projetos, lançados com características semelhantes às dos CryptoPunks, inclui um número próximo a 10 mil NFTs, características únicas entre cada NFT, com níveis diferentes de raridade e uma comunidade focada em promover o valor futuro de seu projeto de avatares:

– Meebits – 20 mil personagens em 3D, criados pelo Larva Labs (dos CryptoPunks), foram desenvolvidos para serem avatares em mundos virtuais. Investidores em CryptoPunks e Autoglyphs também têm direito a obter um Meebit de forma gratuita;

– Bored Ape Yacht Club (BYAC) – coleção de 10 mil NFTs de “primatas entediados”, com acesso ao “Swap Club”, um grupo só para membros.

– Bored Ape Kennel Club – animais de estimação dos primatas. Assim como Meebits, cada BAYC dá o direito de “adotar”, gratuitamente, um cachorro (pois cada primata precisa de um cachorro — eu acho);

– Wicked Craniums – coleção de 10.762 NFTs, em que cada crânio dá direito ao “The Cradle”, um grupo só para membros;

– Bulls on the Block – antigos membros do BAYC queriam criar uma carteira para vendas secundárias a fim de acumular valor à comunidade. Existem 10 mil touros, assim como na proposta do BAYC;

– My Fking Pickle – 10 mil picles autoexplicativos;

– Slumdog Billionaires – porque cada faceta do setor cripto precisa de mais 10 mil DOGEs.

Ficou bem evidente a intenção da equipe do Larva Labs com o Meebits. Já que os tokens podiam ser obtidos por investidores em Punks e Glyphs, Meebits acrescentou valor à comunidade existente do Larva Labs.

Isso cria a percepção de Meebits estarem conectados aos CryptoPunks — e a narrativa de valor dos ativos — em vez da percepção de desvalorizar o colecionável existente por um NFT novo e não correlacionado.

Além disso, Bored Apes geraram mais de US$ 60 milhões em vendas no segundo trimestre e, em termos de volume, estão classificados em terceiro lugar na lista de avatares NFT (atrás dos CryptoPunks e Meebits).

Porém, grande parte desses projetos de avatares NFT podem ter o mesmo destino que Hashmasks, um antigo projeto promissor de NFTs que, desde seu lançamento em fevereiro, só gerou US$ 2 milhões em vendas secundárias no trimestre passado.

O maior destaque dos avatares de NFT é que grande parte dessas comunidades são relativamente pequenas e os ativos são pertencentes a um número pequeno de pessoas.

Meebits possuem a maior base de investidores, apesar de só terem o dobro da quantidade (20 mil vs. 10 mil) em comparação a outros projetos.

Ainda assim, existe uma grande concentração em todos esses projetos, conforme indivíduos mais ricos, como Gary Vaynerchuk, que anunciou possuir 52 Punks e 54 Meebits.

Por fim, a posse concentrada ajuda a direcionar a narrativa de escassez, mas reduz o crescimento da comunidade, a menos que as pessoas vendam os ativos.

Conforme são lançados outros tipos de propriedade intelectual avatares de NFTs (pense em NFTs do Batman), então a demanda por avatares nativamente de cripto pode diminuir.

Recentemente, Genies — avatares NFT no blockchain Flow — arrecadaram US$ 65 milhões em uma rodada series B em maio e possui parcerias estabelecidas com diversas celebridades, incluindo Rihanna, Shawn Mendes e Cardi B.

É provável que esses tipos de NFTs chamem muito a atenção conforme suas respectivas estrelas vendem seus NFTs a fãs leais.

Avatares NFT são um setor emergente que irá enfrentar distribuições de lei exponencial: alguns valerão a pena enquanto outros valerão muito menos.

Dentre projetos de avatares nativos em cripto, CryptoPunks estão bem-estabelecidos e, provavelmente, continuarão sendo o padrão de grandes projetos de NFTs enquanto outros projetos tentam aumentar sua adesão por conta de um influxo de celebridades e projetos de avatares de propriedade intelectual.

Adesão da Web 3.0 atinge um ponto crítico

A proliferação da Web 3.0 é muito aguardada, mas falhou em se manifestar por conta de uma necessidade de infraestrutura para computação, indexação, gestão de dados, hospedagem, armazenamento e outros serviços vitais.

Porém, após muitos anos de desenvolvimento e crescimento contínuo, muitos protocolos Web 3.0 estão começando a progredir.

Camadas de software intermediário (“middleware”), que estão sendo desenvolvidas há anos, agora estão encontrando seu encaixe no mercado.

Livepeer, mercado para fornecedores de infraestrutura e vídeo e aplicações de streaming, está processando milhões de vídeos por semana e gerando milhares de dólares em receita pela taxa de protocolo.

The Graph oficialmente migrou para sua rede principal onde implementou subgrafos de diversos protocolos e, agora, está gerando milhares de dólares por semana em taxas.

O mercado de dados do Ocean Protocol — que permite que pessoas emitam conjuntos de dados como pools de liquidez do Balancer — possui um valor total bloqueado de US$ 3,3 milhões em mais de 419 pools de dados.

Redes de armazenamento de arquivos e dados também continuam a obter adesão:

– dados armazenados no Arweave aumentaram mais 1,8 terabytes (TB);

– capacidade de armazenamento usado na Sia atingiu uma alta recorde de 1,19 petabytes (PB), com uma capacidade de 3,25 PB;

– o total de dados armazenados na Filecoin agora excede os 23 PB.

Protocolos de Web 3.0, como Handshake, estão passando por um crescente uso, com quase 1,5 milhões endereços de domínios Namebase registrados e mais de 100 mil domínios Handshake sendo utilizados atualmente.

A rede Helium acrescenta milhares de nós por semana, resultando em 147 bilhões de créditos de dados gastos (o equivalente a cerca de 3,5 mil GBs) em receita líquida total de mais de US$ 1,4 milhão (grande parte é usada para acrescentar novos pontos de acesso de internet, ou “hotspots”).

Ainda assim, embora muitos componentes individuais da Web 3.0 estejam prontos para terem sucesso, todo o setor ainda precisa encontrar uma forma de interoperar com DeFi, NFTs ou outros protocolos Web 3.0.

Web 3.0 não é mais um pontinho brilhante num futuro distante. O setor está se unindo e as estrelas estão se alinhando.

NFTs de celebridades, influenciadores e marcas

Odeie-o e tente escapar dele, mas o destino chega de qualquer forma.

Conforme celebridades como GaryVee se aprofundam nas águas de cripto, o risco de entrada para outras celebridades e influenciadores diminui.

Gary Vaynerchuk — mais comumente chamado de GaryVee — está entrando para a indústria cripto com seu novo projeto NFT: VeeFriends.

Desde seu lançamento em maio, o projeto NFT/experimento de monetização de marca teve bastante sucesso ao gerar mais de US$ 11 milhões em vendas secundárias no trimestre.

Além disso, artistas renomados, como Jay-Z, estão entrando para cripto. O artista está usando um CryptoPunk como sua imagem de perfil no Twitter.

É importante mencionar que o magnata do rap realizou um leilão da Sotheby’s de “Heir to the Throne” (ou “herdeiro ao trono”, em português), uma coleção de NFTs, em homenagem ao seu álbum de estreia, comprada por US$ 139 mil.

Músicos que tiveram problemas ao monetizarem seu trabalho (exceto por meio de shows) se tornaram os pioneiros dos testes com NFTs. Yellow Heart — mercado de ingressos em NFT — já desenvolveu e emitiu coleções de NFTs com Maroon 5 e Kings of Leon, com benefícios adicionais, como assentos na primeira fila, acesso a uma “listening party” — em que a banda e os fãs se reúnem para ouvir e comentar o novo projeto —, retratos que acompanham melhor os álbuns e mais.

Se as pessoas estão capitalizando na monetização de marca via NFTs, grandes marcas conhecidas não vão ficar para trás. Recentemente, o Twitter lançou a “Twitter 140 collection” na plataforma Rarible, um conjunto de NFTs que abrange a história e a cultura pop do Twitter.

Encerramento do segundo trimestre

Às vezes, um trimestre passa quase despercebido. Outras vezes, um trimestre passa por tendências de alta. Para Web 3.0, o trimestre esteve no meio-termo. O setor passou por grandes crescimentos e atingiu alguns marcos históricos mas, em geral, tenderam para cima.

Entre os NFTs, o trimestre foi mais calmo depois de uma perspectiva de consumo em massa, mas não de uma referência analítica. Vendas da arte caíram, mas especuladores de NFTs migraram para pastos mais verdes (como sempre fizeram).

Ainda assim, o setor de NFTs continua se expandindo, se diversificando em novos terrenos que ainda precisam ser explorados, apesar de isso indicar que teremos de deixar celebridades entrarem pelos portões do OpenSea.

Não sabemos o que o terceiro trimestre nos aguarda mas, se essas tendências continuarem neste segundo semestre, será espetacular para aqueles que se importam com a adesão da Web 3.0 e dos NFTs.